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Brasil/Temer/Bolsonaro

"Que cada um responda pelos seus atos", diz Bolsonaro no Chile sobre prisão de Temer

Jair Bolsonaro sugeriu que o ex-presidente brasileiro Michel Temer, detido nesta quinta-feira (21), paga o preço por ter feito acordos políticos. O chefe de Estado, que está no Chile nesse momento, também minimizou a sua queda nas pesquisas de popularidade e, sobre o ex-ditador Augusto Pinochet, elogiou os papeis das ditaduras militares no Cone Sul.

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro chega ao aeroporto internacional de Santiago, no Chile, em 21 de março de 2019.
O presidente brasileiro Jair Bolsonaro chega ao aeroporto internacional de Santiago, no Chile, em 21 de março de 2019. REUTERS/Esteban Garay
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Enviado da RFI a Santiago

Ao desembarcar em Santiago, onde participa nesta sexta-feira (22) do lançamento de um novo organismo de integração regional e de uma visita oficial ao Chile no sábado (23), Bolsonaro diferenciou-se do seu antecessor, Michel Temer. "A Justiça nasceu para todos e que cada um responda pelos seus atos", disse duas vezes o chefe de Estado, ao ser questionado pela imprensa brasileira e chilena, ainda no aeroporto, sobre a prisão do ex-presidente.

"O que levou a essa situação, pelo que parece, foram os acordos políticos em nome governabilidade. A governabilidade não se faz com esse tipo de acordo, no meu entender”, declarou Bolsonaro. “Faz-se indicando pessoas sérias e competentes para integrar o seu governo. É assim que eu fiz no meu governo: sem acordo político, respeitando a Câmara e o Senado brasileiro", comparou, se diferenciando de Temer.  

Queda de popularidade

Essa diferenciação, no entanto, não tem tido reflexo nas pesquisas de popularidade. Segundo o Ibope, Bolsonaro é o presidente, em começo de mandato, mais mal avaliado dos últimos 24 anos. Mas para o chefe de Estado, institutos de pesquisa não têm credibilidade.

"Estas pesquisas agora têm o mesmo valor das pesquisas eleitorais do ano passado, quando vários órgãos conhecidos diziam que eu perderia para todo mundo no segundo turno", comparou. "Não estou preocupado com pesquisa porque também não tem credibilidade no Brasil", minimizou.

Manifestações contra Bolsonaro no Chile

Se no Brasil, a popularidade está em queda, no Chile, a sua imagem não é das melhores. Partidos políticos e organizações sociais pretendem repudiar a presença de Bolsonaro no Chile com manifestações.

"Eu não tenho unanimidade. Tenho manifestação contra em qualquer lugar do mundo que eu vá", admitiu Bolsonaro. "Mas o importante é que, no meu país, eu tive uma vitória excepcional. Foi um voto que veio do coração do povo, do entendimento do povo", rebateu. "Essas pessoas que reclamam hoje, eu acho que elas não queriam que o Brasil caminhasse para a situação em que se encontra a nossa Venezuela", disse, alertando para o que ele entenderia que aconteceria no Brasil caso não ganhasse as eleições passadas.

Legisladores rejeitam almoçar com Bolsonaro

Além de manifestações contrárias, líderes do Congresso chileno rejeitaram almoçar com Bolsonaro. Os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados chilenos não estarão no evento oferecido pelo governo durante visita oficial do presidente brasileiro. Os parlamentares discordam do discurso de Bolsonaro, a quem veem como um fascista, comparável com o ex-ditador chileno, Agusto Pinochet.

"Eu não vim aqui para falar sobre Pinochet. Muitos gostam dele; outros não gostam", ponderou Bolsonaro. "Mas eu falo sempre que o regime militar foi muito positivo para o Brasil. E essa questão de dita ditadura no Cone Sul tem de ser levada à luz da verdade. Nós chegamos a uma conclusão e pacificamos", defendeu, minimizando as ações de prisão, tortura e morte que, através do Plano Condor, unificaram as ditaduras do Cone Sul.

"Quem caçou o (ex-presidente constitucional) João Goulart não foram os militares. Foi o Congresso Nacional em 2 de abril de 1964", argumentou.

Paulo Guedes, um chicago boy

O atual ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, formado pela universidade de Chicago, berço do pensamento liberal que, no Chile autoritário de Pinochet, teve uma das suas principais escolas e laboratórios no mundo, chegou a dar aulas na Universidade do Chile, durante a ditadura chilena.

"Ele é um homem muito voltado para o livre comércio, o senhor Paulo Guedes, e eu apoio totalmente as suas propostas. Ele foi um chicago boy. Ele esteve aqui na época do presidente Pinochet, propondo o plano econômico de vocês aqui", resumiu Bolsonaro diante das perguntas dos jornalistas brasileiros e chilenos.

Importação do modelo neoliberal chileno

Sobre ter o Chile como referência econômica na região, inclusive adotando o modelo chileno de capitalização para as aposentadorias, Bolsonaro disse acreditar na capacidade de seu ministro para resolver o problema da Previdência brasileira. "Paulo Guedes participou do governo aqui para esse plano econômico (aplicado durante a ditadura de Pinochet). Em parte, ele está levando para lá (o modelo chileno de capitalização de pensões). Acreditamos na capacidade e no patriotismo do Paulo Guedes para solucionar esse problema no Brasil", confiou.

Nesta sexta-feira, os países sul-americanos – com várias exceções – pretendem enterrar a União Sul-americana de Nações (UNASUL), que consideram ideologizada à esquerda. Os participantes do encontro querem lançar um novo organismo de integração sul-americana. Países como Bolívia e Uruguai desconfiam de tratar-se apenas de uma união da nova direita regional.

"Queremos selar o fim da Unasul. A América Latina toda deve se unir em torno de democracia, liberdade e prosperidade", concluiu Bolsonaro.

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