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Lula pede participação da UE em plano de investimento do governo

A convite da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, discursou na abertura de um fórum empresarial UE-América Latina, realizado na manhã desta segunda-feira (17) em Bruxelas. Durante o evento, Von der Leyen anunciou um pacote de investimentos de € 45 bilhões em cerca de 135 projetos voltados à transição verde e digital na América Latina, por meio da recém-lançada estratégia "Global Gateway" dos europeus. 

Da esquerda para a direita: o presidente do BID, Ilan Goldfajn, Lula, Ursula von der Leyen, o premiê espanhol, Pedro Sanchez, e Sergio Diaz-Granados, do banco de fomento da região andina, durante fórum empresarial na sede da Comissão Europeia, em Bruxelas.
Da esquerda para a direita: o presidente do BID, Ilan Goldfajn, Lula, Ursula von der Leyen, o premiê espanhol, Pedro Sanchez, e Sergio Diaz-Granados, do banco de fomento da região andina, durante fórum empresarial na sede da Comissão Europeia, em Bruxelas. REUTERS - YVES HERMAN
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Adriana Moysés, enviada especial da RFI a Bruxelas

O fórum empresarial UE-América Latina foi uma iniciativa do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, que está na presidência rotativa do bloco e tem trabalhado pelo aprofundamento da cooperação birregional.

Ao chegar à sede da Comissão em Bruxelas, Lula disse para Von der Leyen que o Brasil quer aprofundar as discussões climáticas com o bloco e pediu a participação dos europeus no novo Plano de Investimentos que o governo brasileiro irá lançar em agosto, com o objetivo de estimular o consumo interno no país. Os projetos irão promover a transição energética, a proteção das florestas e da biodiversidade brasileiras, sem abrir mão do crescimento e da criação de empregos. 

"A UE deveria entender que há 50 milhões de pessoas vivendo na Amazônia sul-americana que precisam ter condições decentes e dignas de sobrevivência", declarou. 

Von der Leyen disse que a volta de Lula ao governo do Brasil tinha "uma dimensão histórica". "Estamos enfrentando o desafio geracional da mudança climática. É por isso que precisamos que nossos amigos próximos estejam ao nosso lado nesses tempos incertos", disse ela.

Durante o fórum, Lula destacou que o encontro em Bruxelas confirma o engajamento dos empreendedores latino-americanos no relançamento da histórica aliança entre as duas regiões. No entanto, ele apontou que a guerra na Ucrânia lançou incertezas sobre o mundo e tem canalizado para fins bélicos recursos até então essenciais para a economia e programas sociais. "A corrida armamentista dificulta ainda mais o enfrentamento da mudança do clima", enfatizou o brasileiro.

A plateia era formada por investidores, ministros e dirigentes de bancos de fomento das duas regiões. O evento antecedeu o terceiro encontro de cúpula dos 60 líderes da Celac (Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos) e a União Europeia, previsto para começar no meio da tarde.

Depois de recordar que a União Europeia é o segundo maior investidor no Brasil – o bloco perde apenas para a China –, Lula reafirmou que espera concluir ainda este ano um acordo "equilibrado" entre o Mercosul e a UE.

"Queremos um acordo que preserve a capacidade das partes de responder aos desafios presentes e futuros", disse. Ele evocou a questão das compras governamentais, ponto que o Brasil quer melhorar na atual negociação. 

O acordo Mercosul-UE foi concluído em 2019 pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, após 20 anos de negociações, mas tem disposições desfavoráveis ao Brasil. Por isso, Lula insiste em aumentar o grau de proteção das empresas brasileiras na disputa por contratos públicos, para que a indústria e o setor de serviços não tenham seu desenvolvimento comprometido pela concorrência de grandes grupos europeus. Ele argumentou que os Estados Unidos e a União Europeia "saíram na frente e já adotam políticas industriais ambiciosas baseadas em compras públicas e conteúdo nacional".

Os entraves na implementação do tratado têm sido citados nas conversas bilaterais, mas nenhum avanço é esperado nesta visita de líderes a Bruxelas.

Modernização da infraestrutura

"O Brasil tem um grande mercado interno de 203 milhões de pessoas, com enorme capacidade de consumo ainda reprimida, que vai requerer a ampliação de investimentos em bens duráveis, insumos e serviços associados", disse o presidente.

O novo plano do governo prevê a retomada de empreendimentos paralisados, aceleração dos que estão em andamento e seleção de novos projetos de modernização da infraestrutura logística, com investimentos em rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos.

Lula reafirmou o objetivo de eliminar o desmatamento na Amazônia até 2030, assinalando que no primeiro semestre do ano houve um recuo de 34% de áreas desmatadas em relação ao ano passado.

"O Brasil voltou ao cenário internacional para contribuir no enfrentamento dos desafios do nosso planeta, como a crise das mudanças climáticas e o aumento das desigualdades", frisou o líder brasileiro. 

Depois de Lula, o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn, ainda falou sobre o enorme potencial estratégico que a América Latina representa para uma economia global mais limpa e socialmente justa. Goldfajn reiterou o compromisso do BID com a segurança alimentar, educação, saúde e proteção da Amazônia.

Na terça-feira, Lula tem uma reunião bilateral com a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen. Segundo fontes diplomátticas, ela poderá anunciar sua intenção de contribuir para o Fundo Amazônia

Nesses dois dias de eventos em Bruxelas, a UE e os 33 países da Celac tentam estreitar sua cooperação e retomar um diálogo interrompido, mas divergências consideráveis restam sobre a mesa. Além da guerra na Ucrânia e as tensões sobre o acordo Mercosul-UE, os europeus são criticados por tentar impor sua visão e o formato dos debates.

Diante dos atritos e visões divergentes, as reuniões bilaterais tendem a ser mais produtivas.

Crise na Venezuela

Os presidentes de Argentina, Brasil, Colômbia e França se reunirão no final da tarde desta segunda-feira com os negociadores do processo político da Venezuela, à margem do encontro Celac-UE.

Esta é a segunda reunião nesse formato, depois de uma sessão realizada em novembro, durante o Fórum de Paz de Paris, que não teve a participação de Lula. Um dos temas das conversas são as eleições de 2024 na Venezuela. O chavismo continua excluindo a participação de opositores e rejeita categoricamente o envio de uma missão de observação eleitoral do bloco europeu.

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