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Bolívia: líder da oposição não consegue renúncia de Evo Morales e estudantes voltam às ruas

O líder opositor boliviano Luis Fernando Camacho, que prometeu forçar o presidente Evo Morales a assinar uma carta de renúncia redigida por ele, retornou nesta terça-feira (5) para a cidade de Santa Cruz, depois de ser impedido de deixar o aeroporto de El Alto, na região de La Paz.

Manifestantes protestam contra a reeleição de Evo Morales em La Paz.
Manifestantes protestam contra a reeleição de Evo Morales em La Paz. REUTERS/Kai Pfaffenbach
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"Um avião decolou com o senhor Camacho na direção de Santa Cruz", 900 km ao leste de La Paz, anunciou o chefe de polícia da cidade, coronel Franz Sellis Mercado.

Dezenas de simpatizantes de Morales, alguns com pedaços de pau, invadiram o terminal e tentaram entrar na zona restrita onde Camacho permaneceu por várias horas, mas foram impedidos por policiais.

Em um comunicado, o Ministério do Interior anunciou a mobilização de policiais para "garantir e resguardar a integridade física" de Camacho. Em um primeiro momento, os manifestantes não acreditaram no anúncio do chefe de polícia de que Camacho, presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, havia deixado a capital do país.

Camacho chegou ao aeroporto durante a madrugada, procedente de Santa Cruz, a região mais rica da Bolívia e reduto da oposição. Na segunda-feira (4) à noite, em tom de desafio durante um comício, ele anunciou que entregaria pessoalmente a Morales a carta de renúncia para que o presidente assinasse, algo considerado improvável.

Oposição denuncia fraude

A oposição boliviana denunciou uma "fraude" nas eleições de 20 de outubro, nas quais Morales foi eleito para um quarto mandato. Os opositores exigem a renúncia do presidente, a anulação da votação e a convocação de novas eleições sem a participação de Morales.

Camacho se tornou o rosto mais visível da oposição após as eleições, ofuscando o ex-presidente Carlos Mesa, candidato rival de Morales e segundo colocado na votação.

Depois de falhar em sua primeira tentativa, o líder opositor boliviano, Luis Fernando Camacho, anunciou que voltará a La Paz nesta quarta-feira (6) e sempre que for necessário, para entregar ao presidente Evo Morales uma carta de renúncia.

No Twitter, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, pediu que as autoridades bolivianas garantam a liberdade de movimento e a circulação de Camacho. Desde a semana passada, o organismo regional realiza uma auditoria do processo eleitoral.

No poder desde 2006, Morales não comentou publicamente as ações de Camacho, mas pediu aos seguidores que defendam sua reeleição e denunciou planos de golpe da oposição.

Denúncia de golpe

Em Washington, durante uma sessão extraordinária da OEA na segunda-feira, o chanceler da Bolívia, Diego Pary, denunciou um "golpe de Estado" em curso em seu país, promovido pela oposição.

"A agressão seletiva aos cidadãos e às forças de segurança, o apelo para que as Forças Armadas e a Polícia Nacional se rebelem e, finalmente, a convocação ao presidente Evo Morales para deixar o governo em 48 horas são claras evidências de que há um golpe de Estado a caminho que pretende fazer ruir a vida democrática da Bolívia por meio do caos e do enfrentamento", disse Pary.

No sábado, Camacho havia dado um ultimato de 48 horas ao presidente para que renunciasse, pedindo a intervenção das Forças Armadas na crise política. O prazo acabou na segunda-feira à noite sem nenhum efeito.

Camacho também pediu à população que "paralisasse" todas as repartições públicas da região de Santa Cruz. O país entrou na terceira semana de protestos, que já deixaram dois mortos e 140 feridos.

A oposição boliviana não aceita a auditoria da OEA, que considera uma "manobra diversionista para manter Morales no poder".

Os opositores afirmam que Morales está determinado a permanecer no poder a qualquer custo e ressaltam que o presidente não aceitou o resultado do referendo de 2016, no qual os bolivianos rejeitaram a possibilidade de reeleição de modo indeterminado. Uma decisão polêmica de 2017 de um tribunal constitucional permitiu uma nova candidatura.

Estudantes nas ruas

Milhares de estudantes e de jovens bolivianos, de diferentes lados do espectro político, foram às ruas protestar contra a polêmica reeleição de Evo Morales.

Universitários levaram o protesto para o centro de La Paz, a poucas quadras da "Grande Casa do Povo", uma moderna torre de 24 andares onde fica o gabinete de Morales.

"Mais do que tudo, esperamos que o governo se dê conta de que o povo está insatisfeito, que saiba que o povo está unido e que ninguém se rende", disse Allyson Requena, estudante de Arquitetura, de 20 anos.

"É triste. Deixa muitos jovens indignados, porque somos uma geração que, até hoje, viu apenas um presidente, que é o presidente Evo Morales Ayma", acrescentou Jennifer Quispe, de 18.

Os manifestantes da oposição usaram latas de lixo, pedras, veículos e até móveis velhos para bloquear ruas de La Paz e exigir a renúncia do presidente indígena de esquerda.

"Aqui tem um governo socialista que pretende ser um governo ditatorial, que pretende reprimir a população, e acreditamos que tem que haver uma esquerda mais democrática, mais ampla", disse Beto Acosta, da plataforma cidadã “Otra Izquierda es Posible” (Outra Esquerda é Possível). "É a segunda vez que Evo Morales quer roubar o voto da população. Isso estava para acontecer", acrescenta. 

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