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Rendez-vous cultural

Casa de Balzac em Paris recria universo do autor da "Comédia Humana"

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Reaberta nesta semana ao público, após meses de reforma e com nova sede, o Museu Casa de Balzac é uma alternativa irresistível na capital francesa para amantes de literatura e curiosos em geral. Nele, é possível entrar em contato não apenas com o ecossistema onde Honoré de Balzac concebeu obras primas como a "Comédia Humana", mas também rastrear curiosidades sobre a sociedade do século XIX, que ele tão bem descreveu.

O gabinete que o escritor Honoré de Balzac ocupou entre 1840 e 1847, onde escreveu sua obra-prima, "A Comédia Humana".
O gabinete que o escritor Honoré de Balzac ocupou entre 1840 e 1847, onde escreveu sua obra-prima, "A Comédia Humana". RFI/E.Gabrielian
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Agora completamente acessível a pessoas com dificuldade de mobilidade e deficientes, o Museu de Balzac figura, como uma espécie de último santuário criativo desse grande escritor, entre dândi desejoso dos salões de Paris, que passou a vida fugindo de seus credores, e um criador obcecado, capaz de reescrever dezenas de vezes cada uma de suas páginas.

O diretor do museu, Yves Gagneux, conta que as origens deste endereço elegante, com a Torre Eiffel ao fundo do cenário, no rico 16° distrito de Paris, data de séculos atrás. "Este lugar faz parte da história de Paris, porque estamos em um antigo vilarejo, que se chama Passy, que possui, talvez, origens galo-romanas. Os porões da Casa de Balzac, o museu que vocês visitam hoje, eram habitats trogloditas medievais, do século XIV ou XV", explica.

"Neste terraço, ao longo das colinas às margens do rio Sena, um lugar inclinado que desce em direção ao rio, plantamos no passo vinhedos ou cereais. Aqui, onde se situa a Casa de Balzac, era um Hotel Particular, uma mansão construída no século XVIII", conta Gagneux. "Ela foi revendida durante a Revolução Francesa, desmembrada em apartamentos e, em 1840, um escritor completamente falido, Honoré de Balzac, aluga um desses apartamentos, de cinco cômodos, que é hoje este museu, a única morada parisiense do escritor que existe até hoje", lembra.

Um gênio da crônica de costumes

Com a Torre Eiffel servindo de cenário, o museu Casa de Balzac reabriu suas portas esta semana com nova sede para receber amantes da literatura e curiosos em geral em Paris.
Com a Torre Eiffel servindo de cenário, o museu Casa de Balzac reabriu suas portas esta semana com nova sede para receber amantes da literatura e curiosos em geral em Paris. RFI/Márcia Bechara

Contemporâneo de Honoré de Balzac, o inglês Oscar Wilde chegou a dizer em uma ocasião que a "Comédia Humana" era "o maior documento já escrito sobre a alma humana". Um dos salões da antiga morada do escritor foi completamente habitado pela sua genealogia de incríveis e complexos personagens, criados com precisão cirúrgica e atenção reforçada para os salões e as ruas da França do século XIX, o olho de Balzac.

"Ele escreveu aqui a Comédia Humana e, sobretudo, ele concebeu este projeto aqui, onde ficou sete anos. Sete anos da vida de um homem pode não ser grande coisa, mas, para Balzac, foram anos muito importantes, uma vez que ele começou a escrever em 1830 e parou em 1848. Estamos falando de mais de um terço de seu período como escritor", contemporiza o diretor do museus.

"Isso tudo aconteceu aqui em Passy, na época um vilarejo completamente perdido, longe de Paris. Balzac criou aqui o conceito de 'Comédia Humana', que não é apenas o título de suas obras, mas um projeto muito mais ambicioso, porque ele deseja se tornar um 'historiador dos costumes' e propor uma classificação das espécies sociais comparável à classificação das espécies animais, criada no fim do século XVIII por sábios como Buffon.

Nas paredes da exposição permanente, as marcas do tempo não apagaram as linhas de um Honoré de Balzac obcecado pela perfeição, como demonstram as centenas de cópias reescritas à mão de "A Mulher de 30 anos", um de seus clássicos.

Wannabe de dândi, entre excentricidade e dívidas

Mas os salões da Casa de Balzac não guardam apenas preciosidades literárias, mas objetos de luxo que o escritor, que gostava de frequentar os camarotes reservados aos dândis na prestigiosa Ópera de Paris, colecionava, a título de "aristocrata do pensamento". Baixinho e gordinho, seu physique de rôle não se prestava tanto ao personagem, mas Balzac investia em tesouros como a bengala de ouro e turquesa, objeto que quase o levou à falência e que faz parte da coleção do museu.

"Balzac ficou famoso muito cedo, mas o problema dele era que quando ele ganhava um pouco de dinheiro com um livro, ele antecipava a entrada de somas muito maiores e gastava muito mais do que recebia. Não era suficiente para pagar suas dívidas, então, Balzac teve problemas de dinheiro durante toda a sua vida", conta Yves Gagneux.

Balzac by Arroyo

O museu Casa de Balzac reabriu suas portas com a exposição temporária "A Comédia Humana", do artista espanhol Eduardo Arroyo. "Eduardo Arroyo fez um trabalho sobre a memória e as lembranças, acorando-o em seu conhecimento enciclopédico da literatura em geral, e, em particular, do Balzac. Em 2014 e 2015, ele criou uma série de imagens, com retratos de escritores e seus personagens, com representações de seus domicílios, e todas essas obras traduzem uma reflexão profunda do processo de lembrança, dos mecanismos da memória e que é também, de certa forma, uma autobiografia do artista, que também é escritor, mas do ponto de vista plástico", diz Gagneux.

"O objetivo é fazer o público parisiense e internacional ler Balzac, mas também Eduardo Arroyo", pontua o diretor. O museu Casa de Balzac fica aberto no 16° distrito da capital francesa, de terça à domingo, de 10h às 18h e faz parte do circuito de museus oficiais da Prefeitura de Paris.

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