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Diplomacia

Política externa robusta não depende de número de embaixadas, diz professor do King's College

A reorientação da política externa brasileira defendida pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, ainda não está clara e gera expectativas nas chancelarias ao redor do mundo. Em entrevista à RFI, Vinicius Mariano de Carvalho, professor de Estudos Brasileiros no Brazil Institute e no Departamento de Estudos de Guerra do King's College de Londres, analisou algumas indicações de Bolsonaro nessa área.

O presidente eleito Jair Bolsonaro ainda não definiu o futuro Ministro das Relações Exteriores.
O presidente eleito Jair Bolsonaro ainda não definiu o futuro Ministro das Relações Exteriores. Foto: Rogério Melo/PR
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RFI - Bolsonaro disse que haverá uma guinada, inclusive com o provável fechamento de embaixadas do Brasil que estejam ociosas. É uma boa medida?

Vinicius Mariano de Carvalho - Ter uma política externa robusta não é sinônimo de ter embaixadas em todas as partes. Durante os governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), houve a abertura de um grande número de embaixadas no exterior e já no governo de Dilma Rousseff (2011-2016) ficou difícil de sustentar essa estrutura a longo prazo. Em países com os quais o Brasil tem relações diplomáticas de menor intensidade, a cooperação pode ser feita por intermédio de embaixadas de países vizinhos. A redução do número de embaixadas não significa necessariamente um ponto negativo em uma política externa, elas podem ser redimensionadas. O fundamental agora é saber quais serão as diretrizes de política internacional do governo Bolsonaro para avaliar o que isso terá de implicação no mundo globalmente.

RFI - A área de Comércio Exterior passar para o comando do grande ministério que será pilotodo pelo economista Paulo Guedes pode causar problemas?

VMC - Isso exigirá uma harmonização muito grande com o Itamaraty, para evitar danos comerciais e diplomáticos ao Brasil. Um alinhamento total de política externa com os Estados Unidos, como algumas declarações de Bolsonaro sugerem, teria implicações muito grandes para o comércio com a China.

RFI - Ainda não deu para entender com clareza a posição em relação ao Mercosul e à União Europeia, em meio às negociações para um acordo comercial entre os dois blocos.

VMC - Ainda não dá para saber se o Brasil dará mesmo as costas para o Mercosul. Aqui na Inglaterra, na perspectiva do Brexit, da separação do Reino Unido da União Europeia, o que todos se perguntam é se a política externa brasileira vai se orientar para o bilateralismo ou se vai privilegiar o multilateralismo, modelo adotado pela União Europeia. A discussão aqui é saber se o bilateralismo com a Inglaterra terá prioridade em relação à Europa. O que eu tenho notado é que as perguntas em aberto têm causado algum desconforto, porque não se sabe qual será o procedimento de negociação ou de aproximação com o Brasil. Quanto mais cedo as diretrizes forem definidas, mais facilmente será possível pensar em estratégias de negociação e de colaboração.

RFI - O maior desafio inicial do futuro chefe do Itamaraty não seria restituir a imagem desgastada do Brasil no exterior?

VMC - Essa questão da imagem é importantíssima e não tem resposta rápida, levará tempo, é bastante complexa. Enquanto acadêmico que pesquisa o assunto, eu acho que o Brasil enfrenta o desafio de repensar a si mesmo, de construir e confrontar-se no espelho com a própria imagem e perceber que essa é a imagem que tem sido vista fora do país. A gente não mostra para fora o que não está definido com convicção internamente, senão é só maquiagem. A imagem de um país não é a de um governo. É a imagem de nação, de Estado, de valores, e ela tem de transcender a governos, independente de quem seja o presidente do país. O Brasil tem sido historicamente um país de tradição de diálogo, conciliador na esfera internacional. Isso não é uma coisa que se construiu nos últimos cinco anos. É uma tradição da diplomacia brasileira e é algo que precisa ser resguardado nas transições de governo. Isso é um grande capital que o país dispõe e uma grande imagem do país no exterior. Quanto mais rápido as diretrizes da política externa brasileira forem definidas, melhor será para o país.

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