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Imprensa

Aplicativo contra cultura do estupro no Brasil ganha destaque em site francês

O site de notícias francês Rue89 publica uma reportagem nesta segunda-feira (8) sobre um aplicativo criado no Brasil para denunciar as instituições públicas "adeptas à cultura do estupro", uma situação comum no país, escreve o jornalista Jean-Matthieu Albertini, "onde se duvida frequentemente da palavra das vítimas de agressões sexuais".

Matéria do site Rue89 fala do aplicativo Mapa do Acolhimento.
Matéria do site Rue89 fala do aplicativo Mapa do Acolhimento. Reprodução/rue89.nouvelobs.com
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Rue89 fala do projeto liderado pela brasileira Maria Wotzik, o Mapa do Acolhimento, que tem o objetivo de ajudar as vítimas de agressões sexuais. A iniciativa é desenvolvida pela Ong Nossas Cidades, em parceria com o coletivo feminista Agora É que São Elas.

A ativista conta na reportagem que a atitude dos policiais em relação à adolescente estuprada por 30 homens em maio a inspirou a desenvolver o projeto. O caso chocou a opinião pública brasileira, mas não sensibilizou os policiais que prestaram atendimento à vítima. Os investigadores teriam duvidado da versão da garota, tratando-a como uma drogada e delinquente, salienta Rue 89. "Você costuma fazer sexo em grupo? Gosta disso?", teriam perguntado os policiais na ocasião.

Mulheres brasileiras ainda temem prestar queixa

Com o Mapa do Acolhimento, a Ong e o coletivo pretendem fazer uma lista dos estabelecimentos públicos no Brasil de atendimento às vítimas de violência sexual e avaliá-los. Desde 2013, um decreto obriga os profissionais de hospitais e da polícia a adotar uma atitude mais digna e humana, escreve o jornalista francês. Mas "os hábitos têm vida longa e muitas mulheres ainda têm medo de se dirigir a uma delegacia", reitera.

Mesmo nas delegacias exclusivas para as mulheres, as vítimas são desencorajadas a denunciar seus agressores. Rue89 cita o exemplo de uma jovem de Fortaleza, que publicou uma crítica a uma delegacia cearense no aplicativo. "No balcão de atendimento, uma funcionária pergunta às vítimas se elas têm certeza que querem prestar queixa porque, depois disso, elas terão de criar seus filhos sozinhas". Isso porque, ressalta Rue89, "na maioria dos casos, os agressores são próximos das vítimas".

O site lembra que, no Brasil, um estupro é registrado a cada 11 minutos, o que totalizaria 527 mil agressões sexuais por ano. No entanto, esse número pode ser muito maior, já que 90% das vítimas não denunciam esse tipo de violência, diz a reportagem. Essa culpabilização das vítimas não acontece à toa. Rue89 cita uma recente pesquisa que mostra que 58,5% dos brasileiros estão de acordo com a frase "se as mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros".

Aplicativo quer pressionar delegacias e hospitais

Por isso, o projeto do Mapa do Acolhimento deve ir ainda mais longe do que orientar as mulheres que viveram agressões sexuais. Maria Wotzik declarou ao jornalista francês que, o objetivo, no futuro, é colocar em prática ferramentas para que os usuários façam pressão sobre os estabelecimentos que receberam notas ruins no aplicativo.

Além disso, o Mapa do Acolhimento também propõe ajuda psicológica às vítimas. Até o momento, mais de 2,5 mil voluntários e 457 terapeutas se inscreveram no aplicativo em 18 Estados, enfatiza a reportagem. O que, segundo a idealizadora do projeto, ainda é insuficiente. Rue 89 termina a reportagem dizendo que a Ong Nossas Cidades e o coletivo Agora É que São Elas pretendem estender a iniciativa ao Brasil inteiro e, no futuro, até mesmo para outros países.

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