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Lula propõe a Macron argumentos para convencer UE sobre vantagem estratégica em acordo com Mercosul

Até 4 de julho, o Mercosul vai elaborar uma resposta à carta enviada pela União Europeia que adicionou novas exigências ambientais para a implementação do acordo comercial entre os dois blocos, sob pena de sanções. No almoço de trabalho ocorrido nesta sexta-feira (23) no Palácio do Eliseu, em Paris, o presidente Luiz Inácio da Silva reiterou ao anfitrião Emmanuel Macron que as novas exigências são “inaceitáveis”, disseram fontes do Itamaraty. 

O presidente francês, Emmanuel Macron, tem uma relação de amizade com Lula.
O presidente francês, Emmanuel Macron, tem uma relação de amizade com Lula. © Ricardo Stuckert
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Apesar das dificuldades, Lula reafirmou que o Brasil quer concluir o tratado e que os europeus deveriam olhar para o Mercosul como um parceiro estratégico, capaz de garantir segurança energética e alimentar, disseram fontes do Itamaraty.

Os líderes de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai devem aprovar a redação final da resposta do bloco à Comissão Europeia na reunião de cúpula marcada para 3 e 4 de julho em Puerto Iguazú, na Argentina. Em seguida, o documento será enviado a Bruxelas. Assim, a contraproposta poderá ser avaliada à margem da cúpula da Celac-UE (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), nos dias 17 e 18 de julho, na capital belga.

Durante o almoço, que teve peixe como prato principal e sobremesa de frutas vermelhas com sorbet, Lula e Macron falaram sobre as “sensibilidades” que têm adiado a conclusão do acordo em condições satisfatórias para as duas partes. O documento assinado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, em 2019, é considerado desfavorável ao Brasil, que deseja rever as cláusulas relacionadas com licitações públicas. Macron, por sua vez, sofre pressão de forças no Parlamento francês que são contra o tratado por razões de protecionismo, principalmente agrícola, além de haver um clima de desconfiança sobre questões ambientais e de biodiversidade.

Lula ofereceu a Macron argumentos que talvez pudessem levar a União Europeia a olhar para este acordo de forma estratégica, como um elemento que poderia criar vínculos importantes com a América do Sul. Em um mundo tão desafiador como o atual, em que a segurança energética é um negócio central, em que garantia de abastecimento, de segurança alimentar são importantes, os europeus deveriam levar em conta essa dimensão. Segundo fontes do Itamaraty, o governo brasileiro cobrou determinação política dos europeus para acomodar as “sensibilidades” dos dois lados e avançar.

A resistência ao acordo não afeta só a França; também existe na Polônia, Irlanda, Bélgica e Holanda. Na avaliação de um diplomata brasileiro envolvido nas negociações, a presidência rotativa da Espanha na União Europeia, no segundo semestre de 2023, seria uma boa janela de oportunidade para implementar o tratado. O governo socialista de Pedro Sanchez é favorável, mas a Espanha tem eleições gerais no final de julho e pode perder cadeiras para os conservadores do PP e extremistas de direita do VOX. Avanços no segundo semestre dependem da composição do novo Parlamento espanhol.

Antes da sessão de trabalho no Palácio do Eliseu, Lula participou do encerramento da cúpula para um Novo Pacto de Financiamento Global. Os países em desenvolvimento e emergentes reivindicaram a reforma das instituições financeiras multilaterais, em especial o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Entretanto, com poder de ação limitado, o evento terminou com avanços tímidos – criticados por organizações não governamentais.

Em seu discurso, Lula alegou que sem mudanças na governança mundial, “a questão climática vira uma brincadeira”. O governo brasileiro pretende pautar esse debate no encontro do IBAS, grupo formado por Índia, Brasil e África do Sul, em setembro, assim como na presidência rotativa do G20, no ano que vem.

Guerra na Ucrânia

No encontro com Macron, o governo brasileiro deixou claro que não irá vender armas e continuará neutro no conflito entre russos e ucranianos. Lula voltou a expor o posicionamento que tem causado duras críticas entre aliados de Kiev: todas as preocupações de segurança de ambos os lados têm que estar na mesa, disse a fonte diplomática. Na avaliação do governo brasileiro, não há meios de encurralar a Rússia. Sem solução militar para o conflito, só resta a saída diplomática.

França e Brasil enviam representantes para uma reunião organizada pela Ucrânia neste fim de semana na Dinamarca, com a participação de países do G7 e do sul global, incluindo alguns que permaneceram neutros após a invasão russa, em fevereiro de 2022. A reunião de Copenhague tem como objetivo discutir formas de alcançar uma "paz justa e duradoura".

O assessor especial da presidência, Celso Amorim, segue de Paris para o encontro na capital dinamarquesa. Para a diplomacia brasileira, a Ucrânia ter convocado países do sul e os aliados do G7 representa "um grande movimento".

Cúpula da Amazônia

Lula apresentou oficialmente a Macron o convite para o francês participar da Cúpula da Amazônia, entre 7 e 9 de agosto, em Belém. O encontro pretende reativar a OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica), que reúne oito países. Os líderes tentarão definir uma posição única da região sobre desenvolvimento e combate à crise climática em foros internacionais.

Apesar de a França ter uma fronteira com o Brasil através da Guiana Francesa, o país europeu não faz parte do grupo. Macron disse que irá apoiar as iniciativas que forem decididas, mas não confirmou se estará presente.

Por fim, Lula e Macron decidiram organizar uma segunda edição do Ano do Brasil na França (2005) e da França no Brasil (2009). Essa iniciativa dos dois países tem o objetivo de aprofundar as relações bilaterais no âmbito cultural, acadêmico e econômico.

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