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Argentina/Justiça

Começa na Argentina maior julgamento já realizado sobre crimes da ditadura

A Justiça argentina realiza a partir desta quarta-feira o maior julgamento já realizado por violações aos direitos humanos no período da ditadura militar (1976-1983). Entre os 68 acusados estão pilotos dos "voos da morte", durante os quais foram jogados ao mar centenas de opositores vivos.

O ex-oficial da marinha Alfredo Astiz é um dos réus do grande julgamento que começou nesta quarta-feira em Buenos Aires.
O ex-oficial da marinha Alfredo Astiz é um dos réus do grande julgamento que começou nesta quarta-feira em Buenos Aires. REUTERS
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Esse julgamento será o maior já realizado desde a anulação das leis de anistia em 2003, segundo um dos advogados de acusação, Rodolfo Yanzon. Ele explica que haverá cerca de 800 casos a examinar e 900 testemunhas convocadas. As audiências podem durar de um ano e meio a dois anos.

A parte mais emblemática será a que trata dos "voos da morte", durante os quais foram jogados vivos no rio da Prata centenas de opositores à ditadura. As vítimas eram drogadas e depois empurradas nuas do avião.

Entre as pessoas assassinadas desta maneira estão três das fundadoras do movimento das Mães da Praça de Maio, organização que se dedica à busca dos desaparecidos: Azucena Villaflor, Esther Ballestrino e Eugenia Ponce.

Seus corpos foram em seguida descobertos em uma praia e enterrados de forma anônima. Elas foram torturadas na Escola Mecânica da Marinha (Esma), como outras cinco mil pessoas durante a ditadura, das quais uma centena sobreviveram.

Entre os oito acusados pelos "voos da morte" está o ex-piloto argentino-holandês Julio Poch. Esse empregado da companhia aérea holandesa Transavia, filial da Air France e da KLM, havia sido preso em setembro de 2009 pela Espanha a pedido de Buenos Aires, e extraditado para a Argentina.

Sessenta outros acusados serão igualmente julgados por sua suposta participação nos crimes cometidos no centro de tortura da Esma. Entre eles está o ex-oficial de marinha Alfredo Astiz, apelidado "o anjo louro da morte", já condenado em 2011 à prisão perpétua por seu papel no desaparecimento das freiras francesas Alice Domon e Léonie Duquet em dezembro de 1977.

Juan Alemann, secretário de Estado para as Finanças durante a ditadura, também é julgado por ter assistido ao interrrogatório e acompanhado as torturas de Orlando Ruiz, suspeito na época de ter participado de um atentado contra Alemman e ainda hoje desaparecido.

"Esse é o primeiro processo nos quais serão estudados e debatidos os crimes cometidos durante o que chamamos de voos da morte. Coletamos documentos e provas suficientes contra um certo número de acusados. O mais conhecido deles é o capitão Alfredo Astiz, ele foi o emblema da tortura e dos sequestros. Há também médicos que trabalhavam dentro da escola mecânica do exército. Eles provocavam o parto das mulheres grávidas, davam injeções letais e drogavam aqueles que eram embarcados nos voos da morte", declarou à RFI o procurador geral Guillermo Friele.

A repressão na Argentina deixou 30 mil mortos ou desaparecidos, segundo as organizações de defesa dos direitos humanos. O centro de tortura da Esma se tornou um museu da Memória.

 

 

 

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