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Grécia/zona do euro

Divergências sobre a crise na Grécia colocam Hollande e Merkel em pé de guerra

Tudo ia bem entre Paris e Berlim, que compartilhavam a mesma posição sobre a crise na Grécia, até o início desta semana. Com o fim do prazo para Atenas pagar a parcela da dívida de € 1,6 bilhão ao FMI, na terça-feira (30), a chanceler Angela Merkel manteve a atitude inflexível e não descartou a saída da Grécia da zona do euro. Já o presidente François Hollande abrandou o discurso com os gregos e alfinetou a líder alemã, dando início a um possível divórcio entre o casal mais poderoso da Europa. A análise é publicada pela edição desta sexta-feira (3) do jornal Le Monde.

O presidente francês, François Hollande, e a chanceler alemã, Angela Merkel, durante a conferência de Diálogo de Petersberg Clima, em Berlim, no 19 de maio de 2015.
O presidente francês, François Hollande, e a chanceler alemã, Angela Merkel, durante a conferência de Diálogo de Petersberg Clima, em Berlim, no 19 de maio de 2015. REUTERS/Tobias Schwarz/Pool
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A semana começou tensa na Europa, diz a matéria do diário francês. A poucas horas para o fim do prazo concedido para a Grécia quitar uma parcela da dívida, o ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, confessava que o país não tinha outra saída a não ser dar o esperado calote. Enquanto isso, Hollande, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, se desdobravam para encontrar uma "solução de última hora".

Do mesmo lado do front, Merkel reclamava não ter sido informada sobre a nova proposta: "a última oferta da Comissão Europeia que conheço é a de sexta-feira, sobre a qual não tenho mais nada a dizer". Um pouco mais tarde, depois que a Grécia propôs aos credores fechar um contrato de dois anos com o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) e renegociar a dívida, a chanceler endureceu ainda mais o tom. Para ela, de nada valia debater "a qualquer custo" um novo pedido de ajuda de Atenas antes do referendo do domingo.

As declarações da líder alemã irritaram Hollande. Para o presidente francês, é inadmissível que o bloco se recuse a discutir sobre um acordo com a Grécia e aceite desmembrar a zona do euro. "Acho que devemos sempre procurar o compromisso, a negociação, a razão. É preciso que todos estejam convencidos disso. A França está lutando. Ela não está em clima de veto e de brutalidade", declarou, em uma crítica explícita à Merkel. Mas, segundo o Eliseu, os propósitos seriam tanto dirigidos à chanceler quanto ao primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras.

Eliseu minimiza divergências

Próximos de Hollande tentam minimizar as divergências entre o casal franco-alemão. "A França é coerente com seu papel desde o início da crise. Paris tentou manter o elo entre Atenas e os credores e estimular a pluralidade no Eurogrupo", disse uma fonte diplomática ao jornal Le Monde. "Os alemães só querem falar sobre a lista das reformas a serem aplicadas pela Grécia, os gregos só querem tratar da dívida. E nós estamos entre os dois", explicou.

Apesar da tentativa do Eliseu de abafar as diferenças entre Hollande e Merkel, na prática, as posições se mostram cada vez mais opostas. Nesta quarta-feira (1°), dezenas de personalidades assinaram uma coluna na revista de esquerda francesa Marianne, intitulada "Salvar a Grécia é salvar a Europa". Entre os apoiadores do texto, estão o presidente da Assembleia Nacional da França, Claude Bartolone, o chefe do Partido Socialista, Jean-Christophe Cambadélis, e os deputados Benoît Hamon e Christian Paul.

Complô contra a Europa

Para os alemães, está claro que Tsipras não é mais digno de confiança, como frisou recentemente o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schauble. Berlim, aliás, tem certeza de que o premiê grego prepara um complô contra o bloco. "Politicamente e ideologicamente, Tsipras quer uma outra zona do euro. Estou convicto de que ela estaria em perigo se nos submetermos a essa pressão. No final, toda a zona do euro se tornaria instável e fracassaria", acredita o presidente do partido social-democrata alemão e vice-chanceler, Sigmar Gabriel.

Há meses, inclusive, Merkel deixou de citar uma frase martelada no início das discussões sobre a dívida grega: "Onde existe vontade, existe um caminho". Com a vontade esgotada, a líder se apoia na ideia da supremacia da Europa. Para ela, não há urgência em salvar Atenas porque uma possível saída dos gregos da zona do euro não prejudicaria o bloco. "Podemos esperar tranquilamente. A Europa é forte", afirmou ontem a líder diante do Bundestag, o Parlamnto alemão.

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