O desenvolvimento da "nova classe média" brasileira é frágil, diz Les Echos
Antes de ser considerado um país de classe média, o Brasil precisa proporcionar mais estabilidade e melhorar qualidade de seu serviço público para essa camada da população, estima o jornal Les Echos que circula nesta terça-feira. Citando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o jornal econômico escreve que os brasileiros da classe média vão demorar ainda uns 20 anos para atingir o nível de vida dos europeus.
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A desigualdade histórica do Brasil foi reduzida nos últimos dez anos e o país enfrentou bem a crise econômica de 2008, escreve o Les Echos ao anunciar os principais dados do estudo "O Observador do Brasil". Eles revelam principalmente a emergência da chamada classe "C" que representa agora 54% da população brasileira , informa o Les Echos.
O elevador social funcionou e os brasileiros com renda mais modesta subiram na escala devido a uma série de fatores, diz o jornal mencionando a vontade política de valorizar o salário mínimo, programas sociais como o Bolsa Família e sobretudo a oferta de crédito que em seis anos passou de 25% a 45% do PIB em 2011.
Ouvidos pelo jornal, especialistas ainda acrescentaram outro fator fundamental para essa mobilidade social: a geração de emprego, que permitiu a decolagem dessa nova classe média. O desemprego, de 5% segundo dados oficiais, é historicamente baixo.
O retorno ao crescimento econômico esteve conjugado com a redução da desigualdade social, mas o caminho a percorrer ainda é longo, alerta o jornal. Isso porque o Brasil continua na lista dos 10 países mais desiguais do mundo. Enquanto a metade da população fica com 17,7% da riqueza nacional, os 10% mais ricos dividem uma fatia bem maior do bolo, 44,5%, lembra o Les Echos.
O que adianta comprar um carro em parcelas se não há um bom sistema de esgoto no bairro que evite a propagação de doenças, nem uma escola de qualidade ? questiona o diário. A infraestrutura básica ruim e a precariedade do ensino público são reveladores de que o "milagre" brasileiro tem limites, escreve o Les Echos.
A classe média brasileira também não está livre de sofrer eventuais consequências de uma desaceleração da economia mundial prolongada, escreve o Les Echos, evocando o risco devastador de um aumento do desemprego, por exemplo. O país se tornou muito dependente da China, seu primeiro parceiro comercial. Se Pequim pisar forte no freio, Brasília sofrerá as consequências e quando a economia fica estagnada, quem sempre paga o pato é a classe média, lembra o Les Echos.
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