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Brasilianista francês Stéphane Monclaire morre no Brasil

O cientista político Stéphane Monclaire, um dos maiores especialistas em Brasil na França, faleceu na última segunda-feira (21) em Cuiabá (Mato Grosso), após sofrer um AVC (acidente vascular cerebral). Colaborador assíduo da redação brasileira da Rádio França Internacional, Monclaire tinha 59 anos e falava fluentemente o português.

O brasilianista e professor da Sorbonne, Stéphane Monclaire, na redação brasileira da RFI em Paris.
O brasilianista e professor da Sorbonne, Stéphane Monclaire, na redação brasileira da RFI em Paris. RFI
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Formado em Direito, Ciência Política e Sociologia, Monclaire ensinava desde 1984 na Sorbonne (Université Paris 1) e começou a trabalhar com o Brasil em 1987. Desde o fim dos anos 1990 foi várias vezes professor convidado em universidades brasileiras e pesquisador do Credal (Centro de Pesquisa e de Documentação sobre a América Latina), na capital francesa.

Suas publicações científicas tratam principalmente das relações entre direito e política. Publicou dezenas de textos sobre os poderes legislativo, executivo e judiciário, partidos políticos, políticas públicas, a transição democrática, o processo constituinte de 1987-88, as crises políticas e as eleições no Brasil.

Em outubro de 2013, Monclaire fez parte das 100 pessoas (intelectuais, juristas, empresários, políticos e profissionais de diversas áeras) entrevistadas pela revista Veja sobre os 25 anos da Constituição de 1988, sendo o único brasilianista.

Arquivos de Monclaire guardam tesouros da história política do Brasil

O professor da Sorbonne detém provavalmente a mais ampla documentação, depois do Congresso Nacional, sobre a Assembleia Nacional Constituinte, cujos intensos debates deram nascimento à Constituição Federal de 1988. Monclaire dirigia, desde 2012, uma editora de livros em versão eletrônica (AFBRAS), consagrados à política brasileira.

Nos últimos 25 anos, o especialista participou de dezenas de debates no rádio e na TV francesa, explicando de maneira pedagógica ao público as nuances da política brasileira, a complexidade fascinante deste país de dimensões continentais e a diversidade cultural brasileira. O conhecimento acumulado em todos esses anos de pesquisa no Brasil, e o convívio permanente com brasileiros, fez de Monclaire uma referência no debate intelectual franco-brasileiro.

"Sou a primeira vítima da crise no Brasil", disse Monclaire após AVC

Com a explosão do escândalo da Petrobras, há dois anos, Monclaire intensificou suas horas de trabalho. Passou noites e noites acordado, seja estudando a documentação jurídica do caso ou debatendo com colegas brasileiros os desdobramentos da crise. No dia 9 de março, em Brasília, ele sofreu um primeiro AVC e publicou, em tom bem-humorado em seu perfil no Facebook, que era "a primeira vítima da crise política do Brasil". Leia o post completo: 

"Caros colegas, talvez vocês se lembrem que durante nosso seminário em Paris sobre a crise política brasileira atual a gente destacou que uma das grandes diferenças com a crise do impeachment do Collor de 92 é a ausência de cadáveres. Na época, houve a morte dramática da mãe do Pedro e do Fernando Collor. Então, onde estão os mortos dessa crise? Quarta no fim da tarde quase fui o primeiro da lista, pois sofri um sevéro AVC, cujas causas foram excesso de trabalho, falta de repouso e uma atualidade política que nunca para. Felizmente, eu me recuperei e continuo a acompanhar de perto esta crise. Agradeço aos colegas pela preocupação que tiveram por minha saúde durante esse momento sensível em minha vida. Um grande abraço, estamos aí ..."  

Monclaire também foi diretor e ator de cinema

Antes de se dedicar às ciências políticas, na sua juventude, Monclaire foi diretor de filmes de 1977 a 1986, principalmente curtas-metragens, projetados em festivais de cinema experimental e na Cinemateca Francesa, em Paris. Naquela época atuou também em alguns filmes de Joseph Morder, Téo Hernandez e Gérard Courant.

A morte súbita de Monclaire, e ainda no país que ele tanto admirava, deixou a comunidade de brasilianistas na França profundamente entristecida. Ex-alunos do professor da Sorbonne e jornalistas franceses residentes no Brasil, que escrevem para jornais e sites de informação como Le Monde, Le Figaro, Les Echos, Libération e Médiapart, entre outras publicações, fizeram homenagens comoventes a Monclaire nas redes sociais, destacando sua erudição e sua capacidade de "traduzir" o Brasil para os franceses.

Monclaire era casado e deixa cinco filhos.

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