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Rendez-vous cultural

Berlinale abre espaço para novas formas de feminismo no cinema

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A 70ª edição da Berlinale também foi marcada por uma série de produções que colocaram nas telas questões feministas. Mesmo se essas temáticas sempre fizeram parte do festival de cinema de Berlim, este ano a noção de empoderamento feminino se misturou ao conceito de sororidade, cada vez mais presente nas narrativas.

Mistura de Pixote e Rita Pavone, Grace Orsato incarna em "Meu nome é Bagdá" uma nova geração de feministas precoces.
Mistura de Pixote e Rita Pavone, Grace Orsato incarna em "Meu nome é Bagdá" uma nova geração de feministas precoces. © Camila Cornelsen
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Enviado especial a Berlim

Desde o início, os organizadores evidenciaram a vontade de ter mais diretoras na programação. Dos 18 filmes na competição principal, seis foram dirigidos por mulheres. “Não é paridade, mas é um caminho para alcançá-la”, explicou Carlo Chatrian, presidente da Berlinale antes do pontapé inicial da maratona cinematográfica.

Mas a presença feminina – e feminista – não se resumia à corrida pelo Urso de Ouro, principal prêmio em Berlim. Projetos como “Hillary”, documentário sobre Hillary Clinton dirigido por Nanette Burstein, são um bom exemplo de um produções engajadas. O filme mostra como a ex-candidata democrata à presidência dos Estados Unidos foi perseguida na política, muitas vezes apenas pelo fato de ser uma mulher.

Entre os brasileiros na Berlinale, um dos exemplos mais emblemáticos é o de “Meu Nome é Bagdá”, de Caru Alves de Souza, exibido na mostra Generation, voltada para o público mais jovem. O longa conta a história de Bagdá, uma mistura de Pixote e Rita Pavone, interpretada pela estreante e excelente Grace Orsato. A personagem principal é uma adolescente da periferia de São Paulo que, apesar do machismo dos vizinhos e dos próprios amigos, encontra força em um grupo de meninas skatistas.

Dois anos após o nascimento do movimento #metoo, o filme fala de uma nova geração de feministas, cada vez mais precoces e reivindicativas. “Eu acho que é um retrato de uma parte da juventude brasileira, que já tem um discurso político muito elaborado, desde cedo”, conta Caru Alves de Souza. “As meninas no filme são skatistas de verdade e fazem parte de um coletivo de mulheres skatistas, que são feministas. Então as próprias atrizes têm esse discurso. Não foi algo que eu coloquei na boca delas”, explica a diretora. E a sinceridade do filme foi bem-recebida na Berlinale, pois o longa ganhou nesta sexta-feira (28) o Grand Prix of International Jury, com um prêmio de € 7.500.

Personagens ensinadas a não ter medo

Em um outro estilo, “Irmã”, do duo Luciana Mazeto e Vinícius Lopes, também aborda uma espécie de feminismo precoce. “A base de construção das personagens é extremamente feminista. A gente queria que essa história fosse contada por esse olhar. Um olhar feminino que fala sobre essas mulheres”, explica a diretora.

O filme "Irmã" fala de abandono paterno, mas também da nova geração de menias independentes.
O filme "Irmã" fala de abandono paterno, mas também da nova geração de menias independentes. © Carine Wallauer

No longa, as duas irmãs, personagens principais, falam de casamento forçado, mas também das diferenças entre Indiana Jones e Lara Croft como uma forma de reivindicar uma outra maneira de abordar o machismo. “São duas meninas muito fortes, e independentes”, conta Luciana. “Uma delas, muito batalhadora, é a nossa figura do que é hoje uma adolescente já criada com todas essas ideias feministas. Já a irmã mais jovem é um personagem utópico. A gente imaginou como seria uma menina que nunca tivesse sido ensinada a ter medo”.

Sororidade

Além disso, vários filmes abordaram a questão da sororidade, essa solidariedade entre a mulheres. Os momentos “mexeu com uma, mexeu com todas” são presentes em várias produções, desde “Alice Júnior”, de Gil Baroni, até o próprio “Meu nome é Bagdá”.

“Eu queria fazer um filme sobre a união entre as mulheres. Como nos fortalecemos através dos laços que criamos”, explica Caru Alves de Souza. “De maneira geral, todos os oprimidos do mundo são mais fortes no coletivo. E um coletivo consciente de sua força, pode ser muito transformador”, diz a diretora.

As atrizes Mawusi Tulani, Clarissa Kiste e Carolina Bianchi, falam de união das mulheres, dentro e fora das telas.
As atrizes Mawusi Tulani, Clarissa Kiste e Carolina Bianchi, falam de união das mulheres, dentro e fora das telas. RFI

Já para Clarissa Kiste, uma das atrizes principais de “Todos os Mortos”, a questão da “sororidade” é também o que cria a sensação de confiança entre as companheiras de trabalho, como Carolina Bianchi e Mawusi Tulani, com quem divide os holofotes em Berlim. Mas para ela, essa união sempre existiu, e agora apenas ganhou mais visibilidade.

“Isso já estava dentro de nós. Era uma pressão do patriarcado e do machismo que nos impedia de nos unir desse jeito, ou de dar um nome para essa união”, avalia. “Acho que essa sororidade já existia por debaixo dos panos, pois na hora que a coisa apertava, uma mulher sempre olhava para a outra. É um sentimento que já estava dentro da gente e que só nos torna mais fortes e mais inteiras”, finaliza.

A Berlinale termina no dia 1° de março. 

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