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Cineasta venezuelano comove festival de Biarritz com La Fortaleza, filme interpretado pelo próprio pai

Para fugir do alcoolismo, Roque tenta mudar de vida indo para a selva amazônica, onde um amigo de infância trabalha no garimpo ilegal. O filme do jovem cineasta Jorge Thielen Armand é não só inspirado na vida do seu pai, como interpretado pelo mesmo. Uma experiência pessoal e cinematográfica intensa, que tem como pano de fundo o caos social e político na Venezuela.

Cena do filme La Fortaleza, rodado na Amazônia venezuelana
Cena do filme La Fortaleza, rodado na Amazônia venezuelana © Divulgação
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Enviada especial a Biarritz

Aplaudido com entusiasmo nas projeções do Festival Biarritz América Latina, o filme é um forte candidato ao prêmio de melhor longa de ficção ou ao prêmio do público. O cineasta, que vive no Canadá, confessa que filmar o próprio pai não foi uma tarefa fácil, mas muito recompensadora, pois ele conseguiu “de certa maneira imortalizar o pai”.

O personagem central do filme é inspirado na história pessoal de Roque Thielen, que luta contra o alcoolismo há vários anos e interpreta com brio as cenas de angústia causadas pela abstinência do álcool em plena selva.

Álbum de família

“Eu sempre fui fascinado pelas histórias do papai na selva, faziam parte do meu imaginário. Eu queria saber o que aconteceria se ele voltasse à selva. Finalmente, eu fiz esse filme para o meu pai, mas teve que ser com o meu pai. Não poderia ter sido de outro jeito”, explicou o cineasta no debate após a projeção.

Jorge Roque Thielen, que interpreta o papel principal  e o seu filho, o cineasta Jorge Thielen Armand
Jorge Roque Thielen, que interpreta o papel principal e o seu filho, o cineasta Jorge Thielen Armand © Captura de tela

Para Jorge, esse filme é como um álbum de família, pois ele foi embora da Venezuela há 15 anos e sente muito a perda da estrutura familiar. “A cada vez que eu volto à Venezuela vejo um país diferente, cada vez conheço menos gente, pois todos os meus amigos estão indo embora. Por exemplo, toda a equipe de La Fortaleza, rodado em 2018, já foi embora”, relata.

“Meu maior medo é um dia voltar e não encontrar mais ninguém”. Jorge diz que a maneira que ele encontrou de ficar próximo da Venezuela e de suas raízes foi fazer filmes no país.

El Father Plays Himself

Sem nenhum rodeio, o cineasta revela que seu pai é alcoólatra e vive atualmente num centro de reabilitação em Caracas. “Ele luta contra o alcoolismo e eu quis fazer algo de positivo (o filme) a partir de algo negativo. Me questiono sobre o que leva uma pessoa a autodestruição e isso me leva a buscar em mim também o que eu tenho de autodestrutivo”.

Cena do filme La Fortaleza com Jorge Roque Thielen
Cena do filme La Fortaleza com Jorge Roque Thielen © Divulgação

O cineasta relata várias anedotas da filmagem com o seu pai, que não é ator e nunca leu uma página do roteiro. Ele sabia o que iria fazer no dia da filmagem. Quando ele descobriu o filme pronto, estranhou e reclamou que cenas que foram feitas durante quatro horas, acabaram se resumindo em 30 segundos na montagem final.

Porque seu pai aceitou o desafio? “Porque ele gosta desse tipo de aventura e sentiu a vontade de botar a mão no fogo e fazer algo junto comigo. E, para mim, esse filme despe o meu pai e isso me permite me projetar no passado e no presente” acrescenta.

A experiência dessa filmagem foi tão intensa e original que a cineasta ítalo-americana, MO Scarpelli fez um documentário chamado El Father Plays himself apresentado também nessa edição do Festival.

Jorge Thielen Amand, diretor de La Fortaleza, já tinha se destacado em Biarritz com seu primeiro longa-metragem La Soledad (2016), que ganhou o prêmio da crítica nesse festival, além de 13 outros prêmios internacionais. Nesse filme, ele também recorreu a atores e atrizes não profissionais em seus próprios papeis. La Soledad foi filmado numa velha mansão em Caracas, invadida progressivamente pela floresta tropical.

O Festival Biarritz América Latina termina no dia 4 de outubro

 

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