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Esporte em foco

Atletas brasileiros contam como driblaram calor extremo no Mundial de Atletismo de Doha

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Temperaturas exteriores que chegaram aos 40°C e uma umidade relativa do ar próxima a 60%. As condições metereológicas do Campeonato Mundial de Atletismo de Doha, no Qatar, que terminou neste domingo (6), deixaram a desejar para a maioria dos atletas, sobretudo os europeus, acostumados a competir em condições climáticas menos extremas. Os atletas brasileiros Erica de Sena e Caio Bonfim contaram com exclusividade à RFI como reagiram ao calor da região, que coloca em xeque, na opinião de alguns especialistas, a realização da Copa do Mundo do Qatar.

Caio Bonfim competiu na marcha atlética de 20 km em Doha.
Caio Bonfim competiu na marcha atlética de 20 km em Doha. Arquivo Pessoal
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As imagens são impressionantes: os atletas sofrem e, quando não abandonam as provas por causa do calor, conseguem índices bem abaixo do seu rendimento normal. As situações extremas testaram a resistência dos atletas, como explicou à RFI a atleta pernambucana Erica de Sena, bronze no Pan Americano de Lima, que quase chegou ao pódio em Doha com um quarto lugar honroso na marcha atlética de 20 km.

"Realmente, quando cheguei aqui em Doha, foi um susto muito grande. Eu já sabia que estaria quente, mas a gente não imagina o quão quente pode estar, ou a sensação térmica como vai ser. No início da prova, parece que não vai afetar em nada seu rendimento, mas, no final, seu corpo não reage mais ou estímulo que você quer dar", conta a atleta.

Mesmo se o estádio em Doha era climatizado, com temperaturas mais amenas do que as exteriores, a maioria dos atletas temia a possibilidade de choques térmicos. Nas provas de rua, sem ar condicionado, as condições testaram os limites de atletas habituados a competições internacionais de alto nível.

"Você começa a se sentir pesada, e aquela sensação boa no início da prova você já não tem mais, então seu comportamento muda durante a competição", relata. "Foi totalmente diferente, eu já havia participado de provas em climas diferentes, só que a umidade aqui, apesar da minha prova ter sido de noite, não te deixa transpirar. Você sente o ar quente, mesmo de madrugada", diz.

A atleta acredita que o clima possa ter tido uma incidência direta sobre o resultado das competições."É como eu falo: o clima é para todo mundo. Todas as atletas sentiram a mesma coisa. O nosso resultado foi muito inferior ao que a gente faz nas grandes competições. O clima pesou para todo mundo. Tem pessoas que sentem mais dificuldades, tem gente que sente dificuldade até em respirar", conta Erica de Sena.

"Mas no meu caso eu consegui fazer treinos de adaptação ao calor, apesar da cidade onde fiz esses treinos não se compara em nada ao calor de Doha. Mas isso me ajudou a me aproximar da sensação que eu teria aqui", diz a atleta.

Doha X Brasil

O brasileiro Caio Bonfim, que disputou a marcha atlética de 20 km, compara o calor de Doha com o do Brasil. "É um pouco diferente, é um pouco mais abafado. Parece aquele clima de efeito estufa, pesado, com calor. Sinto que aqui é um pouco mais abafado. É claro que deve existir algum clima como esse em algum lugar do Brasil, mas nunca competi num lugar assim. Como a Olimpíada no Rio foi no mês de agosto, quando não é muito calor, a gente esperava até que estivesse mais quente", lembra. "Agora, a gente que vem de um país tropical, no Brasil, a gente está mais familiarizado com o clima em Doha", diz.

Caio, que esteve em seu quinto Mundial de Atletismo, lembrou da dificuldade dos atletas com a temperatura. "A gente vê que alguns atletas sofreram, como na marcha atlética feminina. Houve desistências de grandes atletas nos 50 km masculinos, como foi o caso do francês [Yohann Diniz], campeão mundial em Londres 2017, que sentiu bastante, um grande atleta", disse Bonfim, em entrevista à RFI, direto de Doha.

Campeonato do Mundo de Atletismo - Doha 2019 - Corrida masculina de 50 km - Doha, Qatar - 29 de setembro de 2019 Yohann Diniz, da França
Campeonato do Mundo de Atletismo - Doha 2019 - Corrida masculina de 50 km - Doha, Qatar - 29 de setembro de 2019 Yohann Diniz, da França REUTERS/Aleksandra Szmigiel

Muitos atletas estrangeiros sofreram com o excesso de calor e a umidade neste Mundial de Atletismo em Doha. Yohann Diniz, campeão mundial de marcha atlética, abandonou a disputa pelo ouro no 16° quilômetro, muito antes de cruzar a linha final dos 50 km e garantir o bicampeonato, após uma hora e 20 minutos de percurso. Já nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, Diniz havia sofrido com o calor e chegou a desmaiar em plena marcha. Desta vez, sob o calor sufocante de Doha, ele preferiu parar antes, quase no final de suas forças.

"Minha cabeça doía, assim como minhas pernas. Tenho a impressão que eu marchava bem rápido, mas não conseguia respirar direito. Na verdade, eu não avançava, minhas pernas não respondiam e a respiração estava ruim. Eu me asfixiei rápido", relatou.

"Eu estava motivado no início para defender meu título mundial, mas fiquei sem pernas e abandonei após 16 quilômetros. Talvez esse clima não seja feito para mim. Consegui completar a prova uma vez em Osaka, veremos...", reiterou o campeão. 

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