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Reino Unido/ Margaret Thatcher

"Cameron é discípulo de Margaret Thatcher", diz especialista

Mesmo após ter saído do poder em 1990, as ideias defendidas pela ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher continuaram tendo grande influência na política econômica dentro e fora da Grã-Bretanha. Exemplo disso é o atual primeiro-ministro David Cameron, seguidor de alguns de seus princípios, e a América Latina, que durante os anos 1980 espelhou-se no modelo neoliberal. Para falar sobre o legado deixado pela Dama de Ferro, morta nesta segunda-feira (8) aos 87 anos, a RFI entrevistou o cientista político Anthony Pereira, diretor do Instituto Brasil do Kings College de Londres.

A Dama de Ferro, Margaret Thatcher, morre aos 87 anos
A Dama de Ferro, Margaret Thatcher, morre aos 87 anos REUTERS/Andy Clark/Files
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Figura controversa, a ex-primeira-ministra divide opiniões. Na Grã-Bretanha, que durante seu governo conheceu elevados índices de desemprego e baixas taxas de inflação, ela é dona de uma legião de fervorosos defensores e detratores. Por isso, Pereira avalia que a herança política da ex-governante é vista de forma mais positiva fora do país do que dentro. "No exterior ela mostrou as vantagens e oportunidades do neoliberalismo, assim como as limitações e os perigos de uma posição extrema em relação ao mercado", afirmou o professor. Exemplo do posicionamento da Dama de Ferro, segundo ele, é a emblemática frase: "Não existe essa coisa de sociedade, o que há e sempre haverá são indivíduos".

Parte da juventude que cresceu durante o longo mandato de Thatcher -- ela ocupou o cargo de primeira-ministra de 1979 a 1990 -- o atual primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, foi influenciado por suas ideias. O professor do Kings College de Londres avalia que o atual primeiro-ministro do Reino Unido é, de certa forma, um discípulo de Thatcher. Tanto que chegou a ponto de reformular a famosa máxima de sua predecessora, dizendo que "existe, sim, uma sociedade, mas acontece que ela é diferente do estado", numa clara referência às políticas de austeridade preconizadas por lady Thatcher, às quais teve que recorrer recentemente, ainda que de forma tímida.

Para Pereira, as recentes declarações de Cameron sobre as Ilhas Malvinas, dizendo que fará de tudo para defender a cidadania britânica dos habitantes do arquipélago, não deixam dúvidas sobre a influência que as ideias da ex-primeira-ministra têm em seu governo. O cientista político recorda que, ironicamente, Margaret Thatcher disse certa vez que sua grande herança era o "novo" partido trabalhista, que fazia oposição a ela e que adotou algumas de suas políticas econômicas ao chegar ao poder com Tony Blair. "Então o legado dela é realmente muito forte".

Influência controversa

Para o especialista, a política defendida por Margaret Thatcher teve impacto na America Latina, especialmente nos anos 1980. Ao lado do então presidente norte-americano Ronald Reagan, ela apresentou o modelo neoliberal de governar para o mundo e para os países da América Latina. "Thatcher influenciou bastante o continente latino-americano, especialmente durante a onda de reformas que aconteceu nessa década", disse.

Nos primórdios do que viria a ser a União Europeia, Margaret Thatcher lutou contra a construção da então Comunidade Econômica Europeia, negociando de maneira ferrenha para que a Grã-Bretanha obtivesse alguns privilégios. Segundo Pereira, o atual primeiro-ministro britânico, David Cameron, está tentando adotar uma estratégia semelhante: ficar na União Europeia, mas obter algumas posições distintas. "A lógica do Reino Unido para a comunidade é se beneficiar do que ela pode trazer de positivo mas não arcar com os problemas que ela pressupõe", ponderou, lembrando que a Grã-Bretanha está na União Europeia, mas não adota a moeda única. "Mesmo assim o Reino Unido não ficou imune à crise econômica, já que metade de suas exportações vai para os países do bloco europeu".

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