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Linha Direta

ONU volta a condenar Mianmar por repressão à minoria muçulmana

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As Nações Unidas acusam Mianmar, ex-Birmânia, de estar promovendo uma limpeza étnica contra os Rohingya, a minoria muçulmana do país que é uma das mais perseguidas do mundo. A nova onda de repressão começou no início de outubro e já deixou 69 mortos.

Uma mulher muçulmana Rohingya e seu filho choram depois de serem pegos pela polícia das fronteiras de Bangladesh (BGB) enquanto atravessam ilegalmente um ponto de controle da fronteira em Cox's Bazar, Bangladesh, 21 de novembro de 2016.
Uma mulher muçulmana Rohingya e seu filho choram depois de serem pegos pela polícia das fronteiras de Bangladesh (BGB) enquanto atravessam ilegalmente um ponto de controle da fronteira em Cox's Bazar, Bangladesh, 21 de novembro de 2016. REUTERS/Mohammad Ponir Hossain TPX IMAGES OF THE DAY
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Sandro Fernandes, correspondente da RFI, especial de Yangon

A perseguição contra os Rohingya, uma minoria étnica muçulmana presente principalmente em Mianmar, antiga Birmânia, não é novidade. As repressões mais recentes aconteceram em 1977-78, em 1991-92 e em 2012.

Agora, os confrontos e posteriores perseguições começaram no início de outubro, depois de que um grupo de militantes Rohingya atacou um posto de segurança no norte do país, matando nove policiais birmaneses. As perseguições das forças armadas de Mianmar contra a minoria vieram em represália ao ataque.

Imagens de satélite divulgados pelo Observatório de Direitos Humanos mostram vilarejos Rohingya sendo incendiados, levando dezenas de milhares de pessoas a fugir pra outras regiões e países. Agências humanitárias e jornalistas foram proibidos de entrar na região e as estimativas apontam que pelo menos 150 mil pessoas estão sem acesso alimentar e médico. Ao menos 69 militantes do grupo já foram mortos no que as forças armadas de Mianmar chama de "operações de limpeza".

As autoridades birmanesas dizem que são os próprios Rohingya que estão incendiando suas casas.

Rohingya não são considerados cidadãos birmaneses

Mianmar não reconhece os Rohingya como cidadãos birmaneses. Eles podem viver apenas em seus vilarejos ou em campos de refugiados. Além disso, foram aprovadas leis que restrigem o número de filhos que eles podem ter e que também limitam os casamentos inter-religiosos.

Os Rohingya são considerados pelas Nações Unidas como uma das minorias étnicas mais perseguida em todo o mundo. Eles formam uma comunidade de 1,3 milhão de pessoas. A população total do Myanmar é de 51 milhões, sendo 88% de budistas

Prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi criticada por seus silêncio

A prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi é conselheira de Estado de Mianmar, cargo que equivale ao de primeiro-ministro. Ela tem sido criticada pela comunidade internacional por ter se calado inicialmente diante dessas perseguições contra a minoria étnica muçulmana do país. San Suu Kyi se limitou a dizer que investigações precisam ser feitas antes de acusar qualquer grupo.

Alguns analistas dizem que ela está indiferente às perseguições; outros acham que ela ainda tem um poder limitado, diante do controle das Forças Armadas do país. Alguns críticos chegaram a dizer que o silêncio de Aung San Suu Kyi está "legitimando o genocídio" dos Rohingya. A minoria étnica pede que a primeira-ministra assuma seu papel de líder e use o grande apoio e prestígio internacional que tem.

Em meio a essas críticas, Aung San cancelou ontem uma viagem que faria à Indonésia nesta semana. Jacarta, a capital indonésia, foi um dos locais onde houve protestos contra a perseguição dos Rohingya em Mianmar. A Indonésia é o país com o maior número absoluto de muçulmanos no mundo.
Aung San Suu Kyi é um símbolo internacional da resistência no país. Por isso, a pressão para que ela tome uma ação concreta contra essas perseguições é tão grande.

Repercussão internacional

A ONU, disse explicitamente que Mianmar está fazendo uma “limpeza étnica da minoria Rohingya. A instituição acusa as forças de segurança birmanesas de matar homens, crianças e violar mulheres dessa etnia.

A ACNUR, agência da ONU para refugiados, e a Anistia Internacional dizem que o governo birmanês colocou em curso uma "punição coletiva”, contra toda uma etnia, para punir ações violentas de um pequeno grupo.

Os EUA, que recentemente abandonaram as suas últimas sanções contra Mianmar, disseram estar preocupados com os recentes eventos. O departamento de Estado americano pediu uma investigação independente do caso e acesso aberto à mídia.

Houve ainda protestos contra as perseguições na Tailândia, na Indonésia e na Malásia, em frente às embaixadas de Mianmar.

A onda de repressão tem forçado os Rohingya a fugir para países vizinhos. Bangladesh, que inicialmente permitiu a entrada de refugiados da minoria, já começou a recusar também a entrada de Rohingya pela sua fronteira. No último domingo, seis barcos de migrantes foram devolvidos para Mianmar. Na segunda-feira (28), foram mais oito barcos, cada um deles com mais ou menos 13 pessoas.

Bangladesh teme que mais refugiados Rohingya fujam de Mianmar e já convocou o embaixador birmanês no país para demonstrar a “profunda preocupação” com a situação da minoria étnica.
A Anistia Internacional criticou o governo bengalês, que começou a repatriar à força milhares de pessoas em busca de asilo, o que é contra o direito internacional.

População de Mianmar não se interessa pelo problema

A grande maioria da população birmanesa acha que os Rohingya são imigrantes ilegais de Bangladesh. Ela mostra pouco interesse pelos problemas dessa minoria.

Algumas pessoas entrevistadas pela reportagem da RFI tentaram explicar essa situação. Um birmanês afirmou que “sempre que há um caso de violência cometido por um Rohingya, a mídia repete o assunto com ênfase”. E quando o agressor é budista, “o caso é apresentado como uma exceção”, garantiu. Isso, claro, só aumenta o estigma contra esse grupo.

No entanto, em geral, as pessoas não quiseram falar sobre esse assunto, que é um grande tabu no país, principalmente agora. As pessoas que aceitaram falar, pediram sigilo absoluto, por razões de segurança.

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