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Le Monde: descaso de Bolsonaro contribuiu ao desastre do Pantanal

“Pantanal, no Brasil, paraíso da biodiversidade destruído pelas chamas” é o título da reportagem do correspondente Bruno Meyerfeld, publicada pelo site do jornal francês Le Monde nesta terça-feira (29).

Carcaça de um jacaré por causa de um incêndio na área próxima à estrada Transpantaneira no Pantanal, perto de Poconé (MT), 14 de setembro de 2020.
Carcaça de um jacaré por causa de um incêndio na área próxima à estrada Transpantaneira no Pantanal, perto de Poconé (MT), 14 de setembro de 2020. AP - Andre Penner
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“A zona úmida, que abriga uma fauna e uma flora excepcionais, é uma mera sombra do que já foi”, constata o jornal francês, citando os mais de 16 mil focos de incêndio recenseados na região desde o início do ano. O repórter relata a destruição que vê diante de si. Um jacaré carbonizado, depois, um crânio de búfalo. Mais adiante, a sinistra carcaça de uma cobra, “congelada” em meio à desesperada fuga das chamas.

Em fim da estação seca, o Pantanal tem ares de cemitério, segundo Le Monde. “Assolada por gigantescos incêndios desde julho, essa área de biodiversidade excepcional, que abriga cerca de 650 espécies de aves, 98 de répteis e 159 de mamíferos, já perdeu, segundo especialistas, de 20% a 25% de sua área, ou seja, de 3 a 4 milhões de hectares viraram fumaça”, explica o jornal. “O equivalente à área da Bélgica ou Suíça”.

Paraíso vira inferno

O repórter faz um paralelo com um exemplo francês. Ele lembra que, há poucos meses, viajar pela Transpantaneira, de 150km, que vai de Poconé a Porto Jofre, de paisagem preservada, com lagos e pântanos, lembrava a bela região natural de Camargue, no sul da França. O trajeto era repleto de animais como onças, antas, tamanduá-bandeira e sucuris e araras com plumagem azul meia-noite. “Um paraíso do ecoturismo”, diz o jornalista.

Em setembro, tudo mudou. “O Pantanal não passa de uma sombra de si mesmo”, onde “matas carbonizadas, cor de carvão, sucedem-se a rios e lagos secos, riscados como um velho pergaminho”. A seca chegou potencializada por milhares de incêndios. “Desde o início do ano, foram registrados 16.000 na região, contra apenas 6.000 no mesmo período de 2019”, lembra o jornal.

Além dos animais, os homens também sofrem, começando pelos bombeiros da região. “Um caos total”, diz um chefe da equipe local, relatando a falta de helicópteros, cisternas e homens. Apagar as chamas, “só se for cuspindo”, diz o bombeiro, com raiva.

Fatores da destruição incluem governo Bolsonaro

Um guia local explica à reportagem que o governo priorizou salvar o agrobusiness do que o turismo e os animais. As ONGs apontam o dedo para os grandes fazendeiros. “Esse desastre é resultado de ação humana”, segundo um ambientalista.

A tragédia é resultado de vários fatores, e um deles, dizem os especialistas, é Jair Bolsonaro. O governo federal, acusa o biólogo Alcides Faria, entrevistado por Le Monde, “não fez nada para evitar os incêndios, além de acabar com operações de vigilância de agências ambientais, que intimidam os fazendeiros”.

O correspondente Bruno Meyerfeld visitou o Pantanal acompanhado do fotógrafo Victor Moriyama, um dos destaques do último festival Visa pour l’Image, em Perpignan, no sul da França, em setembro.

 

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