"Os cowboys maquiavélicos da JBS fazem a República tremer", diz Le Monde
A trajetória dos irmãos Batista, cujas propinas gigantescas à classe política trouxeram à tona um escândalo que pode custar a cadeira de presidente a Michel Temer, ganha destaque na edição do vespertino francês, datado de quinta-feira (25).
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É com a imagem que Temer tem de Joesley Batista que o artigo começa: "É um fanfarrão". A partir daí, "é a simplicidade "caipira" de Joesley e de seu irmão Wesley, sem a cultura e a arrogância da elite de Brasília e São Paulo", que interessa a correspondente no Brasil, Claire Gatinois, destacando o sucesso da família que se instalou em Brasília, nos anos 70, começando a trabalhar duro desde cedo, e sem diploma universitário.
Ela escreve que os irmãos Batista, fazendeiros de Goiás, se tornaram bilionários próximos do poder "e que hoje, com ares de cowboys maquiavélicos, podem derrubar a República brasileira". Retraçando o escândalo que veio à tona na noite de 17 de maio passado, com a revelação da gravação de uma conversa entre Joesley Batista e Michel Temer, a jornalista descreve os fatos cronologicamente: a descoberta pelo Brasil das atividades ocultas da JBS, as confissões do empresário e sua implicação em cinco investigações judiciais, especialmente na operação "carne fraca", e a revelação da soma fabulosa de R$400 milhões em propinas a políticos de todos os lados.
A negociação de uma delação premiada privilegiada para "salvar a pele e a empresa" também é explicada aos leitores franceses: Joesley vive nos Estados Unidos, ele e seu irmão pagaram uma multa ridícula (R$110 milhões cada) e a multa da empresa está sendo negociada. "Pior ainda, antes de provocar um pânico nos mercados financeiros, a família especulou, comprou dólares e vendeu ações da JBS para embolsar um bom pacote. Uma operação suspeita que está sendo investigada", escreve a correspondente.
As datas de uma ascensão
Le Monde traça a cronologia do sucesso da família Batista. Em 1953, acontece a abertura em Anápolis da Casa de Carnes Mineira, pedra fundamental do primeiro grupo de proteínas animais, JBS. Em 2005, a compra da Swift na Argentina e o início da internacionalização do grupo; dois anos depois, a entrada na Bolsa de Valores de São Paulo e a aquisição da Swift nos Estados Unidos e Austrália.
Uma rota lucrativa que deixou máculas, como lamenta a Associação brasileira dos abatedouros, denunciando a concentração dos setor provocada pelas aquisições de JBS, sempre com o apoio do BNDES - o Banco Nacional de desenvolvimento econômico e social.
Este último fator assinala o fato surpreendente do Banco financiar uma multinacional que tem 80% de seu faturamento fora do Brasil. "Um capitalismo de turma de amigos", analisa o professor de economia Paulo Baia, entrevistado pelo jornal, que também cita o economista Sergio Lazzarini, autor do livro Capitalismo de Laços: "JBS é a ilustração de como as empresas brasileiras se conectaram aos sistema político para fazer parte das 'eleitas", sendo citado, em seguida, o melhor exemplo: em 2012, Michel Temer, e outros "caciques" de Brasília, faziam parte dos mil convidados para o casamento de Joesley Batista.
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