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Obama/negros

Obama não teria como mudar questão racial em oito anos, dizem especialistas

É hora de balanço do governo de Barack Obama. E em relação aos negros americanos, as condições de vida melhoraram? Algumas análises dizem que não, apresentando números e estatistas da América negra antes e depois. Críticos alegam que os Estados Unidos estão mais racistas, aumentando o pessimismo entre os afro-americanos.

O presidente Barack Obama em jantar organizado pelo Congressional Black Caucus Foundation (que representa os membros afro-americanos), em 17/09/16
O presidente Barack Obama em jantar organizado pelo Congressional Black Caucus Foundation (que representa os membros afro-americanos), em 17/09/16 CHRIS KLEPONIS / AFP
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Para Carlos Alberto Medeiros Lima, pesquisador e professor de História na Universidade Federal do Paraná, “a situação dos negros não poderia ser muito afetada apenas por um governo. Negativamente, sim, mas positivamente é difícil”.

Crise de desigualdade social começou antes de Obama

Ele explica que as relações de trabalho e salário dos negros melhoraram nos EUA em momentos em que isso era mais propício para a população em geral, como nos anos 1940 e final dos anos 1960. “No momento em que os salários melhoravam, os processos políticos desencadeados pelos negros conseguiam fazer com que diminuísse um pouco a diferença salarial e o fosso entre os ganhos de trabalhadores negros e brancos”.

Lima lembra que o governo de Obama já se inicia na sequência de uma profunda crise em andamento, que aumenta a desigualdade e cria condições muito difíceis para a população em geral.

Os conflitos raciais ficaram mais explícitos

“É preciso destacar que a passagem do presidente Obama pela Casa Branca foi e continua sendo uma inspiração para todos os negros no mundo”, diz Dojival Vieira, que é advogado, jornalista e editor da agência de notícias Afropress, especializada no combate ao racismo há 12 anos.

“É verdade que os oito anos de seu governo não mudaram, ao contrário, explicitaram os conflitos raciais nos EUA. Mas, até isso é positivo, porque logo depois de sua eleição, começou-se a falar de que iniciava-se uma era pós-racial e o que se viu, foi exatamente o contrário: ficou evidente que também nos EUA, o racismo é um elemento estruturante da desigualdade social e está no centro de questões que dizem respeito à democracia nos termos em que entendemos democracia. Os conflitos e as mortes motivadas por conflitos raciais nos EUA se agudizaram no governo Obama, mas até isso é também importante porque ficou evidente que não adianta mascarar uma questão que está no centro desse debate”, diz Vieira.

“EUA continuam um país imperialista”

O advogado e jornalista acrescenta: “É importante deixar claro que uma coisa é o legado do primeiro presidente negro nos EUA, outra coisa é o sistema de poder norte-americano. Os EUA, como principal potência militar do planeta, evidentemente não se tornaram menos imperialistas no governo Obama, mas isso também é importante para situar o debate. Alguém esperava que em oito anos de governo se mudasse o perfil dos EUA como nação imperialista no mundo? Quem esperava isso, ou não conhece a natureza do imperialismo; ou tinha demasiadas ilusões, portanto, tinha uma visão extremamente fora da realidade”.

O jornalista paulistano Edson Cadette chegou nos Estados Unidos há mais de 25 anos. Ele não só foi testemunha dos anos Obama, como fez campanha pelo candidato democrata em 2008 e 2012. E não economiza elogios para o presidente americano: “Ele é fora de série, eloquente, tem um cabedal de conhecimentos muito grande. Só isso já faz o diferencial”, diz o correspondente da Afropress nos Estados Unidos.

Cadette explica que Obama chegou inclusive como um forasteiro para os negros dos EUA, pois seu pai era africano e a mãe, branca. Além disso, o presidente nasceu no Havaí e passou alguns anos na Indonésia. “Ele não tem o ‘background’ de ter crescido, de ter sido socializado na comunidade afroamericana”. Mas o fato de ser negro nunca foi contestado, lembra o jornalista. “Ele mergulhou a fundo na história, leu teóricos como Malcolm X, Alec Baldwin, e fez trabalhos comunitários, casou-se com uma negra”, cita.

Alguns esperavam mudanças radicais

“Por outro lado, houve uma certa frustração de uma pequena parte da comunidade, eu diria a classe operária, mais pobre, que tinha a esperança de que ele fosse mudar a situação do problema racial”, pondera Cadette. “É um problema enraizado na psiquê da sociedade americana, baseada na dicotomia negro-branco. Seria esperar muito que isso fosse resolvido de uma hora para outra”.

“Acho que o relacionamento entre brancos e negros melhorou muito”, diz o ativista, apesar de incidentes fatais envolvendo negros. “É preciso levar em conta que o país é regrado por leis e normas, por um congresso. Barack Obama não é um ditador, ele segue as regras do jogo. Esperar uma mudança radical do comportamento americano é um absurdo, isso não vai acontecer”.

 

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