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Espanha/ história

Morre Adolfo Suárez, primeiro chefe de Governo da Espanha democrática

Adolfo Suárez, o primeiro chefe de Governo espanhol depois do fim da ditadura de Francisco Franco, morreu neste domingo (23), em uma clínica de Madri. O ex-líder, amigo do rei João Carlos, governou de 1976 a 1981 e era uma das figuras emblemáticas da transição democrática espanhola.

Adolfo Suárez, em foto de 1996.
Adolfo Suárez, em foto de 1996. REUTERS/Eloy Alonso
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O estado de saúde de Adolfo Suárez, de 81 anos, que sofria de mal de Alzheimer e estava hospitalizado desde segunda-feira em Madri, por uma infecção respiratória, se agravou na sexta-feira. O filho dele, Adolfo Suárez Illana, havia anunciado ontem que a morte era iminente, e neste domingo um porta-voz da família comunicou o falecimento.

Em uma mensagem na televisão, o rei da Espanha, João Carlos, homenageou “um colaborador excepcional”, “guiado a cada instante pela lealdade à coroa e a tudo que ela representa, a defesa da democracia, o Estado de Direito, a unidade e a diversidade da Espanha”.

O país já se preparava para um luto nacional, com cerimônias funerárias de Estado para o homem que, ao lado do rei João Carlos, foi uma peça-chave para a delicada transição política após a morte de Franco, em 1975. Nos últimos dias, diversas personalidades do país, de todas as correntes políticas, já prestavam homenagens à trajetória de Suárez.

“O rei esteve presente todos os dias nestes últimos 11 anos”, quando foi descoberta a doença do ex-chefe de Governo, declarou o Adolfo Suárez Illana na última sexta-feira. “Estes últimos dias foram felizes. Ele nos deu mais sorrisos do que durante os últimos cinco anos”, havia dito. Segundo o filho do líder, Suárez não lembrava mais que havia comandado a transição democrática no país.

Também o atual chefe de Governo, Mariano Rajoy, destacou a memória de “um homem de concórdia, que tornou a democracia possível e soube abrir à Espanha as portas da Europa”. “Nós vivemos um dia de tristeza, mas também de homenagens a este que é uma das figuras mais importantes e mais positivas da nossa história”, declarou.

Trajetória franquista e democrática

Filho de um republicano e de origem modesta, Suárez era graduado em Direito e, sob o regime franquista, governou a província de Segóvia, no centro da Espanha, e foi diretor-geral da rádio e televisão pública no início dos anos 70. Em 1975, ele foi nomeado secretário-adjunto do “Movimento”, um grupo de inspiração fascista ao qual pertenciam o único partido e sindicato durante o regime.

Coroado em 22 de novembro de 1975, dois dias depois do falecimento de Franco, o rei Juan Carlos manteve interinamente no poder o franquista Carlos Arias Navarro, durante alguns meses. Mas o talento reconhecido de político conciliador, o carisma e a popularidade, mas também as posições monarquistas de Suárez levaram o rei a designá-lo chefe de Governo no ano seguinte, aos 44 anos.

Em 1977, o mandato de Suárez foi ratificado pelas urnas, nas primeiras eleições democráticas, em 15 de junho. Durante seu governo, foram realizadas as principais reformas para que a Espanha se tornasse uma democracia, como a legalização dos partidos políticos - incluindo o Partido Comunista -, a anistia aos presos políticos e a redação de Constituição e sua aprovação por referendo, em 1978. A postura moderada do líder foi essencial para colocar os partidos, recém criados, em acordo sobre a redação da nova Carta Magna.

Suárez se tornou, assim, uma das figuras mais emblemáticas do delicado período de transição, que permitiu à Espanha virar a página de uma ditadura iniciada em 1939, e após três anos de guerra civil. A partir de 1979, ano de sua segunda vitória eleitoral, começou a perder força, devido a problemas com seu partido, à crise econômica, à agitação militar, à tensão ligada à autonomia das regiões espanholas, e aos atentados da organização separatista armada basca ETA.

Fim da vida política

Essas dificuldades, às quais se somou a retirada do apoio do rei, levaram-no a uma renúncia surpreendente em janeiro de 1981, dias antes da tentativa de golpe de Estado de 23 de fevereiro, aplacada pelo monarca. Suárez ainda se candidatou às eleições de 1982, comandando um novo partido centrista, o Centro Democrático e Social, mas perdeu o pleito para o socialista Felipe Gonzalez. Depois disso, o centro acabou se fragmentando até acabar.

Desde a descoberta do mal de Alzheimer, há mais de uma década, o ex-dirigente mantinha uma vida reservada.

 

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