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Cuba

Show dos Rolling Stones termina com o embargo ao rock em Cuba

Um milhão de pessoas são esperadas para o primeiro show dos Rolling Stones em Cuba, na noite desta sexta-feira (25), um número imenso para o país que tem apenas 11 milhões de habitantes. A apresentação, que acontece em Havana, três dias após a histórica visita do presidente norte-americano, Barack Obama, representa muito mais que um evento de música internacional para os cubanos, mas um fim ao embargo ao rock em inglês no país, considerada nos anos 60 e 70 como um desvio ideológico e uma arma do imperialismo.

Os Rolling Stones chegam a Cuba para show nesta sexta-feira (25).
Os Rolling Stones chegam a Cuba para show nesta sexta-feira (25). REUTERS/Ivan Alvarado
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Com colaboração de Maria Carolina Piña, enviada especial da RFI a Havana

Um milhão de pessoas são esperadas para o primeiro show dos Rolling Stones em Cuba, na noite desta sexta-feira (25), um número imenso para o país que tem apenas 11 milhões de habitantes. A apresentação, que acontece em Havana, três dias após a histórica visita do presidente norte-americano, Barack Obama, representa muito mais que um evento de música internacional para os cubanos, mas um fim ao embargo ao rock em inglês no país, considerada nos anos 60 e 70 como um desvio ideológico e uma arma do imperialismo.

Embora esse tipo de restrição não seja mais efetiva hoje, Cuba continua sem referências ao que diz respeito ao rock, como em tantas outras áreas. A ponto que muitos cubanos acreditam que o show dos Rolling Stones essa noite vai marcar a história do país. Muitos, em tom de brincadeira, chegam a comparar a importância da vinda da banda britânica à visita de Obama.

Um dos dos roqueiros mais célébres de Cuba, Roberto Perdomo, contou à RFI que, nos anos 60, as autoridades cubanas promoveram uma verdadeira guerra ao rock "porque era a música do inimigo". "Obviamente havia um conflito direto com os Estados Unidos, então tudo era visto como uma ameaça. Não podíamos tocar rock em Cuba, o que obrigou toda a geração dos anos 60 a fazê-lo de maneira muito 'underground'. Mas, com os anos, esse preconceito foi acabando", contou.

Compositor, guitarrista e cantor, Perdomo foi estigmatizado por amar esse estilo musical desde jovem. Até hoje, ele acredita que o rock cubano segue vítima do bloqueio que sofreu há algumas décadas. As produtoras, por exemplo, não se interessaram pelo gênero apesar do surgimento de uma nova geração mais aberta de músicos.

Um show atrasado, mas com gosto de vingança

O show dos Stones chega com um certo atraso. O grupo foi criado em Londres, em 1962, gravou 22 álbums, vendeu 400 milhões de discos em todo o mundo e se apresentou nos quatro cantos do planeta ao longo de 53 anos de carreira. Mas, para Perdomo, a apresentação desta noite tem um certo gosto de vingança. "A vinda dos Stones à Cuba é linda. Muita gente que nem é fã de rock vai presenciá-los", diz.

De fato, as autoridades calculam que cerca de 500 mil pessoas de todos os cantos da ilha chegarão esta noite a Havana para participar do evento no complexo Ciudad Deportiva. O que também motiva a ida dos cubanos ao show é a gratuidade dele: muitos poucos poderiam ir se os ingressos fossem cobrados.

Evento sem divulgação

A atração será uma novidade para boa parte dos cubanos: o país recebeu pouquíssimos eventos internacionais até hoje. Embora a apresentação dos roqueiros ingleses tenha sido promovida pela televisão estatal, não há cartazes de divulgação nas ruas.

Cerca de 60 contêineres de material musical foram transportados em um Boeing 747, declararam os organizadores do evento à revista Billboard, o que dá uma ideia das dificuldades que os roqueiros cubanos precisam enfrentar.

"Temos muita dificuldade para conseguir equipamento", diz David Yabor, vocalista de 33 anos do grupo de rock cubano Aire Libre. "Não é fácil conseguir material profissional. Não há lojas onde comprar guitarras, amplificadores ou microfones", enumera.

Segundo ele, é difícil, inclusive, conseguir simples discos. Não há nenhuma possibilidade de entrar no iTunes, nem em lojas online de música. O acesso, muito limitado, à internet e o embargo tornam praticamente impossível aos cubanos sequer baixar os aplicativos. As lojas estatais de música só vendem produções cubanas. Para outros estilos, os cubanos costumam ir às lojas de discos piratas. Um cenário que talvez a apresentação dos Rolling Stones, nesta noite, possa ajudar a mudar.

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