Cientista político francês diz que demissão de Palocci era “previsível”
Após 23 dias de crise e pressão para deixar o cargo, o ministro-chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, decidiu, na tarde de ontem, se afastar do Governo Federal em consequência do escândalo envolvendo o aumento em 20 vezes de seu patrimônio. Na França, o cientista político e professor da Sorbonne Stéphane Monclaire, analisou a decisão e afirmou não ter se surpreendido com a demissão do petista.
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“Era previsível que a imprensa e os adversários políticos aproveitassem a suspeita de tráfico de influência para pressionar o Palocc. Ele não tinha outra saída, só pedir a sua demissão”, afirmou o cientista político e professor da Sorbonne Stéphane Monclaire à RFI. Para o especialista em política brasileira, os esforços da presidente Dilma Roussef, que tentou num primeiro momento acalmar a situação, não seriam suficientes, pois "mais complicado do que tratar um delito em flagrante é tratar uma suspeita", o que cria uma forte atmosfera de desconfiança.
Apesar da demissão, Stéphane Monclaire estima que “a queda da imagem de Antônio Palocci é extremamente negativa para o Partido dos Trabalhadores”, principalment porque se trata da segunda investigação penal deste mesmo ministro.
A Casa Civil
Antônio Palocci é o terceiro ministro do governo do PT a pedir sua demissão da Casa Civil. Em 2005, José Dirceu tomou a decisão após o escândalo do mensalão e, em 2010, foi a vez de Erecine Guerra, sucessora de Dilma Rousseff no cargo. Como no caso de Antônio Palocci, ela era acusada de tráfico de influência.
Para o professor da Sorbonne, todos esses escândalos e mudanças na chefia da Casa Civil são decorrentes das novas competências necessárias para o cargo. As responsabilidades deste cargo evoluíram bastante nos últimos anos: “Hoje em dia, este ministério é ao mesmo tempo um lugar de pré-arbitragem antes das decisões finais do presidente da República e um lugar de negociação política, de distribuição dos postos no Executivo. São tarefas muito contraditórias”, afirma Monclaire. Ele explica que “para arbitrar” é necessária uma “racionalidade burocrática e uma neutralidade política, mas a distribuição de cargos não é nada neutra”. Na sua opinião, essa confusão de funções expõe o titular da Casa Civil a “um fogo cruzado entre aliados e adversários políticos”, o que o lhe tornaria mais vulnerável.
A sucessora da vez, Gleisi Hoffmann
Em sua análise, Stéphane Monclaire afirma ainda que, com a senadora Gleisi Hoffmann à frente da Casa Civil, haverá mudanças profundas na política do Executivo: “Ela não é conhecida como uma super técnica, como era a Dilma, nem como alguém de uma experiência política muito ampla, como foi o José Dirceu. Então, com certeza, vai haver uma reorganização de quem vai fazer o que no Executivo”. Segundo suas previsões, boa parte das responsabilidades da Casa Civil "passariam diretamente para o gabinete da presidene Dilma Rousseff, e outra parte deve ir para o Ministério da Relações Internacionais". O cientista político conclui afirmando que "não há dúvidas que o posto de chefe da Casa Civil é hoje menos poderoso do que há 15 dias atrás”.
Victória Álvares, em colaboração para RFI
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