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Elizabeth II e a moda: uma rainha com estilo

A rainha Elizabeth II nunca foi uma fashion victim. Mas o estilo da monarca, marcado por chapéus floridos e looks coloridos, ajudou a construir sua imagem e, em algumas situações, passar mensagens políticas. 

A rainha Elizabeth II em 1962 ao lado do príncipe Philip, durante a corrida do Royal Ascot.
A rainha Elizabeth II em 1962 ao lado do príncipe Philip, durante a corrida do Royal Ascot. AP
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Silvano Mendes, de Paris

Em junho deste ano, quando a rainha Elizabeth II apareceu na sacada do Palácio de Buckingham durante as celebração de seu Jubileu de Platina, os britânicos ficaram aliviados. Apesar dos problemas de saúde que a soberana de 96 anos vinha enfrentando, ela parecia em boa forma física. Mas muitos se questionaram sobre a escolha de sua roupa, um conjunto azul lavanda que destoa dos looks com cores berrantes que caracterizam várias de suas aparições públicas.

As cores usadas pela rainha sempre foram alvo de análises, vistas como uma mensagem subliminar da soberana. Como em 2017,quando o Reino Unido brigava durante as negociações do Brexit e que Elizabeth II apareceu diante do Parlamento, em um discurso justamente sobre o divórcio do país com o bloco europeu, vestida com um casaco azul sobre um vestido florido azul e amarelo, e um chapéu nas mesmas cores. Mesmo sem poder dar a sua opinião sobre o assunto – uma das condições de sua função –, a rainha estava claramente vestida com as cores da bandeira da União Europeia, em um ato visto por muitos como um recado sobre o seu apoio ao bloco.

Em 2017 a rainha Elizabeth II usou as cores da bandeira europeia durante um discurso no Parlamento sobre o contestado Brexit.
Em 2017 a rainha Elizabeth II usou as cores da bandeira europeia durante um discurso no Parlamento sobre o contestado Brexit. AFP - CARL COURT

O guarda-roupa da rainha sempre foi tema de curiosidade, principalmente em razão de um estilo que pouco mudou com o passar dos anos. Se até a década de 1970 ela ainda ousava algumas alterações na sua maneira de se vestir, com o tempo a soberana adotou uma silhueta constante em praticamente todas as suas aparições oficiais.

A monarca primava pelos vestidos ou conjuntos de casaco e saia com formas discretas e muitos similares. O único detalhe — invisível — é que na barra das saias pequenos pesos eram costurados para evitar qualquer incidente em caso de ventania.

Cores fortes dos looks da rainha Elizabeth são uma forma de identificar a soberana de longe, mesmo diante de multidões (imagem de 2016)
Cores fortes dos looks da rainha Elizabeth são uma forma de identificar a soberana de longe, mesmo diante de multidões (imagem de 2016) AP - Dominic Lipinski

No entanto, se os looks eram sóbrios, quase sempre eles eram extremamente coloridos, no que se tornou a marca registrada da soberana. Amarelo canário, verde cítrico, azul cobalto, rosa choque, laranja... A rainha não tinha medo de ousar nos tons fortes, em uma estratégia que tinha um objetivo preciso: em um evento público, a monarca podia ser vista de longe no meio da multidão, para o prazer dos súditos e dos fotógrafos, mas também para o alívio de suas equipes de segurança, que podiam acompanhar todos os movimentos da soberana em caso de problema.  

Mesma bolsa desde 1968

Além das roupas, a rainha da Inglaterra tinha algumas manias em termos de acessórios. Ela usava broches em quase todos os seus figurinos, o mais precioso deles sendo um modelo talhado no maior diamante bruto já encontrado até hoje no mundo, o Cullinan. Na cabeça, os chapéus extravagantes, com flores, penas ou plumas, faziam sempre suas aparições e, é claro, a coroa nas grandes ocasiões.

Outra particularidade é que a rainha usava o mesmo modelo de bolsa desde 1968. Uma peça desenhada especialmente para a soberana pela marca britânica Launer, que se tornou a fornecedora oficial de acessórios de couro da família real. O modelo não é comercializado e Elizabeth II teria mais de 200 exemplares em seus armários, em todas as cores imagináveis.

Elizabeth II, sempre com sua bolsa, ao lado entre o presidente norte-americano, Joe Biden, e a primeira-dama Jill.
Elizabeth II, sempre com sua bolsa, ao lado entre o presidente norte-americano, Joe Biden, e a primeira-dama Jill. AP - Arthur Edwards

Segundo seus próximos, além de carregar suas pastilhas de menta, a rainha usava a bolsa para se proteger de personagens “inconvenientes”. Os especialistas da monarquia contam que, durante uma recepção, quando a soberana passava a bolsa do braço esquerdo para o direito, sua equipe já sabia que o interlocutor a entediava e interrompia rapidamente a discussão.

Rainha na Fashion Week

Mas fora das ocasiões de representação oficial, a rainha adotava um estilo mais “descontraído”, usando cardigãs de lã, casacos acolchoados, traje típico dos caçadores da alta sociedade, ou o bom e velho trench coat, sobretudo usado em tempos de chuva. Além disso, quase sempre ela cobria a cabeça com um lenço amarrado no queixo. O acessório, aliás, foi adotado nas últimas temporadas por muitos jovens modernos, moças e rapazes.

Imitada ou ironizada, a soberana nunca esteve muito longe do mundo da moda. Como em 2019, quando ela decidiu banir o uso de peles de animais de seu guarda-roupa, seguindo a tendência fur free que tomou conta das passarelas. Ou em 2018, quando ela apareceu, “de surpresa”, na Fashion Week de Londres, em um desfile do estilista britânico Richard Quinn. Uma jogada de marketing bem pensada para mostrar o softpower da moda britânica, já que o costureiro tinha acabado de ganhar o prêmio Queen Elizabeth II Award for British Design.

A Rainha Elizabeth II foi a estrela ao assistir, ao lado de Anna Wintour, o desfile do estilista britânico Richard Quinn, em Londres, em 2018.
A Rainha Elizabeth II foi a estrela ao assistir, ao lado de Anna Wintour, o desfile do estilista britânico Richard Quinn, em Londres, em 2018. AP - Yui Mok

Nesse dia, ela dividiu os holofotes com outra “rainha”, Anna Wintour, a diretora da revista Vogue americana, sentada ao seu lado na primeira fila, enlouquecendo os fotógrafos. As imagens viralizaram, mesmo se ninguém se lembra da coleção. Em compensação, todos notaram que Elizabeth II destoava dos demais. 

Enquanto a plateia estava repleta de convidados vestindo preto ou cores chamativas, a monarca usava um tailleur cinza claro, que em outras situações seria discreto mas que, diante do público que a cercava, atraía todos os olhares para a soberana, em mais uma prova de seu domínio da moda como instrumento de comunicação.

(Texto publicado originalmente durante a celebração do Jubileu de Platina, em junho de 2022)

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