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Gérard Depardieu critica seu amigo Putin e Kremlin propõe “explicar conflito” ao ator francês

O ator francês Gérard Depardieu, que também tem a nacionalidade russa e até pouco tempo era um admirador de Vladimir Putin, denunciou, na quinta-feira (31), os "desvios enlouquecidos e inaceitáveis" do chefe de Estado, antes de anunciar que vai doar às "vítimas ucranianas" a bilheteria de seus três próximos shows em Paris. O Kremlin reagiu, alegando que o ator não teria entendido o conflito entre Moscou e Kiev.

O ator francês Gérard Depardieu junto com Vladimir Putin logo  após ter recebido a nacionalidade russa, em 2013
O ator francês Gérard Depardieu junto com Vladimir Putin logo após ter recebido a nacionalidade russa, em 2013 © AP Photo/RIA-Novosti, Mikhail Klimentyev, Presidential Press Service
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Depardieu cultivava uma relação de amizade com Putin desde 2013 quando, após criticar o governo socialista do presidente francês François Hollande, que havia proposto aumentar os impostos dos mais ricos, solicitou a nacionalidade russa. Desde então, ele não poupava elogios à Rússia, que descrevia como uma “grande democracia”. O ator, que não escondia sua admiração por Putin, chegou a comparar o líder russo ao papa João Paulo II.

Em 1º de março, seis dias depois do início da invasão russa da Ucrânia, o ator havia pedido a Moscou para baixar as armas e negociar. No entanto, ao contrário de boa parte da classe artística, ele não criticou abertamente a posição de seu “amigo” Putin.

Mas nesta quinta-feira (31) Depardieu saiu do silêncio e, por meio de um comunicado, disse que “o povo russo não é responsável pelos desvios enlouquecidos e inaceitáveis de dirigentes como Vladimir Putin". O ator indicou, ainda, que doaria às "vítimas ucranianas desta trágica guerra fratricida" a totalidade da arrecadação de bilheteria das apresentações que fará entre os dias 1º e 3 de abril em um teatro em Paris.

Ameaça de passaporte retirado

Na manhã desta sexta-feira (1°), o Kremlin reagiu e propôs “explicar” o conflito na Ucrânia ao ator. “Acho que Depardieu certamente não entende tudo o que está acontecendo, pois ele não está totalmente mergulhado na atualidade política”, declarou o porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov.

“Ele não entende (...) o que são Donetsk e Lougansk [regiões separatistas pró-Rússia] e não está sabendo dos bombardeios de civis”, declarou o porta-voz, usando um dos argumentos usados por Moscou para justificar a invasão do território russo. “Se for necessário, e se ele quiser, estamos dispostos a lhe explicar para que ele compreenda melhor”, concluiu Peskov. 

Os comentários de Depardieu também suscitaram reações da classe política russa. O deputado Soultan Khamzaev chegou a pedir que as autoridades retirem a nacionalidade russa do ator e que seus bens no país sejam confiscados e transferidos para associações caritativas. Segundo o parlamentar, Depardieu deve perder o seu passaporte russo por causa de “seus ataques presunçosos e sua pretensão ao falar em nome do povo russo”.

O ator francês sempre foi muito famoso na Rússia, onde já gravou diversos comerciais para empresas do país, além de ter participado de eventos políticos. Depardieu também já provocou polêmica ao confraternizar com ex-líderes da antiga União Soviética, como o checheno Ramzan Kadyrov e o uzbeque Islam Karimov, criticados por desrespeitar os direitos humanos.

Depardieu é conhecido principalmente no cinema, onde já incarnou grandes heróis da literatura francesa, como Cyrano de Bergerac, Jean Valjean de "Os Miséraveis" e Edmond Dantès do "Conde de Monte Cristo ". Em cena atualmente no teatro com o espetáculo "Depardieu chante Barbara", o ator interpreta canções e textos de Barbara, um dos grandes nomes da música francesa.

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