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Para ONU, assassinato brutal de João Alberto é exemplo do "racismo estrutural" no Brasil

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos declarou nesta terça-feira (24) que o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, um homem negro que morreu espancado por seguranças brancos em uma unidade do Carrefour de Porto Alegre, é um exemplo do "racismo estrutural" do Brasil. O órgão da ONU pediu uma investigação independente sobre o caso e reformas urgentes no país.

Manifestação contra a morte de João Alberto, um cliente negro espacando por seguranças brancos em uma unidade do Carrefour no Brasil.
Manifestação contra a morte de João Alberto, um cliente negro espacando por seguranças brancos em uma unidade do Carrefour no Brasil. REUTERS - DIEGO VARA
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Em Porto Alegre, onde o crime aconteceu na quinta-feira (19) da semana passada, e em várias outras cidades brasileiras ocorrem protestos diários desde a publicação do vídeo da agressão de João Alberto. As imagens "insuportáveis" mostram o homem negro, de 40 anos, sendo agredido no rosto e na cabeça por um segurança do supermercado enquanto era imobilizado por outro vigia.

Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, disse à imprensa em Genebra que a morte de João Alberto foi "um exemplo extremo, mas infelizmente muito comum, da violência sofrida pelos negros no Brasil". O caso "oferece uma clara ilustração da persistente discriminação estrutural e do racismo enfrentados pelas pessoas de ascendência africana", afirmou. A porta-voz destacou que governo brasileiro tem a responsabilidade de reconhecer o problema do racismo persistente para conseguir resolvê-lo.

Bolsonaro minimiza racismo

Jair Bolsonaro minimizou o problema do racismo estrutural no Brasil. O presidente brasileiro disse que é "daltônico" nesta questão. Já o vice-presidente Hamilton Mourão gerou indignação na sexta-feira (20) quando afirmou que "não existe racismo" no Brasil.

Segundo a porta-voz do Alto Comissariado da ONU, "o racismo estrutural, a discriminação e a violência que os afrodescendentes enfrentam no Brasil estão documentadas por dados oficiais". Ravina Shamdasani citou estatísticas que mostram que "o número de vítimas afro-brasileiras de homicídio é desproporcionalmente mais alto do que outros grupos". "Os brasileiros negros sofrem racismo estrutural e institucional, exclusão, marginalização e violência com, em muitos casos, consequências mortais", destacou.

Embora o Brasil tenha aberto uma investigação sobre a morte de João Alberto, Shamdasani pediu que o inquérito seja "rápido, exaustivo, independente, imparcial e transparente". Para ela, é fundamental que se analise se "os preconceitos raciais desempenharam um papel" nesse assassinato que aconteceu na véspera de uma data simbólica para o Brasil, o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro.

Onda de indignação

Desde o assassinato, manifestações ganharam as ruas das principais cidades do país, aos gritos de “Carrefour assassino” ou “Carrefour racista”. Os manifestantes lembram que o caso João Alberto não é isolado. Há vários precedentes de violência contra clientes negros nas unidades do Carrefour no Brasil.

A direção do grupo francês reagiu falando em "tragédia incalculável" e prometendo combater o "racismo estrutural". O presidente do Carrefour, Alexandre Bompard, publicou um tuíte em português pedindo uma "revisão completa da formação dos agentes de segurança" do grupo.

No Brasil de 212 milhões de habitantes, cerca de 55% da população se identifica como negra ou parda. De acordo com o "Atlas da Violência" publicado em agosto passado, o número de assassinatos de negros aumentou 11,5% entre 2008 e 2018, enquanto entre os não negros diminuiu 12,9%.

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