De Diadema para o mundo: escritor de periferia, Alexandre Ribeiro promove sua obra na Alemanha
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O jovem escritor paulista Alexandre Ribeiro é uma pessoa determinada. Natural de Diadema, na região do ABC paulista, ele sonhava em estudar na Alemanha e conseguiu. Sem recursos, batalhou e obteve uma bolsa de trabalho social voluntário do governo alemão. Ele mora atualmente no norte do país, perto de Hamburgo. Ribeiro é um autor de periferia e aproveita a temporada de um ano no território europeu para promover sua obra e falar de literatura brasileira por onde passa.
O autor divulga na Alemanha principalmente seu primeiro romance “Reservado”, publicado pela editora Miudeza, que ele mesmo criou. O livro conta a história de um menino acanhado, que mora em uma favela e usa a imaginação para escapar da violência. A obra vendeu 2 mil exemplares e esgotou a primeira edição.
Ribeiro se ocupou também da distribuição do livro, vendendo sua obra nas portas de teatro e escolas estaduais de São Paulo. “Aprendi que a minha narrativa tem um valor que mensuro como imenso. E muitas vezes muitas pessoas não podem dar esse mesmo valor. Eu não vou esperar alguém me valorizar para que a minha história seja contada. Foi a partir disso que decidi publicar meu livro, com uma história que se parece comigo, pela minha editora e fazer com que ele não morra numa prateleira. É incrível ter um livro publicado, mas e depois? Ele tem que chegar nos leitores”, conta.
O escritor independente, de 21 anos, participou da última Feira do Livro de Frankfurt. Com desenvoltura e simpatia, falou em inglês fluente sobre sua história, a literatura de periferia, o governo Bolsonaro e vendeu vários exemplares da edição em inglês de “Reservado”, que “está tendo uma ótima receptividade pelo público”.
Violência
Ribeiro lembra que, como morador de uma favela de Diadema, sofreu e ainda sofre muita violência "na pele”. O escritor perdeu o pai aos 11 anos de idade, a mãe é faxineira e ele conseguiu ter acesso ao conhecimento, estudar jornalismo e inglês, graças às políticas públicas dos governos anteriores. O jovem escritor sabe que é uma exceção: “Muitas vezes você vê que a criminalidade e a violência chegam muito antes que a educação.”
“Como fazer para não ser mais um na estatística?” pergunta. A solução é criar pontes, acredita. “Nunca foi fácil fazer arte no Brasil sendo pobre, morador de favela e negro. Atualmente, nosso papel é ser contra a corrente, contra essa cultura que está estabelecida, essas pessoas que são privilegiadas e não entendem o privilégio delas. A maneira da nossa literatura é de combater isso, de trazer um pouco de consciência de tentar criar pontes, diálogos, e ao mesmo tempo embates que sejam saudáveis para nossa democracia. (...) Transformar essa dor em algo que seja combustível, algo que me mova.”
Jovens criminalizados
A sociedade brasileira atual criminaliza a vida dos jovens das periferias, denuncia, ao lembrar um momento marcante de sua vida, quando foi acuado por um policial durante a última campanha presidencial. Ele estava em uma praça pública, lendo um livro, e foi tratado como um marginal, viciado em drogas: “Eu quero ser esse exemplo. Quero ver mais jovens que se parecem comigo estando em praças, lendo livros, pensando na própria história, pensando como eles podem transformar o futuro de suas vidas. Não sujeitados a ficar sem fazer nada e se for fazer alguma coisa, que seja o uso de drogas. Eu não gosto deste pensamento, de minimizar nossa existência. A minha ideia é que a literatura seja um caminho para criar novas perspectivas e esse governo vai totalmente contra isso.”
Alexandre Ribeiro está preocupado com os recuos registrados no governo Bolsonaro, mas continua ativo na militância e cheio de projetos. Ele tem uma coluna @Daquebrada pro mundo, que deve também render um próximo romance. “As pessoas estão conhecendo meu trabalho, cada vez mais estou ganhando seguidores nas redes sociais. Vejo que a literatura tem um poder. Falar que jovem não lê é uma grande mentira! Meu público é 90% jovem, dos 13 aos 20 anos”, conclui.
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