Traficantes investem em narcocruzeiros entre a Europa, o Marrocos e o Brasil

Traficantes descobriram uma nova forma de comercializar droga: os imensos cruzeiros marítimos que passam por diversos países. As autoridades redobram a atenção depois da descoberta de um esquema triangular que ligava a Europa, o Marrocos e o Brasil.

Cruzeiros da Costa foram utilizados durante dois anos para o comércio triangular que permitiu a troca de dezenas de quilos de haxixe marroquino por cocaína sul-americana. REUTERS/Alessandro Bianchi

O caso se tornou emblemático: uma rede de traficantes contratava voluntários, muitos deles falsos casais, para fazer o trajeto entre Savone, na Itália, Marrakech, no Marrocos, e o Rio ou Santos, no Brasil. Para duas semanas de travessia, os "turistas" recebiam cerca de € 10 mil para transportar haxixe e cocaína.

O esquema funcionou de 2012 a 2014, coordenado por uma rede de traficantes do sul da França e tendo como ponto de saída o porto de Savone, na Itália. Dentro das imensas embarcações, falsos turistas utilizavam cabines para a estocagem de drogas.

Na escala de Casablanca, no Marrocos, os táxis já esperavam "os turistas" no porto. Mas, ao invés de visitarem a cidade, eles eram levados diretamente a um apartamento onde recebiam um carregamento de haxixe.

A escala seguinte era no Brasil, onde um outro comitê recuperava a mercadoria em troca de cocaína. Na viagem de retorno, vários "turistas" embarcam em Santos (SP) ou no Rio de Janeiro, em direção à Europa.

O narcocruzeiro entre a Europa, o Marrocos e o Brasil foi interceptado em março de 2014 por policiais espanhóis e franceses. Nas cabines de um cruzeiro que voltava do Brasil, as autoridades encontraram 25 quilos de cocaína. No entanto, os grandes idealizadores da operação, Karim Moutakhaouil e Victor Tavares Sanches, continuam desaparecidos dos radares.

Julgamento dos "falsos turistas"

A justiça de Marselha, no sul da França, começou nesta segunda-feira (22) o julgamento de 35 pessoas acusadas de utilizar linhas dos cruzeiros Costa para o comércio triangular que permitiu a troca de dezenas de quilos de haxixe marroquino por cocaína sul-americana.

As autoridades francesas suspeitam que outros cruzeiros estejam utilizando sistemas similares. As companhias que fazem o mesmo trajeto foram aconselhadas pelas autoridades a aumentar a vigilância sobre passageiros e cabines "suspeitas".