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Gustave Eiffel, morto há 100 anos, entrou para a história como o “mágico do ferro”

O construtor da Torre Eiffel morreu aos 91 anos, após uma longa carreira de sucesso como engenheiro, empresário e mecenas de pesquisas científicas. Seu monumento mais famoso, principal cartão postal de Paris e da França, acabou ocultando sua vasta produção. O nome Eiffel é associado a mais de 500 obras, erguidas em mais de 30 países. A RFI aproveita seu centenário de morte em 2023 para revisitar a herança deste francês universal, que entrou para a história como o “mágico do ferro”.

Gustave Eiffel em 1900.
Gustave Eiffel em 1900. © Atelier Nadar / Gallica - BnF
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Com Patrice Martin e Florian Riva

O impacto do desenvolvimento de estradas de ferro na Europa e no mundo no século 19 pode ser comparado ao da invenção da internet no século 20. Assim como a web gerou e fez prosperar os gigantes da informática, a expansão das ferrovias promoveu empresas de construção de pontes, participando ativamente da Revolução Industrial.

Durante toda a metade do século 19, centenas de “obras de arte de infraestrutura” (pontes e viadutos) foram construídas em vários países com muita criatividade e mobilizando, às vezes, investimentos financeiros consideráveis. Nesse contexto, o jovem Gustave Eiffel (15/12/1832 – 23/12/1923), recém formado na prestigiosa Escola Central de Engenharia de Paris, ganhou progressivamente espaço no mercado mundial. Graças a seu talento para utilizar o ferro em seus projetos e à sua vocação para os negócios, ele conquistou fama e prestígio, que permanecem vivazes até hoje.

Bertrand Lemoine, engenheiro, arquiteto e historiador, é um dos especialistas da vida e obra de Gustave Eiffel. Ele é conselheiro científico da Associação dos Herdeiros de Gustave Eiffel e autor de uma biografia sobre o construtor, publicada em 1984. Em entrevista à RFI, no primeiro andar da Torre Eiffel, Lemoine ressaltou que o engenheiro francês criou sua companhia aos 32 anos e se destacou também como um excelente empresário.

“Ele dominou as sutilezas da construção metálica, que surgia na época, mas foi também capaz de gerir uma empresa, escolher colaboradores, associar-se a bons parceiros, e encontrar o apoio político adequado”, conta o biógrafo.

Proezas técnicas

As proezas técnicas e arquitetônicas idealizadas por ele foram construídas nos quatro cantos do mundo. Monumentos com a marca Eiffel dominam a paisagem de várias cidades europeias, mas também das Américas, Ásia, África e Oceania. Suas construções mais numerosas datam dos anos 1870, como as pontes D. Maria Pia do Porto, em Portugal; de Garabit, no centro-oeste da França, de Ungheni, entre a Moldávia e a Romênia; e de Trang Tien, no Vietnã. A estação ferroviária de Budapeste, na Hungria, a Catedral de Arica, no Chile, ou o revolucionário Observatório de Nice, no sul da França, foram erguidos na mesma década.

Uma das genialidades de Eiffel, e chave de seu sucesso, foi criar projetos pré-fabricados, feitos em sua fábrica em Levallois-Perret, na periferia de Paris, e fáceis de exportar. “Os kits de elementos metálicos eram transportados por trem ou barco, e depois montados no local”, explica Lemoine.

Poucas pessoas sabem que a estrutura interna da Estátua da Liberdade, em ferro, foi concebida por ele, em 1881, assim como o sistema de eclusas do Canal do Panamá, entre 1887 e 1889. Do mesmo ano data a inauguração de seu monumento mais famoso, a torre de 300 metros que leva seu nome, erguida em Paris para a Exposição Universal que comemorou o centenário da Revolução Francesa. “A Torre Eiffel foi realmente o ponto alto de sua carreira como construtor. Isso lhe permitiu entrar no panteão dos grandes homens e engenheiros e ter um nome que é hoje quase universalmente conhecido”, acredita Bertrand Lemoine.

Ao longo de todo o século 20 e início do século 21, a Torre Eiffel ganhou várias réplicas em todo o mundo, como em Santos Dumont, no Brasil, ou em Tianducheng, na China.

Escândalo da falência do Canal do Panamá

O célebre engenheiro francês também esteve envolvido em um dos maiores escândalos do século 19, o da falência do Canal do Panamá. Ele foi indiciado pelo caso, mas antes de a Justiça o inocentar em 1893, o escândalo acarretou o fim da empresa e da marca Eiffel. Moralmente abalado, o construtor consagrou os últimos anos de sua vida à ciência. Apesar da idade avançada, o engenheiro continuava fascinado pelas inovações científicas.

O grande público desconhece o fato, mas para salvar a Torre Eiffel da destruição, ele transformou o último andar do monumento em um laboratório que contribuiu para avanços tecnológicos nos setores da telegrafia sem fio, da radiodifusão, da meteorologia, da aerologia e da aeronáutica. O interesse pela aviação nascente começou cedo e aproximou Eiffel do brasileiro Santos Dumont, que realizou em Paris o primeiro voo homologado da história.

A amizade de Eiffel e Santos Dumont
A bordo do seu dirgível Número 6, Santos Dumont circunavegou a Torre Eiffel, em 19 de outubro de 1901
A bordo do seu dirgível Número 6, Santos Dumont circunavegou a Torre Eiffel, em 19 de outubro de 1901 © Domínio público

 

A Associação dos Herdeiros de Gustave Eiffel organiza vários eventos durante todo o ano de 2023 para marcar seu centenário de morte. O principal deles será uma exposição sobre o legado do “mágico do ferro”, patrocinada pela Unesco. A mostra será inaugurada em Paris, em maio, e depois será exibida em vários países.

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