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Brasil/corrupção

Prisão de Maluf, o “rouba mas faz”, é destaque no jornal Le Monde

O jornal narra a trajetória do deputado de 86 anos, acusado de desvio de dinheiro na época em que era prefeito de São Paulo, entre 1993 e 1996, e se tornou um dos símbolos da corrupção no Brasil, autor do famoso emblema “Rouba mas Faz”.

Transferência do deputado Paulo Maluf (PP-SP) da carceragem da Polícia Federal em São Paulo para uma cela da PF em Brasília.
Transferência do deputado Paulo Maluf (PP-SP) da carceragem da Polícia Federal em São Paulo para uma cela da PF em Brasília. REUTERS/Leonardo Benassatto
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Paulo Maluf é um meme, uma espécie de Silvio Santos da política brasileira em termos de popularidade. Em seu artigo, a correspondente do jornal Le Monde, Claire Gatinois, destaca a trajetória do deputado, e descreve o momento de sua prisão, quando ele se entregou aos policiais nesta quarta-feira (20). Segundo ela, Maluf parece “destruído”, segurando uma bengala e abatido pelas sessões de quimioterapia.

Este parece ser o fim da carreira de um dos maiores gângsteres da política brasileira: fichado pela Interpol, envolvido em ações na Justiça desde 1983, e considerado culpado por corrupção em 188 países, segundo a imprensa brasileira. Mesmo com esse histórico, a pena de Maluf será apenas de sete anos e nove meses de cadeia, depois de uma decisão do STF que pediu sua detenção imediata.

A maior parte de seus crimes, entretanto, já prescreveu, lembra o Le Monde, para quem Maluf “é o símbolo da corrupção e a incarnação da impunidade, que soube, em cinquenta anos de carreira política, iniciada na ditadura militar, transitar entre recursos judiciários, táticas administrativas e lentidão dos juízes, sob o olhar conformista dos brasileiros."

O jornal francês também descreve a trajetória do ex-prefeito, membro do PP, ex prefeito e governador de São Paulo, que abusou do cinismo até o limite. “Enquanto alguns juram em nome da Bíblia para defender sua honestidade, Maluf assume o slogan “Rouba mas faz” e se diverte com o verbo “malufar”, inventado pelos brasileiros, sinônimo de malandragem ou roubalheira política", escreve o Le Monde.

Filho de industriais ricos, o jornal francês lembra que Maluf foi presenteado, aos 18 anos, com um Jaguar. Ele enriquecerá ainda mais nos anos 60 com a multiplicação de projetos de infraestruturas na cidade e no estado, estimulados pelo regime militar. As gestões de Maluf são associadas a construções de viadutos, túneis e estradas - e a superfaturamentos.

O jornal francês cita uma de suas frases mais polêmicas. Provocador, Maluf chegou até mesmo a dizer, em 1989, durante uma conferência sobre um assassino e estuprador: “Estupra, mas não mata”. Ele tentou se justificar em seguida, dizendo que tirar a vida de alguém é o pior dos crimes.

Ideologia própria

A "ideologia" de Maluf, descreve o Le Monde, varia de acordo com a situação e seus interesses. Em princípio de direita, em 2012 ele decidiu se aliar ao PT para ajudar Fernando Haddad a se eleger à prefeitura de São Paulo. O aperto de mão entre Lula e Maluf é visto como um “pacto com o diabo” por muitos militantes. Inexplicavelmente, Maluf sempre foi extremamente popular em São Paulo.

"O fato que a Justiça prenda uma figura da velha guarda política, considerado como intocável, é simbólico. Isso mostra que existe uma verdadeira revolução no país", disse o cientista político Mathias de Alencastro ao Le Monde. A imprensa brasileira lembra, entretanto, que Paulo Maluf se entregou à Justiça em 2005 mas sua pena foi reduzida para apenas 41 dias.

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