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“Eu estou de volta”, diz Lula em discurso no Sindicato dos Metalúrgicos

Vestidos de vermelho, centenas de militantes da esquerda compareceram à sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, em São Paulo, neste sábado (9) para ouvir o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, um dia após o petista deixar a prisão.

Lula discursa em São Bernardo do Campo, São Paulo. Em 9 de novembro de 2019.
Lula discursa em São Bernardo do Campo, São Paulo. Em 9 de novembro de 2019. REUTERS/Amanda Perobelli
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Lula disse que fará um pronunciamento aos brasileiros em 20 dias. Emocionado, contou que está pronto para retomar a luta política. “Eu tenho mais coragem de lutar hoje do que antes”, disse. “Eu estou disposto a percorrer esse país com os dirigentes sindicais”, completou.

“Cá estou eu, livre como um passarinho”, comemorou o petista. “Eu estou de bem com a vida e vou lutar por esse país. Nós já provamos que é possível trabalhar para o povo”, afirmou o ex-presidente.

No mesmo local onde fez o seu último discurso antes de ser preso, em abril de 2018, Lula explicou que na época não procurou asilo em uma embaixada, preferindo cumprir pena em Curitiba, para não ser tratado como fugitivo. “Quando um homem tem clareza do que ele quer na vida e do que representa, e tem certeza que seus acusadores estão mentindo, não tem escolha. Eu tomei a decisão de ir à Polícia Federal e não ir para uma embaixada”, lembrou.

Críticas à Lava Jato

Em sua fala, Lula também criticou o atual ministro da Justiça, Sérgio Moro, acusando o ex-juiz responsável pela sua prisão e de outros acusados na Operação Lava Jato de ter sido parcial. “Eu preciso provar que o juiz Moro não era juiz, mas era um canalha que estava me julgando”, afirmou.

Em liberdade havia menos de 24 horas, Lula foi recebido na região metropolitana de São Paulo com abraços calorosos de seus simpatizantes. O prédio estava decorado com uma enorme faixa com sua foto. Uma estátua de papelão de dez metros do ex-presidente foi adornada com a faixa presidencial nas cores do Brasil em que se lia “Lula livre”.

"Eu vim porque acredito na inocência dele", disse Tamara Blanco, 38 anos, moradora de São Bernardo. Lula "é o melhor presidente que o Brasil já teve e continuará sendo", acrescentou.

Sem ódio

A multidão aplaudiu o político, de 74 anos, que ficou preso durante 19 meses por corrupção e lavagem de dinheiro. “Eu me preparei espiritualmente para não ter ódio e não ter sede de vingança, porque eu queria provar que, mesmo preso, eu dormia com a consciência tranquila”, afirmou Lula, diante da multidão. Mas “eu duvido que Moro, Dallagnol e Bolsonaro durmam com a consciência tranquila”, completou, citando o procurador do Ministério Público, Deltan Dallagnol e o presidente da República, Jair Bolsonaro.

“Esse país não merece o governo que tem”, continuou Lula. “Nós aceitamos o resultado da eleição, mas ele (Bolsonaro) foi eleito para governar para os brasileiros e não para os milicianos do Rio de Janeiro”, disse. Em seguida, o petista perguntou quem matou Marielle Franco, a vereadora assassinada em março de 2018, no Rio de Janeiro, e exigiu investigações independentes.

Mais cedo, Bolsonaro havia reagido à soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com uma mensagem pelo Twitter, em que defendeu a independência do ministro da Justiça, Sérgio Moro.

Em tom de campanha eleitoral, Lula terminou seu discurso de 45 minutos prometendo melhorar a educação no Brasil. “Em vez de armas, vamos distribuir livros e cultura”, afirmou.

O político também lembrou a infância difícil no Nordeste. “Eu nasci em Garanhuns, saí com 7 anos para ir para São Paulo. Fui criado por pais analfabetos e sempre disse que a evolução política que tive era resultado da evolução política dos trabalhadores do Brasil”, declarou. “O único medo que eu tenho é de mentir para o povo trabalhador que tanto acreditou e me fez representante da história dos trabalhadores”, concluiu.

Outros processos

O ex-presidente Lula foi condenado em 2017 a oito anos e dez meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro por ter recebido um apartamento no Guarujá da construtora OAS, envolvida no escândalo de subornos na Petrobras. O petista foi beneficiado por uma decisão do Supremo Tribunal Federal, que proibiu o cumprimento de penas de prisão enquanto os acusados não tenham esgotado todos os recursos judiciais.

Lula tem outros seis processos pendentes na justiça brasileira, mas se diz inocente em todos e denuncia uma perseguição político-judicial para impedir o seu retorno ao poder. “Eu tenho mais dez processos, é uma mentira atrás da outra”, repetiu no discurso deste sábado.

Entrevistado pela RFI em Paris, o cientista político Laurent Vidal, da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, explica que a liberdade de Lula pode ser momentânea. “É uma liberação temporária, equanto se espera que os processos cheguem ao fim. Por enquanto, ele não está livre de todas as acusações. Ainda há vários processos e recursos que foram feitos pela defesa de Lula e não sabemos quanto tempo isso vai levar. Mas pode demorar”, afirma o pesquisador do Centro de estudos sobre o Brasil Contemporâneo.

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