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Brasil

Militantes pró-impeachment permanecem acampados diante da Fiesp

Acampados há mais de 50 dias na avenida Paulista, um grupo de manifestantes pró-impeachment não baixa a guarda. As vésperas de um voto no Senado que, ao que tudo indica, pode abrir o processo de destituição da presidente Dilma Rousseff - a principal reivindicação dos militantes -, eles continuam mobilizados como no primeiro dia.

Barracas de militantes pró-impeachment tomam parte da calçada da Fiesp.
Barracas de militantes pró-impeachment tomam parte da calçada da Fiesp. RFI
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Silvano Mendes, enviado especial a São Paulo

Mesmo se nas calçadas em frente ao acampamento ainda é possível ver pixações com os dizeres “Fora Dilma”, o grupo, batizado Resistência Paulista, afirma que o principal objetivo é chamar a atenção para a luta contra a corrupção, o que iria além do processo de impeachment da chefe de Estado. Por essa razão eles teriam escolhido o local para armar suas barracas, na calçada da avenida que concentra parte do coração financeiro do país.

“A ideia de acampar é para resistir e causar incômodo. Que lugar melhor para isso que a Paulista, o centro cultural de São Paulo e do Brasil”, explica David Alexander, um segurança desempregado, de 24 anos, que faz parte do movimento desde o início. Além de discutir com os passantes para explicar sua causa, o jovem cuida da alimentação dos colegas durante o dia e vigia o local durante a noite.

Hoje eles são cerca de 40 cadastrados, mais já foram uma centena, vivendo dentro de barracas de camping enfileiradas praticamente em frente a Fiesp, a Federação das Indústrias de São Paulo. A instituição é a mesma que se posicionou claramente contra a presidente da república, inclusive patrocinando campanhas publicitárias pró-impeachment, como o já famoso pato gigante que monopolizou as páginas da imprensa e a própria avenida Paulista.

Mas Alexander insiste que o movimento não depende da Federação. “Não temos nenhum tipo de apoio da Fiesp. Por isso nós preferimos desvincular nosso nome deles. Antes estávamos em frente ao prédio e agora estamos mais ao lado. Não recebemos nenhuma ajuda da Fiesp e não queremos que nosso nome seja manchado”, martela.

David Alexander (d) e o também militante Fábio Andrade celebram 55 dias de acampamento.
David Alexander (d) e o também militante Fábio Andrade celebram 55 dias de acampamento. RFI

Publicitários, aposentados e vigias desempregados unidos contra Dilma

O acampamento impressiona pela organização, vivendo em parte graças à doações de comerciantes das redondezas, mesmo se alguns vizinhos ouvidos pela reportagem torcem o nariz e se perguntam até quando isso vai durar. Outra caracteristica é a diversidade dos militantes. Ao lado de Alexander, a publicitária Klio, de 34 anos, que trabalha em um hotel no vizinho bairro dos Jardins, também vem passar suas noites nas barracas. “Eu trabalho na região e não consigo sair daqui. Eu durmo aqui. Saio às 6h da manhã, vou para o culto, para o trabalho, e depois volto”, conta a jovem, que vestia seu uniforme do hotel ao sair de uma das barracas.

Já Colombo Soares, um aposentado de 64 anos, diz que decidiu aderir ao movimento por causa de sua história pessoal. “Toda a minha vida eu participei de protestos, mas sem baderna. Eu quero ver um país decente, por isso eu vim aqui. Peço a Deus todo dia para terminar em paz, sem derramento de sangue. Eu já enfrentei o regime ditatorial de 1964 e eu sei o quanto é difícil”, diz Soares, que exibia pendurado no pescoço um recorte de jornal pedindo a saída de Dilma do poder.

Mas, para Alexander, o voto do Senado essa semana é apenas uma etapa de um processo que ele qualifica de “resistência”. “Eu creio que o dia 11 (data prevista do voto no plenário) vai ser só mais uma vitória. A presidente pode cair, o Cunha saiu, mas os nossos objetivos não acabam. A corrupção não acaba. Tirar a Dilma não mata a corrupção. Então o nosso objetivo é continuar, até que a política mude, pois com essa corrupção não dá para viver”, desabafa.

Opositores ao impeachment menos presentes nos acampamentos em São Paulo

Nossa reportagem também foi aos locais onde, tradicionalmente, grupos contrários ao impeachment estavam acampados, mas nenhum deles foi encontrado durante nossa passagem. Segundo testemunhos de vizinhos e comerciantes das redondezas, desde o voto dos deputados em abril, as barracas de camping instaladas no Viaduto do Chá e na regiao do Anhangabaú, com seus militantes vestidos de vermelho, desapareceram.
 

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