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Brasil ingressa no principal fórum internacional sobre políticas de transporte

Depois de passar cerca de três anos como país observador, o Brasil tornou-se nesta quarta-feira (25), assim como a Costa Rica, membro pleno do Fórum Internacional dos Transportes (ITF na sigla em inglês), em cúpula que conta com a participação do ministro Renan Filho, na Alemanha. O ITF, sediado pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento), é o único organismo intergovernamental que debate, no plano global, tendências e políticas para todos os modos de transporte.

O ministro brasileiro dos Transportes, Renan Filho (à esquerda), e o secretário-geral do Fórum Internacional de Transporte (ITF), Young Tae Kim, mostram a carta de intenções de adesão do Brasil à organização.
O ministro brasileiro dos Transportes, Renan Filho (à esquerda), e o secretário-geral do Fórum Internacional de Transporte (ITF), Young Tae Kim, mostram a carta de intenções de adesão do Brasil à organização. © Foto: Luiz Siqueira
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O ITF faz até sexta-feira (26) seu encontro anual de cúpula em Leipzig, na Alemanha. Ao final da votação que aprovou as adesões do Brasil e da Costa Rica, que passam a ser o 65° e 66° membros da entidade, respectivamente, Renan Filho destacou o retorno do Brasil ao debate global. 

"A entrada do Brasil no ITF ocorre em um momento extremamente importante, quando nosso país reassume seu papel de líder regional e retoma seu protagonismo no combate à fome e no enfrentamento das questões associadas às mudanças climáticas", afirmou o ministro. "Queremos construir com nossos parceiros uma agenda global que gere crescimento econômico com distribuição de renda e sustentabilidade ambiental", afirmou. 

Em entrevista à RFI, Renan Filho disse que o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro "sentia um incômodo muito grande de participar desse fórum, por causa das questões ambientais". Na avaliação do ministro, integrar o ITF ajudará o Brasil "a ganhar competitividade e a avançar em sua infraestrutura de acordo com critérios de sustentabilidade", a principal preocupação do planeta.

Dos países da América Latina, Argentina, Chile, Colômbia e México já faziam parte do organismo, que tem funcionamento autônomo da OCDE.

Em Leipzig, Renan Filho apresentou aos ministros estrangeiros dois projetos considerados importantes para o Brasil. "O primeiro é a meta de, até 2035, ampliar de 17% para 40% o transporte de carga por ferrovias", explicou. "Isso vai aumentar a competitividade do país por reduzir custos e também diminuir a emissão de carbono." 

No entanto, o desenvolvimento do modal ferroviário brasileiro, amparado em investimento privado, é o que enfrenta mais dificuldade de financiamento em tempos de enxugamento de crédito e inflação elevada. A nova legislação que permite a empresas construir a infraestrutura necessária ao escoamento de seus produtos, por meio de contratos de autorização mais flexíveis e menos burocráticos do que uma concessão tradicional, ainda é recente para demonstrar se irá produzir os efeitos desejados.   

O segundo projeto relevante para a região são as rotas bioceânicas, em particular o corredor rodoviário que vai ligar o Porto de Santos, no Atlântico, com dois portos chilenos no Pacífico, passando por Paraguai e Argentina. Essa rota é vista pelos quatro governos envolvidos como uma infraestrutura estratégica, por encurtar o caminho e agilizar as exportações e importações dos países sul-americanos à Ásia, Oceania e costa oeste dos EUA. 

De acordo com Renan Filho, a iniciativa regional foi bem acolhida entre os participantes da cúpula. "São investimentos fundamentais porque priorizam as duas áreas: interesses econômicos e de sustentabilidade do país", disse, acrescentando que o ITF reconheceu positivamente "o esforço do Brasil de modernizar sua infraestrutura de transportes".

Mas o corredor enfrenta críticas de ambientalistas. No Mato Grosso do Sul, a rodovia atravessa o sul do Pantanal, um bioma fragilizado. Outro aspecto controverso é que o projeto atende basicamente os interesses do agronegócio brasileiro, que em muitos aspectos, como o desmatamento, o uso de agrotóxicos e a constante expansão da fronteira agrícola, fere os critérios de sustentabilidade.

Segundo o ministro, as obras no Brasil e no Paraguai estão bem avançadas e financiadas. Mas faltam ainda os investimentos da Argentina e do Chile para facilitar os acessos aos portos do Pacífico. Os governos argentino e chileno estão em conversas com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para modernizar as rodovias de acesso aos portos.

Bilateral com ministro alemão

À margem da cúpula do ITF, Renan Filho teve uma reunião bilateral com o ministro dos Transportes alemão, o liberal Volker Wissing.

O brasileiro disse que eles conversaram sobre a importância que se está dando ao crescimento dos carros elétricos, mas recordou que "se a geração da energia continua sendo por carvão, é um caminho muito sujo, com muita emissão de CO2".

Ele disse ter ressaltado que o Brasil tem a matriz energética mais limpa do planeta. "E isso é muito importante de ser dito, porque os países ricos exportam a tecnologia do carro elétrico, mas produzem energia elétrica com grande emissão de carbono; então, essa é uma discussão que tem de ser colocada na centralidade", afirmou à RFI

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