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Em discurso na ONU, Lula critica desigualdade no mundo e cobra reforma no Conselho de Segurança

Com um dos discursos mais aguardados do dia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou na abertura do debate geral da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira (19). Entre os temas abordados pelo brasileiro estavam a urgência no combate às mudanças climáticas, o desenvolvimento e o combate à fome e desigualdades.

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva durante discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva durante discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas REUTERS - MIKE SEGAR
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Como de praxe, o Brasil abriu os discursos em Nova York. Lula homenageou o diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello morto em um atentado em Bagdá, há 20 anos. Também expressou seus sentimentos para vítimas das catástrofes recentes no Marrocos, Líbia e Rio Grande do Sul.

Ele lembrou que em seu primeiro discurso na ONU, há 20 anos, a fome foi o tema central. “735 milhões de seres humanos vão dormir esta noite sem saber se terão o que comer amanhã”, disse. “O mundo está cada vez mais desigual”, lamentou.

Lula encadeou fome, desigualdade social e falta de oportunidade como agentes minadores do destino de uma pessoa e alertou a ONU para o risco de fracassar em uma de suas principais ações: "A mais ampla e mais ambiciosa ação coletiva da ONU voltada para o desenvolvimento – a Agenda 2030 – pode se transformar no seu maior fracasso. Estamos na metade do período de implementação e ainda distantes das metas definidas.A maior parte dos objetivos de desenvolvimento sustentável caminha em ritmo lento. O imperativo moral e político de erradicar a pobreza e acabar com a fome parece estar anestesiado".

Em seguida, Lula falou sobre a vitória da democracia no Brasil, que possibilitou sua volta ao poder. “A democracia garantiu que superássemos o ódio, a desinformação e a opressão.”, disse. “Como não me canso de repetir, o Brasil está de volta”.

O presidente brasileiro enumerou outros flagelos atuais e simultâneos: pandemia, crise climática, insegurança alimentar e energética e crescentes tensões políticas.

Desigualdades

“Reduzir as desigualdades dentro dos países requer incluir os pobres nos orçamentos nacionais e fazer os ricos pagarem impostos proporcionais ao seu patrimônio, declarou como forma de combater as diferenças.

Lula mencionou ainda outros eixos de seu governo: igualdade racial, iniciativas para reduzir a pobreza, igualdade de gênero e combate à violência contra a mulher, além de defender grupos LGBTQI+ e pessoas com deficiência.

Na sequência, Lula falou sobre a questão climática e fez um apelo por modelos mais sustentáveis. “Os 10% mais ricos da população mundial são responsáveis por quase a metade de todo o carbono lançado na atmosfera”, lembrou. “Nós, países em desenvolvimento, não queremos repetir esse modelo”.

O presidente afirmou que o Brasil está na vanguarda da transição enérgica. “87% da nossa energia elétrica provem de fontes limpas e renováveis”, disse, citando a produção de energia solar, eólica, biomassa, etanol, biodiesel e hidrogênio verde.

Lula reiterou a defesa da floresta, com fiscalização e combate a crimes ambientais. “Ao longo dos últimos oito meses, o desmatamento na Amazônia brasileira já foi reduzido em 48%. O mundo inteiro sempre falou da Amazônia. Agora, a Amazônia está falando por si.”

Neoliberalismo nefasto

No plano econômico, Lula alfinetou o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, o protecionismo de países ricos e a Organização Mundial do Comércio. “No ano passado, o FMI disponibilizou US$ 160 bilhões em direitos especiais de saque para países europeus, e apenas US$ 34 bilhões para países africanos”, apontou. “O BRICS surgiu na esteira desse imobilismo, e constitui uma plataforma estratégica para promover a cooperação entre países emergentes”, disse. ao justificar a ampliação do bloco

“O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias. Seu legado é uma massa de deserdados e excluídos”, acrescentou.

Lula defendeu ainda o jornalista australiano Julian Assange, preso por revelar segredos ultrassecretos do governo norte-americano. “Nossa luta é contra a desinformação e os crimes cibernéticos”, disse.

Os conflitos armados na África e na Ucrânia também foram citados pelo brasileiro, que evitou criticar a Rússia de Vladimir Putin. “Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz. Mas nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo”, disse o presidente brasileiro, que reforçou seu pedido de reforma do Conselho de Segurança da ONU.

"O Conselho de Segurança da ONU vem perdendo progressivamente sua credibilidade. Essa fragilidade decorre em particular da ação de seus membros permanentes, que travam guerras não autorizadas em busca de expansão territorial ou de mudança de regime. Sua paralisia é a prova mais eloquente da necessidade e urgência de reformá-lo, conferindo-lhe maior representatividade e eficácia"

Lula lembrou que “no ano passado os gastos militares somaram mais de US$ 2 trilhões” e “as despesas com armas nucleares chegaram a US$ 83 bilhões, valor vinte vezes superior ao orçamento regular da ONU.”

“Estabilidade e segurança não serão alcançadas onde há exclusão social e desigualdade”, martelou o chefe de Estado brasileiro.  

Na quarta-feira, Lula tem um encontro bilateral com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, outra presença de destaque em Nova York. 

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