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Brasil

Le Monde relata que macaco virou bode expiatório de brasileiros na epidemia de febre amarela

O jornal Le Monde repercute nesta quarta-feira (31) a onda de exterminação de macacos no Brasil por causa da epidemia de febre amarela. Diante da epidemia do "vômito negro", de acordo com a crença popular, os primatas – primeiras vítimas da doença – são caçados e acusados erroneamente de serem os vetores do vírus, explica a reportagem.

Macaco encontrado morto em Mairiporã, uma das cidades paulistas com vários casos registrados de febre amarela.
Macaco encontrado morto em Mairiporã, uma das cidades paulistas com vários casos registrados de febre amarela. REUTERS/Paulo Whitaker
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A correspondente do jornal francês em São Paulo, Claire Gatinois, ouviu o diretor do parque ecológico municipal de São Carlos (SP), Guilherme Marrara. O médico veterinário conta que logo entendeu o que estava ocorrendo quando agentes do Ibama começaram a encaminhar para seu consultório macacos espancados ou envenenados, no mesmo momento em que a epidemia de febre amarela dava seus primeiros sinais. O animal, primeira vítima da doença antes dela se propagar à população, tornou-se "o bode expiatório de uma sociedade desorientada", diz o Le Monde.

Marrara explica que na zona rural as pessoas pensam que a doença é provocada pelos macacos e que a febre amarela é transmitida por uma mordida do bicho ou pela convivência com eles. O relato do veterinário traduz a dimensão da ignorância de alguns brasileiros.

Ele explica que desde o reaparecimento da doença, no início de 2017, recebeu 13 macacos em seu consultório. Três deles morreram. Alguns animais sucumbiram ao chamado "chumbinho", um veneno proibido no país, mas que é vendido amplamente no mercado negro, utilizado para matar o gado. Outros não resistiram às pancadas.

Veterinário protesta

"É um absurdo", diz o veterinário nas páginas do Le Monde, porque na verdade os macacos representam uma proteção para o homem. Os mosquitos transmissores da febre amarela preferem o sangue do macaco ao sangue das pessoas. É só quando eles não encontram animais suficientes para se alimentar que atacam o homem. A morte dos macacos serve inclusive para alertar a população sobre a chegada da doença e para se preparar uma campanha de vacinação.

O Le Monde explica que nenhum recenseamento oficial foi feito até agora para dimensionar a gravidade do fenômeno. Mas o ativista Marcelo Mello, especialista em gestão da biodiversidade, estima que 1.500 macacos já teriam morrido por causa da febre amarela ou caçados pela população. O jornal lamenta que São Paulo não seja o único estado do Brasil afetado por essa "caça assustadora". No Rio de Janeiro, 118 macacos morreram nas três primeiras semanas de janeiro, informa Le Monde.

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