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Cosmopolis/Cannes

"Cosmopolis", de Cronenberg, decepciona plateia em Cannes

O novo filme do diretor canadense David Cronenberg, Cosmopolis, foi apresentado nesta sexta-feira à imprensa em Cannes e decepcionou a crítica. Parte da plateia até mesmo vaiou o longa, que disputa a Palma e traz no elenco o vampiro da série Twilight, Robert Patinson. Para o diretor, Cosmopolis concretiza as previsões de Karl Marx.

David Cronenberg e Robert Pattinson em Cosmopolis.
David Cronenberg e Robert Pattinson em Cosmopolis. REUTERS/Christian Hartmann
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O filme "Cosmopolis" é uma adaptação do livro do escritor americano Don DeLillo, que seduziu Cronenberg na primeira leitura, como contou o diretor durante a entrevista coletiva concedida à imprensa depois da sessão. Cronenberg escreveu o roteiro em apenas seis dias, transcrevendo os diálogos da obra quase integralmente. Para o diretor, o filme é premonitório e concretiza em parte as previsões de Karl Marx no livro "Manifesto do Partido Comunista", de 1848. Uma das conclusões da obra é de que o desenvolvimento do capitalismo traria consequências imprevisíveis para a humanidade. ”Diversas vezes eu me perguntei o que próprio Karl Marx teria pensado do filme, porque ele mostra muita coisa que ele mesmo teria previsto”, disse o diretor.

A maior parte das cenas foi filmada dentro da limusine de Eric Parker (Robert Pattinson), protagonista da história, bilionário das finanças desprovido de qualquer humanidade, que vai à falência e entra em crise existencial. Apesar das ameaças de morte, ele insiste em atravessar Nova York de carro para ir ao cabelereiro. "Depois de transcrever os diálogos, passei três dias pensando como eu poderia inseri-los dentro da limusine", explicou Cronenberg.

Parker é alvo de diversos protestos no seu périplo urbano: passeatas de anarquistas, torta na cara, duas analogias perfeitas de movimentos contemporâneos, como "Ocupe Wall Street", por exemplo. Uma prova de que DeLillo, que escreveu a obra em 2003, é um visionário de seu tempo. Cronenberg teceu diversos elogios ao escritor na coletiva de hoje. Recentemente, em entrevista ao jornal Le Monde, ele declarou que transformar um livro em filme é uma escolha de diretores ‘’preguiçosos.’’ Segundo o diretor, é bem mais fácil adaptar uma obra do que um roteiro original. Um comentário pouco diplomático, já que em Cannes, oito dos 22 longas em competição pela Palma são adaptações literárias para o cinema.

Robert Pattinson, vampiro do capitalismo

Cronenberg recusa qualquer comparação do personagem Parker, de Robert Pattinson, com o vampiro de "Twilight", que o tornou uma celebridade. Na verdade, em "Cosmopolis", ele se tornou uma estranha mistura de agente Smith, de Matrix, e Edward Cullen. ‘’É muito fácil dizer que Parker é um vampiro, fazendo um paralelo com Wall Street, além de muito superficial", declara. "Um ator não pode trabalhar com esse conceito abstrato. Não posso dizer para um ator: ‘você é o símbolo do capitalismo, e quero que você atue assim’. É uma pessoa, com um passado de verdade, e a história do passado agora não é Twilight, é Cosmopolis. Da mesma maneira que não penso em meus filmes quando estou fazendo um novo longa.”

Pattinson, que parecia pouco à vontade na coletiva, disse laconicamente, questionado sobre a mesma questão, que concordava com Cronenberg, que respondeu, em tom de brincadeira. "Sempre soube que ele nunca assistiu a nenhum de meus filmes." Sobre a preparação do personagem, Pattinson respondeu que tentou ser fiel ao roteiro, e isso facilitou o trabalho. "É como ler uma letra de música", resumiu, em seguida concluindo, aos risos: "Atores não precisam ser inteligentes."
 

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