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Le Monde denuncia "aniquilação do Cerrado em benefício do agronegócio" no Brasil

O rico ecossistema do Nordeste brasileiro foi amputado pela metade para dar lugar a campos de soja, milho, sorgo e algodão, pulverizados de agrotóxicos. De acordo com reportagem do jornal Le Monde desta sexta-feira (15), "nada parece ser capaz de impedir a destruição da biodiversidade e o perigo da estiagem do solo".

Um campo cultivado em uma antiga área florestal no Cerrado em Formosa do Rio Preto, no estado da Bahia, oeste do Brasil, em 29 de maio de 2019. Imagem ilustrativa.
Um campo cultivado em uma antiga área florestal no Cerrado em Formosa do Rio Preto, no estado da Bahia, oeste do Brasil, em 29 de maio de 2019. Imagem ilustrativa. AFP - NELSON ALMEIDA
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O correspondente Bruno Meyerfeld foi ao Piauí, onde imensas nuvens de fumaça se elevam no céu e denunciam a devastação do Cerrado. Nos arredores da cidade de Uruçui, extremo sul do estado, o fogo está por toda parte. "Os canteiros das estradas são vermelhos de brasas e pretos de cinzas", descreve.

O Instituto Brasileiro de Pesquisas Espaciais contabilizou este ano mais de 23 mil incêndios no Cerrado, segue o texto, destacando que pelo menos 5 mil km² foram destruídos pelo fogo, um aumento de 20% em relação ao mesmo período de 2022.

Com clima quente, pontilhado de arbustos e pequenos rios, o bioma "é o lar da anta, da onça-pintada, do tamanduá-bandeira e de 320 mil espécies de animais. A região que ainda abriga 5% da biodiversidade mundial é também uma bacia hidrográfica vital e um gigantesco sumidouro de carbono – o que não impede a sua destruição: em poucas décadas, metade da sua superfície já foi arrasada", informa o Le Monde. "Tudo isso deu lugar a campos de grandes proprietários de terras e agroindustriais". 

A reportagem visitou uma fazenda com 50 quilômetros de plantações. O grupo agroindustrial reportado concentra cinco fazendas, com um total de 82 mil hectares, oito vezes o tamanho de Paris, compara o diário francês, onde 650 trabalhadores cultivam soja, milho, sorgo e algodão. 

Para seus proprietários, “o agronegócio levou o desenvolvimento" para a região. Porém, um estudo recente do Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (IIS) previu a possível extinção de mais de 1,1 mil espécies de plantas no Cerrado até o ano de 2050: um número oito vezes superior ao de espécies de plantas já consideradas extintas em todo o mundo, segundo o ISS. "Um massacre", constata o enviado especial do Le Monde.

Poluição de agrotóxicos

Como resultado da destruição do Cerrado, o Brasil viu 15% de sua superfície hídrica se evaporar desde 1985, segundo a ONG MapBiomas, especializada em desmatamento. 

E não é só isso: o agronegócio também espalha em média 600 milhões de litros de agrotóxicos no Cerrado, todos os anos. O glifosato e outros produtos perigosos “se infiltram no solo e poluem todo o vale”, alerta o enfermeiro de um posto de saúde próximo à vila de Santo Antônio, visitada pela reportagem. 

Um estudo publicado em 2018 pela Universidade Federal do Piauí revelou um número significativo de malformações em bebês na região, dos quais 14% nascem com peso muito abaixo da média, enquanto oito em cada dez mães produzem leite contaminado com glifosato.

O Cerrado é o mais vulnerável dos ecossistemas brasileiros: apenas 8% de sua superfície é protegida, em comparação com metade da Amazônia.

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