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Em turnê pela Europa, cacique guarani-kaiowá recebe ameaça de morte

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O cacique Ládio Verón, da etnia guarani-kaiowá, do Mato Grosso do Sul, faz um giro por 12 países da Europa para denunciar diversos problemas enfrentados por sua tribo e outros povos indígenas do Brasil.

O cacique Guarani-Kaiowá, Ládio Verón.
O cacique Guarani-Kaiowá, Ládio Verón. RFI
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O roteiro inclui países como Itália, Irlanda, Áustria, Inglaterra e França e termina em Portugal. A viagem foi organizada pelo Tribunal Popular: o Estado Brasileiro no Banco dos Réus, uma rede de solidariedade com os povos indígenas, formada por um grupo de militantes que reuniram recursos para patrocinar a turnê.

Os guarani-kaiowá são um povo que vive no Mato Grosso do Sul, na fronteira com o Paraguai, e conta com cerca de 45 mil pessoas.

“Venho denunciar a violação do direito constitucional dos artigos 231 e 232, que garantem ao índio a permanência e posse das terras onde vive, assim como seus costumes e direitos”, disse Verón na entrevista à Rádio França Internacional.

“Estamos trazendo o clamor de um povo que sofre ataques quase diariamente no Mato Grosso do Sul e denunciando o desmatamento provocado pelo agronegócio, que se expandiu pelas nossas terras”, afirma.

Luta pela terra, a maior bandeira

Segundo o cacique, o maior problema é em relação à demarcação da terra. A tribo reivindica 88 áreas indígenas, sendo que, em 46 delas, já começaram o processo de retomada e ocupação.

De acordo com Verón, estudos antropológicos foram feitos, publicados e assinados por ministros confirmando que são terras indígenas. Desse total, 16 áreas estão homologadas e prontas para ser devolvidas oficialmente, o que até agora não foi efetivado. "Elas estão prontas, mas nunca foram entregues”, denuncia.

Ládio Verón disse também ter vindo alertar os europeus sobre os produtos contaminados por agrotóxicos produzidos em terras indígenas ocupadas e que chegam ao mercado local.

“Aqui na Europa viemos formar uma rede apoio internacional diretamente voltada para os guarani-kaiowá. Por onde estamos passando, nos parlamentos, associações, peço que enviem observadores para constatar as condições em que são produzidos os artigos que chegam à Europa”, afirmou.

O cacique também pede que políticos e representantes de organizações de direitos humanos atuem para evitar o que chama de genocídio dos índios no estado.

O líder da etnia espera também mobilizar instituições internacionais em uma reunião em Genebra, onde irá discutir temas relacionados aos direitos dos indígenas. Ele aproveita a ocasião para denunciar a situação de desespero em que se encontram muitos membros da etnia.

"Há muitos índios em beiras de estradas, crianças morrendo e desnutridas. Jovens estão sendo mortos e dizem que é suicídio, mas é um suicídio forjado”, diz. “Já perdemos 385 lideranças indígenas à espera de homologação de nossas terras. Não queremos perder mais”, diz.

Ameaçado de morte durante a viagem

Ládio sobreviveu a um ataque em 2003 que matou seu pai, Marcos Verón. Na época, o então líder  indígena tinha voltado de uma viagem internacional na qual tinha denunciado a opressão contra sua tribo.

Em uma viagem 14 anos depois, o atual cacique diz não ter medo de ser alvo de nova tentativa de assassinato. Durante sua viagem, ele diz ter recebido ameaças.

“Quando estava na Grécia, me ligaram dizendo que meu 'caixão estava preparado'. Isso não me importa, o mais importante é denunciar o que acontece com meu povo”, afirma.

O cacique diz não ter conseguido identificar o autor das ameaças, mas o caso está sendo investigado por um grupo responsável pela proteção de personalidades ameaçadas.

“Eu não temo pela minha vida. Estou aqui para denunciar porque a Europa tem que saber o que está acontecendo no Mato Grosso do Sul. Não posso ver meu povo sofrendo e morrendo e não denunciar isso”, diz.

Em sua visita, Ládio Verón tem insistido para os governos e representantes da sociedade civil enviarem representantes para acompanhar a grande Assembleia sobre os guarani-kaiowá, programada para agosto no Mato Grosso do Sul.

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