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Lula/ Suíça

Em Genebra, Lula diz que "Brasil não merece uma coisa grotesca como Bolsonaro”

O ex-presidente Lula disse em Genebra que “o Brasil não merece uma coisa grotesca como o Bolsonaro”. “O Brasil merece outro tipo de gente, alguém que goste de democracia, de negro, de mulher, que respeite e goste de LGBT, alguém que goste de preservar o meio ambiente, alguém que não queira vender a Petrobras, alguém que não queira acabar com a estabilidade do servidor público”, disse ele, em encontro com representantes de sindicatos globais no Clube Suíço da Imprensa para falar sobre desigualdade.

O ex-presidente Lula fala para plateia no Clube Suíço da Imprensa em Genebra, em 6 de março de 2020.
O ex-presidente Lula fala para plateia no Clube Suíço da Imprensa em Genebra, em 6 de março de 2020. Valéria Maniero
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Correspondente da RFI em Genebra,

Lula disse ainda que “quem não deveria estar no Estado era uma figura como ele, que foi tenente, expulso por insubordinação, tentou explodir um quartel. Na verdade, ele é o estranho, não é o servidor público. Não é o povo brasileiro que ele vive perseguindo. Não dá para desanimar, pra gente ter medo. Só tem uma luta que a gente perde: aquela que a gente não faz”, afirmou.

Segundo Lula, a prisão dele e o impeachment de Dilma aconteceram porque, se fosse candidato, teria sido eleito em primeiro turno. “Eu ganhei em 2002, 2006, 2010, com a Dilma, 2014, e fomos o segundo colocado com o Haddad agora em 2018. Se eu fosse candidato, certamente eu teria ganhado as eleições em primeiro turno. Essa é a razão pela qual houve o impeachment da Dilma e essa é a razão pela qual eu fui preso. Estejam certos disso. A razão da nossa prisão e do impeachment da Dilma não teve nada a ver com corrupção. A corrupção sempre foi utilizada, historicamente, para derrubar qualquer governo que se meta a fazer qualquer benefício para a parte mais pobre de cada população”, afirmou.

Lula voltou a falar que vai se casar em breve. “Espero de aqui a uns dias comunicar pra vocês o nosso casamento”. “Quando eu falo que estou com energia de 30 anos, que um cara de 74 vai casar outra vez é porque está com muita energia e disposição”, disse ao agradecer à namorada Rosângela da Silva, que o acompanhava no evento.

“Tenho 74 e tesão de 20”

Ao dizer que estava muito consciente a respeito do que enfrentaria pela frente, voltou a dizer que estava muito disposto. “A morte que não espere por mim tão cedo. Eu brinco no Brasil que já nasceu o homem que vai viver 120 anos. E eu me pergunto: por que não eu? Quando eu falo essa história de que eu tenho 74, energia de 30 e tesão de 20, é porque se a morte estiver espreitando em algum lugar, esse cara vai resistir. Assim, eu vou levando a vida com muita disposição de lutar”, disse.

Pediu uma salva de palmas aos professores de São Paulo que, recentemente, foram vítimas de violência. “O governador mandou agredir pessoas de 60 anos. Mulheres de 70 anos foram agredidas dentro do prédio da Assembleia Legislativa”, afirmou.

“Precisava sair para provar que canalhas foram aqueles que me prenderam”

Quando chegou, foi recebido com uma série de “Boa noite, presidente Lula”, como diziam para ele quando estava preso. “Esse grito: bom dia, lula, boa tarde, Lula, boa noite, Lula, foi durante 580 dias, ânimo que precisava para sair da cadeia mais forte, com mais disposição para lutar para provar a minha inocência e provar que canalhas foram aqueles que me prenderam, mentirosos foram aqueles que me prenderam e se alguém cometeu crime foram eles, que mentiram à sociedade brasileira. O tempo se encarregará disso. Aquelas pessoas que ficaram tomando chuva foram as que me sustentaram ali”, disse, agradecendo às pessoas que foram visitá-lo, lembrando do tempo em que estava preso e recebia parentes e amigos.

Ao deixar a presidência, em 2010, disse que “era um homem realizado politicamente”. “Quando eu cheguei na presidência, eu tinha medo de fracassar. Eu tinha na cabeça que não poderia fracassar, porque, se eu fracassasse, nunca mais um trabalhador conseguiria chegar à presidência da República. Eu era a primeira alternância de poder, de verdade, no Brasil”, disse ele, que informou também que, se tudo der certo, estará em 1 de maio em Cuba.

Encontro com pai de Julian Assange

Antes de se reunir com representantes dos sindicatos, Lula teve um encontro com o pai de Julian Assange, John Shipton, que está em Genebra. Ele defendeu a liberdade do fundador do Wikileaks, preso desde abril de 2019 em Londres.

Na entrada, um grupo com instrumentos musicais tocou: “Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula” e “Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo”. Com camisas vermelhas e bandeiras com a inscrição “Lula Livre” e “Liberdade para Lula”, além das do MST, 80 pessoas aguardavam a chegada do ex-presidente ao Clube Suíço da Imprensa. O evento, marcado para as a 18h, começou às 19h49 e foi até as 21h.

As pessoas também gritaram: “Lula, guerreiro, do povo brasileiro”. Vilma dos Santos e a filha Maria Vitória dos Santos levaram cartazes com frases de agradecimento ao ex-presidente: “Lula, nós “ti” amamos. Obrigado por tudo, meu presidente” e “O medo deles é o cara voltar”, escrito ao lado de uma foto de Lula. Manifestantes também levaram a placa de Marielle Franco, cujo assassinato completa dois anos na próxima semana.

Já na sala do evento, que demorou mais de uma hora e meia para começar, as pessoas gritaram: “Ô Lula, cadê você, eu vim aqui só pra te ver”, “Lula, guerreiro, do povo brasileiro” e “Marielle, presente!”. Três diplomatas venezuelanos e um cubano estiveram presentes ao evento.

Mais perto das igrejas

Hoje pela manhã, Lula esteve no Conselho Mundial de Igrejas (CMI), em Genebra, entidade que congrega mais de 340 igrejas, em mais de 120 países, representando mais de 500 milhões de fiéis no mundo.

“Vim trazer um testemunho. O de que é possível resolver o problema dos pobres no mundo. Não é teoria. Enfrentar ou não a fome é uma decisão política”, disse ele, que esteve no CMI para debater o enfrentamento à desigualdade.

Ele disse também que era contra a politização das igrejas. “Acho que na hora da eleição os pastores votam com a consciência deles. Mas na pregação, eles têm que defender os mais pobres, os esquecidos, os marginalizados. Essa é a causa de Jesus Cristo”, afirmou o ex-presidente, que se reuniu com o secretário-geral do Conselho, Olav Fylkse Tveit, com Isabel Phiri, secretária-geral adjunta do Conselho Mundial de Igrejas, com a pastora Lusmarina Campos Garcia, do Fórum Ecumênico ACT Brasil, e com o reverendo Odair Pedroso, diretor do Departamento de Fé e Ordem do Conselho Mundial de Igrejas.

O encontro pretende ser o primeiro de uma colaboração para debater a desigualdade no mundo. “Já tenho 74 anos e não posso sair da política, porque eu tenho uma causa. E a causa é a luta por um mundo mais justo, mais humano e mais solidário”, disse Lula.

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