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G20 faz cúpula para coordenar resposta à Covid-19 e atenuar impacto nos emergentes

Os dirigentes do G20 realizam uma cúpula virtual de emergência nesta quinta-feira (26), sob a presidência da Arábia Saudita, para coordenar uma resposta à pandemia do coronavírus. A crise sanitária ameaça a economia mundial de uma recessão prolongada.

A reunião extradordinária do G20, realizada por videoconferência, será presidida pela Arábia Saudita.
A reunião extradordinária do G20, realizada por videoconferência, será presidida pela Arábia Saudita. AFP/Archivos
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Dominique Baillard, da editoria de Economia da RFI

O encontro de líderes das vinte maiores economias mundiais ocorre em um momento no qual a Covid-19 já deixou mais de 21 mil mortos e colocou em confinamento 3 bilhões de pessoas em todo o planeta.

A agência de notação financeira S&P prevê uma recessão de -2% na zona do euro e no Reino Unido neste ano. "Os Estados deverão tomar decisões rápidas e corajosas para apoiar a retomada no segundo semestre", diz um comunicado da S&P divulgado nesta quinta-feira.

Ontem, a Moody’s havia advertido que as economias do G20 devem entrar em recessão, com uma contração de 0,5 % do PIB neste ano. Nos Estados Unidos, a retração será de -2% e na zona do euro de -2,2%, segundo as projeções da Moody's.

Em um informe divulgado nesta quinta-feira, o Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos da França (Insee) estima que o país acumula uma perda de atividade de cerca de 35%, desde o confinamento dos franceses iniciado no dia 17 de março. A baixa atinge vários setores e já significa o pior momento da economia francesa desde a crise financeira de 2008.

Em uma mensagem de vídeo, o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevêdo, previu uma retração econômica de "impacto enorme". Ele disse, entretanto, que ainda não há meios de estabelecer projeções concretas para mensurar o declínio da atividade global. Os planos de estímulo anunciados pelos países avançados são fundamentais para restabelecer a retomada econômica a longo prazo, enfatizou o diretor-geral da OMC.

Emergentes vão sofrer impacto maior

Todos os países sofrerão, mas as perdas para os países emergentes serão mais dramáticas. De acordo com a previsão do banco JP Morgan, a Turquia pode ver seu PIB cair 17%, enquanto a produção de riquezas no México pode despencar 15%. Esses dois países já estavam enfrentando uma desaceleração acentuada antes do aparecimento do coronavírus. Essa perspectiva também se aplica à Índia, ao Brasil e à África do Sul. Todos enfrentam a crise sanitária da Covid-19 em uma situação de fragilidade econômica anterior à pandemia.

O coronavírus priva os países emergentes de suas principais fontes de receita: as exportações. As nações produtoras de petróleo e metais, da África do Sul à Argélia e o Chile, sofrem com a queda na demanda e nos preços das matérias-primas causadas pela paralisia da China e pela guerra do petróleo iniciada pela Arábia Saudita.

A segunda calamidade para os países emergentes é a interrupção das viagens, que provoca uma sangria nos cofres dos países muito dependentes do turismo, como a Indonésia ou a Tailândia.

A terceira fonte de moeda estrangeira que está secando é a da transferência de dinheiro da diáspora. Com a crise no Ocidente, trabalhadores estrangeiros, muitas vezes em situação precária, logo não poderão enviar dinheiro para apoiar as famílias nos países de origem. Esses Estados terão dificuldade em lidar com gastos urgentes para impedir a propagação do coronavírus, principalmente porque eles já estão muito endividados.

Sem recursos para combater a pandemia

Antes da crise de 2008, a dívida pública e privada global dos países emergentes representava 70% do seu PIB; hoje é mais do que o dobro, 165% do PIB. Como, então, arrecadar bilhões nos mercados, como os Estados Unidos ou a Europa fazem para financiar seus planos de apoio à economia? Os países emergentes agora geram desconfiança nos investidores.

No intervalo de dois meses, aproximadamente US$ 80 bilhões foram repentinamente retirados desses mercados. Esse montante representa aproximadamente a mesma quantia que os irrigou ao longo de 2019. Essa fuga de capital fortalece o dólar e enfraquece suas moedas. Países que já estão inadimplentes, como Argentina e Líbano, estão em apuros financeiros.

Como limitar o desastre?

O FMI e o Banco Mundial já disponibilizaram fundos para atenuar o impacto dessa crise sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial. As instituições internacionais defendem que o reembolso da dívida dos países mais pobres e também dos emergentes seja suspenso temporariamente.

A segunda medida crucial nesse contexto excepcional é o apoio dos Bancos Centrais para facilitar o acesso ao dólar e, assim, resolver a questão das importações. Nos Estados Unidos, o Banco Central (FED) já disponibilizou linhas de crédito para cobertura. O controle cambial pode ser estabelecido pelos países mais ameaçados.

O apoio a esses países é hoje uma obrigação moral para a comunidade internacional e também um imperativo econômico. Os países emergentes representam 60% da economia mundial. Abandoná-los penalizaria todo o planeta.

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