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Greve em Hollywood e polêmicas com Woody Allen e Polanski esvaziam tapete vermelho do Festival de Veneza

"É preciso fazer uma distinção entre o homem e o artista. A história da arte está repleta de artistas que foram criminosos e continuamos a admirar seu trabalho". É com essa declaração surpreendente que Alberto Barbera, diretor do Festival de Cinema de Veneza, justifica a presença de Woody Allen e Roman Polanski na mostra, dois diretores acusados de agressão sexual. Junto à greve em Hollywood, a controvérsia deve esvaziar o tapete vermelho desta 80ª edição, que começa nesta quarta-feira (30).

O presidente do Festival de Cinema de Veneza, Alberto Barbera, posa para os fotógrafos durante a chamada de fotos para o júri da 80ª edição do Festival de Cinema de Veneza, em Veneza, Itália, na quarta-feira, 30 de agosto de 2023. (Foto de Vianney Le Caer/Invision/AP)
O presidente do Festival de Cinema de Veneza, Alberto Barbera, posa para os fotógrafos durante a chamada de fotos para o júri da 80ª edição do Festival de Cinema de Veneza, em Veneza, Itália, na quarta-feira, 30 de agosto de 2023. (Foto de Vianney Le Caer/Invision/AP) Vianney Le Caer/Invision/AP - Vianney Le Caer
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Devido à greve de Hollywood e às polêmicas envolvendo os dois diretores, o primeiro tapete vermelho do 80º Festival de Cinema de Veneza, que começa na noite desta quarta-feira (30), será desprovido de estrelas e brilho, com um filme italiano substituindo, em cima da hora, a produção norte-americana originalmente programada para a abertura.

A nova queridinha de Hollywood, a atriz Zendaya, deveria abrir a Mostra de Veneza com Challengers, de Luca Guadagnino, mas o movimento social de greves norte-americano decidiu que o filme não deveria comparecer. O filme foi substituído por uma produção italiana, Comandante, sobre um episódio pouco conhecido no início da Segunda Guerra Mundial.

O presidente do júri este ano, Damien Chazelle, já viu noites mais festivas em Veneza. Ele, que apresentou no passado seus filmes "La La Land" (2016) e "First Man" (2018) na abertura da Mostra com grande pompa, não verá muitas estrelas este ano.

"Toda obra de arte tem um valor em si mesma e não é apenas conteúdo - uma palavra muito em voga em Hollywood no momento - qui visa alimentar uma tendência", disse o cineasta, que usava uma camiseta em apoio à greve, na coletiva de imprensa de abertura nesta quarta-feira. "A arte vem antes do conteúdo", insistiu.

Primeiro festival a sofrer impacto da greve de Hollywood

A Mostra de Veneza de 2023 é o primeiro grande festival mundial a sofrer o impacto da greve dos roteiristas norte-americanos, unidos aos atores, que exigem melhores salários e uma estrutura de reconhecimento de direitos para a inteligência artificial. Seu poderoso sindicato, o SAG-AFTRA, está proibindo seus membros não apenas de filmar, mas também de participar da promoção de filmes.

"O impacto da greve será muito limitado, porque perdemos apenas um filme [Challengers, na abertura], garantiu o diretor da Mostra, Alberto Barbera, em uma entrevista à agência AFP. "Vamos perder algumas estrelas muito esperadas, mas no final não é tão grave", reafirmou em uma coletiva de imprensa.

O filme Ferrari, de Michael Mann, será um dos pontos altos da competição. Esse filme biográfico do fundador da famosa marca recebeu uma isenção do sindicato norte-americano, permitindo que seu protagonista, Adam Driver, esteja presente em Veneza. O astro Bradley Cooper também estará presente, concorrendo como diretor e ator por "Maestro", um filme biográfico sobre o compositor Leonard Bernstein.

Os diretores David Fincher e Sofia Coppola também estão concorrendo ao Leão de Ouro conquistado no ano passado pela documentarista Laura Poitras [por All the beauty and blood spilt].

"O homem e o artista"  

A edição deste ano também gera polêmica pelo retorno de cineastas envolvidos em casos de agressão sexual, contestados por boa parte do público. Entre eles está Roman Polanski, de 90 anos, que vive na Europa, protegido do sistema judiciário norte-americano, do qual foge há mais de 40 anos, depois de ter sido condenado por estupro. 

Persona non grata em Hollywood, o diretor de "O Bebê de Rosemary" viu sua situação na França virar de cabeça para baixo desde a polêmica em torno do prêmio César de Melhor Diretor que ganhou em 2020, quando foi alvo de novas acusações de abuso sexual.

Ele agora é visto por uma grande parte da comunidade cinematográfica como um dos símbolos de uma certa impunidade. A Mostra de Veneza está colocando os holofotes de volta sobre ele com The Palace, apresentado fora de competição. No entanto, Polanski não tem planos de ir a Veneza.

Woody Allen, por sua vez, viu quase todo o setor virar as costas para ele após as acusações de abuso sexual de sua filha adotiva, que ele nega e cuja investigação não foi concluída. Fora da competição, ele apresentará seu 50º filme, Coup de chance, filmado em Paris com atores franceses.

A seleção de 23 filmes inclui cinco mulheres e 19 homens na disputa pelo Leão de Ouro, que será entregue em 9 de setembro e foi vencido por diretoras mulheres nos últimos três anos. "Os filmes de mulheres são poucos e distantes entre si (...) obviamente temos que lutar para que as coisas mudem", admitiu Barbera.

(Com AFP)

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