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Brasil multiplica candidaturas indígenas, negras e trans nas eleições de 2022

Nesta eleição geral brasileira, o número de candidatos indígenas alcançou um recorde, com 178 pretendentes a cargos legislativos, o que representa 0,63% do número total. Uma dessas candidatas é a professora Claudia Baré, que mora na capital amazonense, Manaus. Frustrada com o fato de que os interesses de sua comunidade não tenham sido levados em consideração pelos representantes "brancos", a ativista indígena decidiu entrar na política. O mesmo fenômeno se repete com candidaturas negras e trans.

Claudia Baré, candidata indígena ao Congresso pelo Estado do Amazonas, distribui folhetos em sua comunidade ao norte de Manaus, uma aldeia indígena conhecida como "Parque das tribos", em 27 de setembro de 2022.
Claudia Baré, candidata indígena ao Congresso pelo Estado do Amazonas, distribui folhetos em sua comunidade ao norte de Manaus, uma aldeia indígena conhecida como "Parque das tribos", em 27 de setembro de 2022. © Achim Lippold/RFI
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Claudia Baré faz sua campanha batendo de porta em porta em seu bairro, a comunidade do Parque das Tribos. Cerca de 2 mil indígenas se estabeleceram nesta área rural ao norte de Manaus. Entre os moradores do lugar está Janine, que recebe a candidata em sua casa: "Espero que este bairro melhore. Há falta de infra-estrutura, como escolas. As estradas às vezes estão em um estado que não permite a circulação de carros. E a partir das 21h, nenhum táxi entra aqui", ela diz, apoiada por Claudia Baré.

A candidata fundou esta comunidade em 2014 e conhece bem seus problemas. Faz apenas dois anos que as moradias das famílias indígenas foram conectadas à água potável da cidade. "Fiquei indignada com tantas coisas", testemunha ela. "Não há políticas públicas para nossa saúde e educação. Mas estamos começando a levantar nossa voz e a lutar por um mandato legislativo para poder mudar as práticas políticas existentes", declarou à RFI.

Claudia Baré, que está concorrendo pelo PDT, passa pela casa de Chicão e lhe entrega um panfleto com seu programa de governo. "É importante ter um candidato indígena que defenda nossos interesses", afirma Chicão. O vizinho lhe garante que votará nela nas eleições legislativas. Mas, para o cargo de presidente, ele dará seu voto a Jair Bolsonaro, como muitos indígenas desta comunidade.

Para conhecer melhor as opções de candidaturas dos povos originários, a iniciativa da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) promove candidatos a deputado federal em 12 estados e a deputado estadual em 15 unidades da federação na conta Instagram Campanha Indígena 2022, plataforma preferida dos novos candidatos das chamadas "minorias" brasileiras, que facilita o formato de "lives". O manifesto pode ser lido em sua integralidade, clicando aqui.

Vozes negras, femininas, periféricas e trans

Outras iniciativas da sociedade civil brasileira, cansada de ser subrepresentada em suas especificidades, também afloram nestas eleições gerais de 2022, como o coletivo Mulheres Negras Decidem, criado para promover a agenda liderada por mulheres negras na política institucional, "fortalecendo a democracia brasileira e usando como estratégia a superação da falta representatividade de mulheres negras nas instâncias de poder".

Em São Paulo, a campanha do #VotoAntirracista foi criada para "fomentar a candidatura de pessoas pretas", apresentando um rol de propostas de diversos candidatos. A campanha explica quais os papéis dos cargos públicos e realiza lives com candidatos negros, a maioria mulheres, para que as propostas sejam compartilhadas e o debate sobre representatividade no poder público alcance a população.

Enegrecer a Política é uma plataforma permanente, realizada com a participação de importantes organizações do movimento negro e de mulheres, com o objetivo de ocupar os espaços de decisão e de poder. Outra opção para quem deseja se informar melhor sobre candidaturas negras é a campanha Eu Voto Em Negra, que faz parte do Projeto Mulheres Negras e Democracia. A hashtag #EuVotoEmNegra é utilizada nas redes sociais para compartilhar opções de voto e propostas políticas.

Outra iniciativa importante é a Quilombo nos Parlamentos, da Coalizão Negra por Direitos, que promove pessoas ligadas ao movimento negro candidatas a cargos no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas em 2022, em todas as regiões do país.

Para homenagear as candidatas trans e travestis, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) mapeou 79 candidaturas trans no país, no aniversário de 30 anos do Movimento Trans no Brasil. A proposta é valorizar essas candidaturas e "refletir sobre candidaturas que são lançadas propositalmente precarizadas pelos partidos". Para ter acesso a todas as candidaturas trans e travestis, além de conhecer o Manifesto pela TransPolítica, clique aqui.

As feministas não ficam atrás, e o projeto-ação Meu voto será Feminista, que desde 2018 fortalece a presença de feministas na política e ativa a cultura pelo voto em mulheres, lançou uma plataforma de candidaturas com grande oferta de debates e pautas diferenciadas.

(Com informações do enviado especial da RFI a Manaus, Achim Lippold)

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