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Colombia/ Conflito armado

Colômbia: líder do ELN diz que ataque foi resposta ao governo e pede acordo de paz

Para o principal negociador do Exército de Libertação Nacional, Pablo Beltrán, o ataque a uma academia de polícia na Colômbia foi uma resposta às ações do governo, embora os guerrilheiros não tenham renunciado a um acordo de paz.

Pablo Beltrán, chefe negociador do ELN, concede entrevista de Cuba.
Pablo Beltrán, chefe negociador do ELN, concede entrevista de Cuba. ADALBERTO ROQUE / AFP
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Na entrevista seguinte à AFP, Pablo Beltrán, que está em Havana, refere-se ao fim da mesa de diálogo decretada pelo presidente Iván Duque e seus pedidos para Cuba entregá-los aos tribunais.

Da Colômbia, o comandante Uriel, da Frente de Guerra Ocidental Omar Gomez, do ELN, enviou um áudio de whatsapp à mídia, em que diz:  “Lamentamos profundamente esta reação do governo colombiano. Estão truncando as possibilidades de eliminar oconflito armado”.

“Infelizmente o conflito armado traz mortes. Estamos na lógica que o mesmo governo colocou, a de falar em meio ao conflito. O Exército de Liberação Nacional sugeriu que os diálogos acontecessem em meio a um cessar-fogo bilateral, mas o poder estabelecido disse não. Esta lógica [do governo] acaba com as negociações, trunca as possibilidades de que atos como estes não voltem a acontecer e pelo contrário, é o que [o governo] quer que siga acontecendo", finaliza o comandante.

Pablo Beltrán, de Cuba, segue o mesmo raciocínio. Leia abaixo:

Por que o ELN comete um ato dessa natureza enquanto prega um diálogo?
Pablo Beltrán:
Esperamos seis meses. Nós liberamos soldados e policiais. No final do ano fizemos um cessar-fogo unilateral e nessa trégua recebemos ataques, bombardeios e, no final da trégua, houve combates, ataques e, dentro desses eventos militares, ocorreu o que você está me dizendo. (...) Espero que o diálogo (com o presidente Iván Duque) possa ser feito em meio a um cessar-fogo bilateral para construir confiança.

Há espaço para o diálogo continuar?
PB:
Na Colômbia, coisas terríveis acontecem todos os dias. A agenda de diálogo diz que o objetivo é acabar com o conflito armado interno. Esse objetivo deve ser mantido. Enquanto isso, claro, haverá combates.

Por que atacar uma escola de estudantes de polícia?
PB:
Em qualquer país do mundo, a polícia é um corpo de ordem interno. Mas na Colômbia há uma polícia militarizada. A população não quer isso. Isso é algo comum, faz parte do plano de contra-insurgência e é um objetivo.

O comitê central e a comissão de diálogo do ELN tinham informações de que esse ataque aconteceria?
PB:
Não, claro. Estamos em Cuba há oito meses.

Na Colômbia, fala-se de um setor do ELN insatisfeito com as negociações de paz, responsáveis pelo ataque. Existem dissidências?
PB:
Não. Os acordos que assinamos nesta mesa, por exemplo, os acordos de cessar-fogo, foram totalmente cumpridos por todas as frentes do ELN.

Este foi um ataque kamikaze, algo que não foi visto na América Latina. Eles planejaram dessa maneira ou foi um acidente?
PB:
Eu acho que essas coisas não se repetirão. Essa não é a política do ELN, nem esse tipo de modalidades e, se aconteceu uma vez, imagino que haverá alguma explicação operativa que desconheço.

Como seu retorno ocorrerá?
PB:
Em 2016 o protocolo foi assinado em caso de ruptura. (...) Garantias foram estipuladas para o ELN retornar às suas zonas e há estados que apoiam isso e esperamos que o governo garanta o retorno.

Duque disse que este protocolo foi assinado por outro governo e que não pode ser respeitado após o ataque. Ele também pediu a Cuba para entregá-los.
PB:
A paz para que isso funcione tem que ser uma política de Estado. O que avança com um governo deve ter continuidade com o outro. Assinamos com o Estado e exigimos que esse Estado cumpra com este protocolo de retorno do ELN.

Mas tem cidadãos protestando contra o ELN...
PB:
Nós vemos que muitos setores na Colômbia criticam esta ação militar do ELN, mas eles exigem que o processo de paz seja continuado. Essa é a realidade política hoje da Colômbia. (...) Com esse critério, de que o  que Santos assinou não se aplica ao Duque, onde ficam os acordos firmados com as FARC ?

Cuba, anfitriã, condenou o ataque, mas permanece em uma posição complicada depois de confiar em vocês.
PB:
O governo cubano foi explícito ao dizer que de bom grado ofereceu o território para sediar a mesa, mas nos pediram para não projetar qualquer tipo de atividades além daquelas do processo de paz. Fizemos isso e o que o ELN faz no território colombiano não precisa afetar um governo amigo da paz.

Cuba pediu para você se retirar?
PB:
O protocolo diz que há 15 dias para o retorno da delegação (expira em 2 de fevereiro) e vamos agir dentro desse protocolo.

Vocês já pensaram pedir asilo em outro lugar, então?
PB:
Descartamos qualquer possibilidade de asilo e manteremos o retorno dentro dos 15 dias contemplados no protocolo.

A Colômbia pediu a Cuba para entregá-los...
PB:
O Ministério das Relações Exteriores de Cuba disse que aplicará o protocolo e nós nos ateremos a isso.

Depois do que aconteceu, o que você diria aos colombianos que choram a morte de 20 estudantes da escola policial por um ataque do ELN?
PB:
Apesar dos ambientes e ataques bélicos, a decisão do ELN não é sair de um caminho de solução política. E, se neste momento houver uma situação mais tensa, temos a disposição de esperar e criar condições para a retomada das conversas.

Dado o que aconteceu, a imagem do ELN na comunidade internacional perdeu credibilidade...
PB:
É possível. Temos que persistir no diálogo. Na Colômbia existem respostas que não dependem desta delegação. Ninguém pode nos perguntar que, se nos atacarem, amarraremos nossos braços atrás de nós. Espero que a tensão diminua e que as conversas possam ser retomadas.

(Com informações da AFP)

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