Após denúncias, Carrefour diz que 100% da carne que vende no Brasil respeita normas ambientais
O jornal Le Monde desta terça-feira (29) repercute as revelações da rede Repórter Brasil que publicou uma reportagem, na semana passada, afirmando que o Carrefour compra carne originária de fazendas da família Heller, apontada como "a maior desmatadora da Amazônia". O grupo francês indicou ao diário que não comercializa produtos provenientes do desmatamento e que realiza "uma melhora contínua" de sua política ambiental.
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Segundo levantamento da plataforma jornalística, o Carrefour comercializaria produtos do frigorífico Frialto, abastecido pelas propriedades do pecuarista Bruno Heller, preso no início do mês pela Polícia Federal do Brasil. Em sua matéria, Le Monde lembra que o criador de gado é acusado de ter destruído ilegalmente 6.500 hectares de floresta no Pará, "o dobro da superfície de Bruxelas", destaca a matéria.
"Como isso pôde escapar do controle do Carrefour?", pergunta o diário. Segundo a Repórter Brasil, o gado seria criado em uma das fazendas multadas por atividades ilegais, e depois transferido para duas fazendas da filha de Heller, em conformidade com as normas ambientais. Depois, os bois seriam vendidos para a empresa brasileira Frialto, que abastece o grupo francês.
“Maior devastador da Amazônia” e familiares acumulam 43 autuações ambientais do Ibama, que vão de desmatamento ilegal à compra de gado de áreas protegidas, somando R$ 27 milhões em penalidades. Bruno Heller recebeu cerca de metade das multas🧵 #DadosRBhttps://t.co/sWWQbA2AIR
— Repórter Brasil (@reporterb) August 28, 2023
Procurado pela reportagem do Le Monde, o Carrefour nega ter adquirido produtos das fazendas mencionadas pela Repórter Brasil. O grupo afirma que dispõe de "um processo de homologação e de rastreamento via satélite" para garantir a conformidade socio-ambiental da aquisição de 100% da carne comercializada em seus supermercados. Também indica que busca "uma melhora contínua" de sua política ambiental, através de um comitê que tem como missão "contribuir para a evolução constante de engajamentos e medidas para a proteção das florestas e conservação da biodiversidade".
Em entrevista ao jornal, o advogado Sébastien Mabile, especialista em direito ambiental, afirma que, em uma companhia, a responsabilidade em matéria de prevenção de riscos à natureza é da matriz. Segundo ele, desde 2017, a lei francesa obriga que todas as multinacionais do país tomem medidas para prevenir "ataques graves" aos direitos humanos e ao meio ambiente de suas filiais no exterior.
Déforestation : polémique au Brésil autour d’une filière d’achat de bétail de Carrefour https://t.co/ubu5jJBqcR
— Le Monde (@lemondefr) August 29, 2023
Carne da JBS
O jornal Le Monde sublinha que essa não é a primeira vez que o Carrefour é acusado de comercializar carne originária do desmatamento. No ano passado, a ONG Mighty Earth revelou que, apesar de ter se engajado a parar de comprar produtos vindos das chamadas "zonas críticas" até 2030, o gigante francês da distribuição seguia sendo abastecido pela multinacional brasileira JBS, que adquiria produtos de fazendas que destruíram um território indígena de Rondônia.
Após as revelações da Mighty Earth, o Carrefour se comprometeu a parar de comprar da JBS. No entanto, o diretor da ONG na França, Boris Patentreger, afirma ao Le Monde que os engajamentos não foram cumpridos. "Continuamos atentos e percebemos que o Carrefour seguia vendendo carne desses frigoríficos em seus supermercados no Brasil", diz.
Segundo ele, a pecuária é responsável por 80% do desmatamento da Amazônia, e os esforços da multinacional francês “ainda não estão à altura dos desafios”.
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