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Polêmica

Volkswagen espionou funcionários durante ditadura militar no Brasil

A revista alemã Der Spiegel publicou nesta segunda-feira (24) o resultado de uma investigação sobre o envolvimento da Volkswagen com a ditadura militar brasileira (1964-1985), solicitada pela própria fabricante de veículos.

Volkswagen espionou funcionários da sua fábrica no Brasil
Volkswagen espionou funcionários da sua fábrica no Brasil Divulgação
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Segundo o material obtido pelo jornal Süddeutsche Zeitung e pelas emissoras estatais NDR e SWR, a cooperação foi maior do que se imaginava até então.

Os jornalistas analisaram documentos corporativos encontrados na filial brasileira e na sede alemã, em Wolfsburg, papéis classificados como secretos pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e relatórios confidenciais do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha.

"Operários eram presos na planta da fábrica e, em seguida, torturados", publicou o Süddeutsche Zeitung.

O departamento de segurança da Volkswagen teria espionado e contribuído para detenções de funcionários em São Bernardo do Campo (SP).

Os repórteres também tiveram acesso às atas de investigação do Ministério Público de São Paulo e realizaram entrevistas com alguns ex-funcionários da Volkswagen do Brasil.

Muitos confirmaram que foram detidos na fábrica em 1972. Eles faziam parte de um grupo de oposição à ditadura, distribuíam folhetos do Partido Comunista e organizavam reuniões sindicais.

“Roubou dois anos da minha vida”

A reportagem afirma que a filial brasileira espionou seus trabalhadores e suas ideias políticas e que esses dados acabaram em "listas negras" do Dops. As vítimas lembraram como foram torturadas durante meses.

"A Volkswagen roubou dois anos da minha vida", contou o ex-operário Lúcio Bellentani, 72, que afirmou ter sido preso por 16 meses e torturado. "Indiretamente a empresa foi responsável por numerosos casos de tortura e perseguição. Ela deve ter a dignidade de reconhecer sua responsabilidade."

Em 2016, a fabricante nomeou para a investigação o historiador Christopher Kopper, que confirmou a existência de "uma colaboração regular" entre o departamento de segurança da filial brasileira da Volkswagen e o Dops.

Segundo Kopper, a empresa "permitiu as detenções" e pode ser que, ao compartilhar informações com a polícia, "contribuísse para elas". Ele sugeriu que a Volkswagen peça desculpas aos ex-funcionários afetados pela conduta.

De acordo com protocolos internos, as diretorias da montadora na Alemanha e em São Paulo trocaram memorandos referentes às detenções de funcionários.

O conselho da multinacional tomou conhecimento da situação pelo menos em 1979, quando funcionários brasileiros viajaram à Alemanha para confrontar o então presidente da companhia, Toni Schmücker.

A sede da montadora se negou a comentar o conteúdo das alegações e reiterou ter encarregado  Kooper de investigar e apresentar um parecer sobre a questão. Ele apresentará suas conclusões até o final do ano.

Comissão Nacional da Verdade

Há quase dois anos foi aberta em São Paulo uma investigação sobre a Volkswagen do Brasil para determinar a responsabilidade da empresa na violação dos direitos humanos durante a ditadura de 1964 a 1985.

Conforme estabeleceu a Comissão Nacional da Verdade (CNV), que examinou as denúncias, muitas empresas privadas, nacionais e estrangeiras, deram apoio tanto financeiro como operacional à ditadura.

No caso da Volkswagen, a investigação constatou que alguns galpões em São Bernardo do Campo foram cedidos aos militares e usados como centros de detenção e tortura e que a empresa doou cerca de 200 veículos ao regime militar, depois usados pelos serviços de repressão.

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