Portugal pode eleger presidente no primeiro turno neste domingo

Portugal vai às urnas no próximo domingo (24) eleger o seu novo presidente e esta sexta-feira (22) é o último dia de campanha eleitoral. Desde o fim da ditadura de Salazar, nunca uma eleição presidencial contou com tantos candidatos: no total são 10, entre eles, 2 mulheres. Segundo as últimas pesquisas, um dos candidatos, o comentarista político Marcelo Rebelo de Sousa, que tem 55% das intenções de voto, pode sair vencedor já no primeiro turno.

O candidato Marcelo Rebelo de Sousa lidera as intenções de voto para as eleições presidencias neste domingo (24) em Portugual. REUTERS/Rafael Marchante

Adriana Niemeyer, correspondente da RFI em Lisboa

Apesar de o país ter ficado mais de 50 dias à espera da formação de um novo governo liderado pelos premiê socialista António Costa, apoiado pelo Bloco de Esquerda e Comunistas, e a proximidade com as eleições legislativas, há uma mobilização considerável para as eleições presidênciais em Portugal.

Dez candidatos disputam o cargo de presidente da República, que no sistema parlamentar português tem poucos poderes. Porém, o cargo sempre foi visto como uma função de extrema confiança, no qual os eleitos são geralmente pessoas mais velhas e com uma carreira poítica consolidada.

Desta vez, somente dois deles, o candidato de centro-direita Marcelo Rebelo de Sousa, que foi secretário geral do PSD, e uma das candidatas socialistas, Maria de Belém, que também foi dirigente partidária, poderiam se encaixar nesse modelo. A jovem Marisa Matias, do Bloco de Esquerda, que aparece em 4º lugar nas pesquisas, é deputada europeia, mas os demais não tiveram cargos políticos de peso.

O segundo candidato que aparece com mais intenção de votos, Sampaio da Novoa, não tem uma grande carreira política, mas foi reitor da Universidade de Lisboa e conta com apoio de boa parte dos socialistas, principalmente daqueles que formam o atual governo.

Duas mulheres candidatas

A candidatura de duas mulheres, Maria de Belém e Marisa Matias, é uma novidade na política portuguesa. Segundo a pesquisadora da Universidade Lusófona, Carla Martins, esse é um momento de “transformação política”.

Segundo ela, houve um grande avanço no cenário já que tanto Maria de Belém quanto Marisa Matias usaram a estratégia de ser “candidatas mulheres e feministas, defensoras de uma agenda de igualdade”. Ou seja, para a pesquisadora, a palavra “feminista” já não cria medo e essa é a grande mudança na mentalidade portuguesa.

Entretanto, ambas candidatas tem pouca chance de chegar ao segundo turno. Maria de Belém tem com 13% das intenções de voto, enquanto que Marisa Matias contabiliza apenas 5%.

Candidato pode se eleger já no primeiro turno

Em outras duas pesquisas apresentadas nesta quinta-feira (21), Marcelo Rebelo de Sousa obteria a maioria dos votos, 51,8% e 52%, suficientes para dispensar um segundo turno. Contudo, este resultado se encontra dentro da margem de erro 3%, o que indica que a vitória não está garantida.

O antigo líder do PSD perdeu 10 pontos percentuais em relação ao resultados da pesquisa feita em dezembro, ainda antes da campanha eleitoral. Já o ex-reitor Sampaio da Nóvoa, que subiu sete pontos percentuais, contabiliza 22% das intenções de voto.

Segundo esta mesma pesquisa, 23% dos eleitores estão indecisos e os simpatizantes da esquerda poderão votar em Nóvoa para que haja um segundo turno. Em caso de vitória do candidato de centro-direita, a tradição do governo português de ter premiê e presidente de orientações políticas opostas terá continuidade.

Racha na esquerda

A divisão da esquerda tem beneficiado muito o candidato de centro-direita. Todos eles se apresentam como independentes. Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa dividem os apoios entre os socialistas. Mesmo que Marcelo Rebelo de Sousa seja o único candidato de direita, ele tem apoio parcial do seu partido, já que o atual secretário do PSD, o ex-premiê Passos Coelho é contrário a sua candidatura.

Mas Marcelo Rebelo de Sousa goza de uma grande simpatia do eleitorado português, que já é familiarizado com sua imagem. Por mais de dez anos, ele tinha uma crônica de política, cultura e sociedade na televisão portuguesa. Suas opiniões eram admiradas por muitos seguidores. Os jornais de segunda-feira chegavam a publicar um resumo dos assuntos comentados por ele no dia anterior.