Após morte de cliente negro em Porto Alegre, Carrefour promove iniciativas contra o racismo
O jornal Les Echos desta quarta-feira (16) publica uma matéria sobre o desgaste da imagem do Carrefour no Brasil, acusado de racismo após a morte de um cliente negro por espancamento por dois seguranças de um supermercado em 19 de novembro, em Porto Alegre. "A empresa tenta recuperar sua reputação e se transformar em exemplo de luta contra o racismo", afirma o diário.
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"No Brasil, Carrefour confrontado ao racismo que gangrena todo o país", é manchete no jornal Les Echos. O correspondente do diário em São Paulo, Thierry Ogier, afirma que, após a morte de João Alberto Silveira Freitas, o grupo francês, que é líder do setor supermercadista no Brasil, assumiu rapidamente sua responsabilidade no caso.
No entanto, o mea culpa do Carrefour não teve o efeito esperado e a companhia continua sendo alvo de manifestações em diversas cidades onde atua. Militantes do Movimento Negro promovem ações incentivando o boicote do grupo. O Carrefour também foi removido do quadro de associados do Instituto Ethos, uma das principais organizações para a promoção de responsabilidade social no setor privado. Além disso, o grupo foi retirado do índice de responsabilidade social da Bolsa de Valores de São Paulo. "Uma verdadeira viagem ao inferno", classifica Les Echos.
"Como se recuperar desse choque?", questiona a matéria, enumerando algumas ações que a companhia vem promovendo para tentar melhorar sua imagem. Uma das primeiras iniciativas foi reconhecer a existência de uma falha em seu modelo de inclusão e diversidade. Após romper o contrato com a empresa terceirizada onde trabalhavam os dois seguranças que mataram João Alberto, o Carrefour também lançou uma série de ações para lutar contra o racismo no Brasil.
Iniciativas custarão R$ 25 milhões
O grupo francês publicou um manifesto para ilustrar sua nova política de tolerância zero ao racismo, que envolve todos os empregados e setores ligados ao Carrefour, da segurança à mão de obra, passando pelos fornecedores. A empresa também se engajou em uma nova política de contratação responsável e promoção de seus funcionários. Além disso, criou um comitê independente, formado por pessoas negras e brancas, para orientar o projeto de luta contra as discriminações. As iniciativas encabeçadas por esse conselho receberão um financiamento de R$ 25 milhões.
No entanto, apesar de todos os esforços, a matéria salienta que a má reputação deve ficar associada à imagem do Carrefour durante um bom tempo. Por outro lado, a gestão desta crise pode fazer escola, já que sensibilizou outros chefes de empresa a adotarem uma postura similar.
O diário avalia que iniciativas como às do grupo francês são inéditas no Brasil e será difícil para outras companhias não seguirem o mesmo caminho. "Um combate a longo prazo", conclui o jornal Les Echos, lembrando que o racismo é um problema "profundamente arraigado à sociedade brasileira, frequentemente inconsciente, e que gera comportamentos desdenhosos, agressivos e até mortais".
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