Acessar o conteúdo principal
Esporte em foco

Tocha olímpica tem desafio de unir o país em plena turbulência política

Publicado em:

Ela chegou pelo ar e vai percorrer, durante mais de três meses, estradas, rios, ruas e paisagens por todo o Brasil até o dia 4 de agosto, quando chegará ao seu destino final: o Rio de Janeiro. Um dos maiores símbolos dos Jogos, a tocha olímpica tem a missão de difundir os valores do esporte e anunciar a chegada do evento. No Brasil, ela desembarcou com toda a pompa em Brasília na terça-feira (3), depois da tradicional cerimônia realizada em Olímpia, na Grécia, berço das primeiras Olimpíadas da Era Moderna.

Revezamento da Tocha Olímpica em  Corumbá de Goiás
Revezamento da Tocha Olímpica em Corumbá de Goiás Marcelo Camargo/ Agência Brasil
Publicidade

Em uma cerimônia de boas-vindas no Palácio do Planalto, que pode ter sido um dos últimos atos oficiais de Dilma Rousseff caso seja mesmo afastada do poder, a presidente cometeu uma gafe ao dizer que pela primeira vez as Olimpíadas vão acontecer em um país da América Latina. Na verdade, o México já sediou os Jogos em 1968.

Em seu discurso, Dilma fez referência ao clima de instabilidade política, e disse que apesar do momento muito difícil e crítico, o Brasil saberá fazer uma grande recepção para os atletas e visitantes. E pediu união para um país que se encontra dividido. “Vamos contaminar a nossa nação com o espírito olímpico e envolver todo o povo brasileiro nesta oportunidade histórica de sediar as Olimpíadas e Paraolimpíadas”, disse Dilma.

A pouco menos de 100 dias do início das Olimpíadas, que tem início em 5 de agosto, o percurso de mais de 36 mil quilômetros da tocha ganhou um simbolismo particular: envolver o país com um dos eventos esportivos mais badalados do planeta, que, pelo menos por enquanto, tem sido ofuscado pela grave turbulência política do país. O próprio presidente do COI, Thomas Bach, afirmou antes do embarque da tocha para o Brasil, que espera respeito dos brasileiros pela tocha. Bach lembrou que a chama é símbolo de tolerância, de não discriminação e não tem posições políticas.

Na saída pela rampa do Planalto, entre aplausos e euforia, grupos aproveitaram o clima em torno da tocha olímpica para manifestar, por meio de cartazes escritos em diversas línguas, sobre o pedido de destituição da presidente. Grupos pró e anti-governo protestaram e chegaram a entrar em confronto com a polícia.

“Se a gente for olhar para a história, a tocha tinha a missão de conclamar trégua e avisar que os jogos estavam chegando. Aqui não é diferente. Mas o que queremos fazer é mostrar a diversidade do povo brasileiro e para os próprios brasileiros, histórias maravilhosas”, diz Leonardo Caetano, diretor de cerimônias e do revezamento da tocha olímpica.

Festa nas ruas

Os protestos em Brasília não mudaram a rota nem a programação. Da rampa do Planalto, a tocha ganhou as ruas da capital federal pelas mãos da jogadora de vôlei e bicampeã olímpica Fabiana Claudino, primeira atleta a conduzir a chama pelos caminhos do país. Do Distrito Federal, seguiu pelo interior de Goiás para, na sequência, viajar por todos os estados do Brasil.

Passagem da Tocha Olímpica por Goiás Velho
Passagem da Tocha Olímpica por Goiás Velho Ivo Lima/ ME

Crianças nas ruas, índios, atletas, artistas, personalidades públicas e anônimos mostraram entusiasmo com a passagem de um objeto tão carregado de simbolismo. A criatividade e a espontaneidade do brasileiro são um espetáculo à parte. Depois de descer de rapel no estádio Mané Garrincha, em Brasília, a tocha já andou de teleférico, foi levada em carroça puxada por bois e até subiu de balão no céu de Pirinópolis.

Nos primeiros dias, não houve incidentes, segundo a organização do revezamento, que também não demonstra preocupação com eventuais protestos políticos que possam surgir pelo caminho. “A gente vive em um estado democrático de direito. Manifestações são permitidas e apreciadas. Não temos relação com elas. A gente não pode e nem experimentou nenhuma manifestação que vise atrapalhar. Se as pessoas quiserem se manifestar não tem nenhum problema, mas esse não é o tema. A maioria das pessoas vem para um congraçamento”, afirma Leonardo.

“Eu diria que quase 99% das pessoas estão ali para isso. Vai ter uma manifestação em algum lugar ou outro, e isso não vai mudar em nada o revezamento. Para mim não é uma grande preocupação”, garante.

Engajamento da população

Leonardo aposta que a passagem da tocha por mais de 300 municípios brasileiros vai ser um momento de confraternização em torno de um momento histórico. As imagens têm sido fartamente acompanhadas e divulgadas pelas redes sociais, mas com o foco da população voltado para Brasília, diante dos desdobramentos da crise, as Olimpíadas parecem muito distantes para os brasileiros. O percurso visa envolver cada brasileiro com os Jogos, participando no revezamento ou simplesmente para prestigiar a presença da tocha por sua cidade e região.

Passagem da Tocha Olímpica por Goiás Velho
Passagem da Tocha Olímpica por Goiás Velho Ivo Lima/ ME

“O nosso maior desafio é de engajamento das pessoas porque qualquer coisa que aconteça tira um pouco da atenção, mas queremos trazer as pessoas para entenderem que estamos vivendo um período especial da nossa história que é organizar as Olimpíadas”, afirma Leonardo.

“Obviamente quando você tem mais assuntos ocupando espaço na mídia, você acaba tendo menos espaço. Mas a gente vai em um crescente. Do ponto de vista de participação local, popular, a gente está muito satisfeito, não podia ser melhor e isso vai contagiando as pessoas. É uma questão de tempo para conquistar espaço nos meios de comunicação porque as histórias são muito boas. O início é sempre novo, mas as histórias são maravilhosas e quem puder, deve ver na prática a loucura que é isso”, conclui.

 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.