Jazz embala a pequena Vienne, no sudeste da França
Situada em um vale e cercada por colinas abruptas, a pequena Vienne, de 30 mil habitantes, a 500km a sudeste de Paris, se transforma em ponto de encontro de amadores do jazz durante duas semanas do verão europeu. A ocasião é o festival Jazz à Vienne, agora em sua 37ª edição, de 29 de junho a 13 de julho.
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A música começa a tocar cedo em Vienne, com concertos abertos ao público a partir de meio-dia. Há muitos artistas novos, experimentais - tem espaço para tudo. Na hora da sesta, quando tudo fecha, com o sol esturricando a 34°C, altos falantes espalhados pelo centro velho tocam, claro, jazz.
No final da tarde, Jacqueline, que mora numa das ruas laterais do Teatro Antigo, se posta em sua cadeira na calçada, cercada por amigos e familiares. “Há 20 anos acompanho o festival, da minha casa”, diz sorrindo. “A cidade muda nesta época, fica animada”, relata. A amiga Françoise, que trabalha como voluntária no evento, orientando o público, concorda: “Vienne se transforma, vem gente de todo o mundo”.
Já Jean, que toca o restaurante tailandês-chinês-vietnamita que os pais inauguraram há 30 anos, diz que o festival faz bem para o negócio, pois a clientela aumenta. “Mas não tenho muito tempo de aproveitar os shows”, lamenta.
Pesos-pesados
À noite, a honra de se apresentar no Teatro Antigo, construído pelos romanos no primeiro século da Era Cristã, é para nomes consagrados. Este ano, como sempre, a programação teve medalhões como o pianista Ahmad Jamal, o saxofonista Archie Shepp, o crooner Jamie Cullum, o cubano Roberto Fonseca (ex-pianista do Buena Vista Social Club) e muitos outros. Os preços dos ingressos vão de €36 a €48.
Na quarta-feira (12), foi a vez do veterano o pianista americano Herbie Hancock, que tocou com Miles Davis nos anos 60, e desde então vem construindo uma carreira de fôlego e energia. “Me disseram que eu sou o artista que mais veio a Vienne – 16 vezes!”, diz o artista para o público. “Não sei do que estão falando, não sou tão velho assim”, brinca Hancock, de 77 anos.
Acompanhado de músicos excepcionais – James Genus (baixo), Lionel Loueke (guitarra), Terrace Martin (sax, teclados) e Vinnie Colaiuta (bateria) – Hancock não para quieto, vira do piano para o sintetizador, pega no keytar (sintetizador portátil, em forma de guitarra) e sai tocando, provocando os companheiros, sempre atentos, para uma brincadeira fusion.
Hancock também adora sintetizar a própria voz, buscando, explorando novos ecos. Mas a plateia cai abaixo quando reconhece os acordes iniciais de “Cantaloupe Island”, que logo se transforma em algo diferente. Animado, Hancock bisa o bis e até os músicos se entreolham surpresos e divertidos. O público não resiste e vai até o gargarejo dançar até a última nota e o “merci” derradeiro.
Brésil à Vienne
A noite de encerramento do Jazz à Vienne no Teatro Antigo, nesta quinta-feira (13), tem cores brasileiras. O coletivo instrumental Bixiga 70 traz sua mistura afro-brasileira-índigena e tudo mais que couber. E Seu Jorge, acompanhado de violão, faz uma homenagem a David Bowie, com versões personalíssimas de sucessos do artista inglês. A ideia foi lançada no filme “A Vida Marinha com Steve Zissou” (2004), de Wes Anderson, onde Seu Jorge vivia o personagem Pelé dos Santos, marujo que tocava covers de Bowie. Tanto o Bixiga 70, quanto Seu Jorge, estão turnê europeia.
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