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Pierre Soulages, pintor francês que buscava a luz através da cor negra, morre aos 102 anos

Ele era o pintor francês vivo mais caro do mercado internacional, considerado um dos últimos grandes mestres. Pierre Soulages, 102 anos, morreu na noite de terça-feira (26), de insuficiência cardíaca em um hospital de Nîmes, no sul da França.

O pintor francês Pierre Soulages, em 2009, durante retrospectiva no Centro Pompidou, de Paris.
O pintor francês Pierre Soulages, em 2009, durante retrospectiva no Centro Pompidou, de Paris. ASSOCIATED PRESS - Remy de la Mauviniere
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A obra de Soulages foi marcada pela busca incessante em obter a luz através da cor preta. O que lhe interessava era o confronto do negro com a luz, com a matéria, e dali, o relevo consequente. Com pinceladas densas que rasgam telas e burilam a superfície, Soulages foi um dos poucos artistas a inaugurar, vivo, um museu com o seu nome, na sua cidade natal de Rodez, em 2014.

Também foi o primeiro artista vivo convidado a expor no Hermitage, de Moscou. E um dos poucos, também em vida, a exibir suas obras no museu do Louvre, de Paris, em 2019, em comemoração ao seu centenário. Foi o ano também que um de seus quadros atingiu, em leilão na capital francesa, a cifra histórica de US$ 10,5 milhões. Em 2021, uma obra de seu período vermelho foi vendida por US$ 20,2 milhões, em Nova York.

“Adoro a autoridade do negro, é uma cor severa, óbvia, radical”, declarou Soulages. “É uma cor muito ativa, ela se ilumina quando colocada ao lado de uma outra cor sombria”, disse em 2019 à AFP.

Uma grande retrospectiva dedicada ao artista foi realizada no Centro Pompidou, o Beaubourg, de Paris, entre outubro de 2009 a março de 2010. Seus quadros fazem parte do acervo de mais de 110 museus no mundo todo. Ele esteve em São Paulo em 1996, para a abertura de sua retrospectiva no MASP. O Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP) tem duas obras de Soulages.

Além do negro

Ele cunhou o termo “outrenoir”, algo como além do negro, para explicar seu trabalho, traduzido em mais de 1.700 peças espalhadas pelo mundo. Ele falou a respeito para a RFI em 2012:

“É um termo que inventei, depois da exposição ‘Escuridão Luz’. Mas essa é uma definição óptica, a respeito da luz refletida pela superfície da cor negra. O importante é o que sentimos, como isso nos move. É um campo mental que não é o mesmo que o de uma simples cor preta”.

Obra de Pierre Soulages, Centro Pompidou, em 2009.
Obra de Pierre Soulages, Centro Pompidou, em 2009. AP - Remy de la Mauviniere

Para descrever Soulages, sempre vestido de preto, 1,9m de altura, o New York Times usou, em 2014, os mesmos adjetivos usados frequentemente para falar da obra do pintor: “forte, vital, poderoso”.

Soulages nasceu em 24 de dezembro de 1919 em uma família modesta, em Rodez, no sul da França. Seu pai, construtor de carrocerias, morreu quando o futuro artista tinha apenas cinco anos. Ele foi criado por sua mãe, que administrava uma loja de artigos de caça e pesca.

Juntos durante 80 anos

Pierre Soulages foi admitido na prestigiosa Escola de Belas de Paris às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Em 1941, conheceu Colette Llaurens, com quem se casou um ano depois. Pierre e Colette eram inseparáveis e comemoraram neste ano 80 anos de casamento.

Em 1947, o jovem pintor mudou-se para Paris, onde foi notado por Francis Picabia, que o encorajou, numa época propícia para a pintura abstrata. Na década de 1950, suas pinturas entraram nos museus mais prestigiados do mundo, como o Guggenheim em Nova York ou a Tate Gallery em Londres. Ele conheceu os principais representantes da Escola de Nova York, incluindo Mark Rothko, que se torna seu amigo.

Além da pintura, Soulages trabalhou com serigrafia, metais e vidro. Em 1986, o governo francês encomendou a Soulages mais de cem vitrais para a abadia de Santa Fé, de Conques, no seu departamento natal de Aveyron. O conjunto foi inaugurado em 1994.

Abadia de Conques, com vitrais de Pierre Soulages, em 2012.
Abadia de Conques, com vitrais de Pierre Soulages, em 2012. AFP - REMY GABALDA

(com AFP)

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