Família de brasileira presa na Tailândia rompe silêncio por temer pena de morte

Três brasileiros foram presos acusados de tentar entrar com drogas na Tailândia, país que tem leis severas para o tráfico, inclusive pena de morte. A execução de dois brasileiros na Ásia em 2015 reforça receio de amigos e familiares.

Brasileiros foram detidos quando desembarcavam no aeroporto da capital tailandesa com droga escondida em mala. AFP - LILLIAN SUWANRUMPHA

Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

A cidade de Pouso Alegre, no sul de Minas Gerais, viu seu nome ganhar páginas de jornais nos últimos dias após a notícia de que três brasileiros, entre eles uma de suas moradoras, foram presos com mais de 15 quilos de cocaína ao desembarcar na Tailândia.

Um homem de 27 anos, que não teve o nome nem a cidade onde residia divulgados, foi preso junto com Mary Helen Coelho Silva, de 21 anos, nascida no Rio de Janeiro, mas moradora de Pouso Alegre. A informação é de que eles transportavam a droga num compartimento oculto das malas. O outro brasileiro é Jordi Vilsinski Beffa, de 24 anos, morador de Apucarana, no Paraná, que chegou a Tailândia em outro voo.

A família de Mary Hellen Coelho Silva decidiu romper o silêncio e dar publicidade à prisão na esperança de que haja mobilização de autoridades brasileiras e de que algum advogado no país asiático assuma a defesa. Amigos e parentes da jovem querem que ela cumpra pena no Brasil. Até o áudio que ela enviou a uma das irmãs, pedindo ajuda para responder pelas acusações no Brasil, foi divulgado à imprensa.

Seus familiares não sabiam da viagem e achavam que ela tinha ido a Curitiba, onde disse que encontraria um rapaz que conheceu pelas redes sociais. A família acredita que Mary Hellen possa ter sido enganada para fazer tal roteiro, e a descreve com uma pessoa sonhadora e trabalhadora. A jovem já teve empregos em vários ramos e antes de viajar pediu as contas numa lanchonete onde tinha carteira assinada.

Amigos da jovem dizem que ela já fumou maconha, mas não acreditam que tenha envolvimento com o tráfico de drogas. Colegas contam que Mary, filha do meio entre cinco irmãos, queria montar um negócio com a irmã para a venda de bolos e ajudar no tratamento da mãe, que tem um câncer em fase terminal e chegou a ser internada quando soube da prisão da filha.

Penas severas

O Itamaraty diz que está prestando toda assistência cabível aos detidos e que a embaixada brasileira no país acompanha o caso. Mas o destino de três brasileiros está nas mãos de autoridades da Tailândia.

O país asiático tem leis severas para esse tipo de crime, inclusive prisão perpétua e pena de morte. Advogados ouvidos pela RFI disseram que a chance deles serem extraditados depende da punição que receberem. A avaliação é de que se forem condenados à pena capital, é praticamente nula a possibilidade de um retorno.

Brasileiros executados

Para a família de Mary Helen, a lembrança de dois casos de execução de brasileiros pegos com droga em países asiáticos é o que torna mais angustiante acompanhar todo o processo.

Em janeiro de 2015, após ficar 11 anos preso, Marco Archer foi fuzilado na Indonésia aos 53 anos. Ele havia sido preso em 2004 ao tentar entrar no país com 13 quilos de cocaína escondidos em tubos de uma asa delta. O caso chegou a gerar atritos entre a diplomacia brasileira, da presidente Dilma Rousseff, e o governo da Indonésia.

Em abril de 2015, outro brasileiro, Rodrigo Gularte, de 42 anos, foi morto a tiros por um pelotão de fuzilamento também em solo indonésio. Ele havia sido condenado em 2005 por carregar seis quilos de cocaína dentro de uma prancha de surfe. A família de Gularte fez vários apelos alegando que ele sofria de problemas mentais, mas não conseguiu reverter a condenação. Uma prima de Gularte disse que ele tinha delírios na prisão e não sabia que seria morto.